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Soja avança sobre o mercado do biodiesel
Produtores e esmagadores do grão põem em ação estratégia para prescindir de benefícios fiscais e "atropelar" cooperativas
Agroindústria investe em
um dos setores emergentes
da economia e um dos
programas mais badalados
do 2º mandato de Lula
Alan Marques - 31.jul.06/Folha Imagem
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Lula e a ministra Dilma Rousseff observam amostras de biodiesel |
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagoniza nesta semana um ato simbólico a favor
do grande capital do agronegócio e da soja como principal
matriz energética do biodiesel.
Amanhã, o petista desembarca no Estado de Mato Grosso e
dorme na fazenda do governador local, Blairo Maggi (ex-PPS), um dos chamados "reis
da soja" do Brasil. Na terça-feira, viaja até Barra dos Bugres
(150 km a oeste de Cuiabá), onde participa da inauguração de
uma usina de biodiesel cuja
produção inicial será apenas a
partir da soja.
Nas suas propagandas como
candidato à reeleição, Lula
apresentava o biodiesel como a
solução futura para a escassez
de petróleo e para a fixação dos
trabalhadores no campo. O governo e sua maior estatal, a Petrobras, divulgaram a intenção
do uso da mamona na produção
do novo combustível. Essa semente seria produzida por famílias de agricultores.
Até agora, todos os empreendimentos que estão surgindo
nessa área pretendem usar majoritariamente a soja para produzir o biodiesel. Só grandes
grupos econômicos investem, e
as poucas experiências com
agricultura familiar e mamona
começam a dar errado ou simplesmente não decolam, como
constatou a Folha num assentamento no Piauí, um dos mais
propagandeados pelo Planalto.
As esmagadoras de grãos já
começaram a instalar unidades
de produção do combustível e
pressionam o governo para que
antecipe o aumento da demanda pelo produto. A obrigatoriedade do uso está prevista para
começar em 2008, com 2% de
mistura do combustível vegetal
ao diesel de petróleo.
O governo cede ao lobby. Já
admite a possibilidade de antecipar a segunda parte do programa, inicialmente prevista
para 2013, na qual a mistura
obrigatória de biodiesel aumenta para 5%. A idéia é que a
obrigatoriedade de 5% possa
ser exigida em 2010. O mercado de biodiesel com 2% é de 1
bilhão de litros por ano. Com
5%, essa demanda cresce para
até 2,7 bilhões de litros por ano.
Uma das principais indústrias do setor, a ADM (multinacional norte-americana) vai
construir fábrica para a produção de biodiesel em Rondonópolis (MT) com uma capacidade anual de aproximadamente
180 milhões de litros. As brasileiras Granol (duas fábricas,
240 milhões de litros por ano),
Caramuru (uma fábrica, 100
milhões de litros por ano) e
Oleoplan (uma fábrica, 60 milhões de litros por ano) já estão
instaladas.
O BNDES avalia que os investimentos no setor podem
vir a se diversificar, mas reconhece que a maior parte dos
projetos de financiamento de
produção de biodiesel é de empresas que já atuam na produção de óleo de soja e querem
alongar a cadeia produtiva.
Até outubro deste ano, o
banco já havia contratado quatro projetos (dois da agroindústria da soja, com Granol e
Caramuru) e aceito como participante do programa de biodiesel mais quatro, em um total
de investimentos previsto de
R$ 464 milhões.
Os industriais da soja esperam que, inicialmente, essa
cultura responda por 90% do
fornecimento de matéria-prima para produção de biodiesel.
No médio prazo, teria entre
75% e 80% do mercado. O governo prevê que a soja fique
com menos de 60%.
Na inauguração da usina em
Barra dos Bugres, na terça-feira, Lula e Maggi participam de
um evento mais que simbólico.
O grupo Maggi fechou contrato para fornecimento de
óleo de soja para a Brasil Ecodiesel, empresa pioneira no
programa, apoiada pelo governo e que, supostamente, estaria
produzindo biodiesel a partir
da mamona produzida por cooperativas no Piauí.
Na verdade, de acordo com
relatório apresentado à CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) e ao mercado em geral, a
Brasil Ecodiesel já informa que
sua matéria-prima principal é
o óleo de soja (97,2% dos custos de produção, contra 2,1% da
mamona e 0,7% do algodão).
Incentivos
Além da indústria da soja, a
Petrobras deve ter participação
importante no mercado. A estatal está iniciando a construção de três usinas, analisa mais
15 projetos e tem como meta
produzir 855 milhões de litros
de biodiesel por ano até 2011.
O programa do governo é
montado com incentivos fiscais para estimular a participação da agricultura familiar. Mas
a agroindústria da soja já tem
uma estratégia para prescindir
desse incentivo: montar fábricas em locais distantes das refinarias da Petrobras, para que o
preço do combustível vegetal
fique mais competitivo em relação ao diesel de petróleo.
Segundo expectativa do próprio governo, a agricultura familiar deve ficar com cerca de
30% do negócio de fornecimento de matéria-prima para o
biodiesel, enquanto o agronegócio ficará com 70% restantes.
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