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Embrapa investe em expansão do biodiesel
Sílvio Crestana, presidente da instituição de pesquisa, alerta, porém, para não começar "construção da casa pelo telhado'
Tanto a questão ambiental como os problemas das certificações, que podem inviabilizar as exportações, merecem atenção, diz ele
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de 17 anos, a Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) vai ter um novo centro de pesquisa. Sílvio
Crestana, diretor-presidente
da instituição, atribui essa criação à "nova onda de desenvolvimento que está passando pelo
Brasil". Sem coordenação e
preocupação com a certificação
do produto, o Brasil poderá ficar de fora dessa que está sendo
chamada a civilização da biomassa, diz ele. O presidente da
Embrapa, em entrevista à Folha, também falou dos planos
para a Embrapa Agroenergia,
que está sendo estruturada.
FOLHA - Por que vocês resolveram
criar a Embrapa Agroenergia?
SÍLVIO CRESTANA - Em 17 anos,
esse vai ser o primeiro centro
que a Embrapa cria. Ela já existe na verdade como unidade de
pesquisa. Resolvemos fazer isso porque é estratégico para a
agricultura e para o Brasil. Diria até para o mundo. A Embrapa também precisa se organizar. Estamos diante de uma
oportunidade fantástica para
todos. Uma nova onda de desenvolvimento.
FOLHA - O biodiesel não está sendo
tratado como uma panacéia?
CRESTANA - Nós, muitas vezes,
como costumo dizer, começamos a construir a casa a partir
do telhado.
Não podemos esquecer a
produção de biomassa. Tem
que ter sementes, tem todo um
equilíbrio a ser encontrado.
FOLHA - O caminho natural será a
produção de biodiesel mais a partir
da soja?
CRESTANA - Qualquer afirmação
hoje é um pouco precipitada.
Temos um mapa onde é possível enxergar as vantagens comparativas e competitivas de
uma cultura sobre outra.
Claramente, no Norte você
tem o dendê, no Nordeste, o
mamão, a mamona e o pinhão-manso. Tem tradicionalmente
a cana já em Pernambuco e Alagoas. Se você vem descendo,
para o Centro-Oeste e para o
Sul, as opções do biodiesel passam pela soja, pelo girassol, pelo amendoim e pela mamona.
A soja foi pensada para alimentação animal e humana.
Ela produz só 20% de óleo. Vai
ser gerada com isso uma montanha de 80% que não é óleo.
Essa massa tem que ser transformada em energia ou em outra coisa. A complexidade é
enorme.
FOLHA - Em qual área a Agroenergia vai atuar efetivamente?
CRESTANA - Essa unidade, que
no futuro poderá ser tão importante como toda a Embrapa hoje, vai ter um cérebro em Brasília e braços em cada uma das regiões do Brasil.
FOLHA - Vai dar tempo de estruturar tudo isso antes que o tema biodiesel cresça ainda mais?
CRESTANA - As coisas estão
acontecendo tudo ao mesmo
tempo, essa é a realidade. É um
bom sinal, mas não é também.
O bom sinal é que essa civilização da biomassa veio para ficar.
FOLHA - A partir de 2008, o uso do
biodiesel será compulsório em 2%
para os veículos que usam o óleo
diesel convencional. A meta de produção será atingida?
CRESTANA - Quanto ao B2 [nome do combustível com 2% de
biodiesel e 98% de óleo diesel],
vamos precisar de 1 bilhão de litros de biodiesel. As projeções
permitem avaliar que vai ser
possível cumprir essa meta. Vai
depender ainda do crescimento
da economia e do preço.
FOLHA - A preocupação ambiental
está contemplada nos processos de
expansão do biodiesel?
CRESTANA - Esse tem sido um
grande quebra-cabeças na Embrapa. O grande jogo é aproveitar os 50 milhões de pastagens
pouco produtivas que temos.
Nos próximos 30 anos, para
atender toda a demanda -e será necessária a produção de
100 bilhões de litros de biodiesel-, precisaremos de 40 milhões de hectares. Temos tecnologia para dar esse salto sem
problemas.
A questão pega no investimento. Para recuperar 20 milhões de hectares pouco produtivos, são necessários R$ 40 bilhões. Ainda é mais barato derrubar floresta.
FOLHA - A falta de padrão do biodiesel brasileiro não pode gerar problemas na exportação?
CRESTANA - Lá fora, existem
duas críticas ao Brasil. A primeira é sobre a falta de garantia
de ter o produto, porque uma
mesma usina pode produzir álcool e açúcar. Isso é até uma
questão de soberania nacional.
Grupos de fora estão interessados em comprar terras aqui para eliminar esse problema.
A outra é sobre a certificação.
A Holanda, via União Européia,
está buscando criar um padrão
de combustível renovável. Nisso vão contar as variáveis preço
e qualidade e pelo menos mais
outras duas: a ambiental (ausência de poluição na água da
usina, falta de queimada, preservação da floresta) e a social.
Trabalho escravo ou de menores não serão aceitos.
As propriedades que estiverem produzindo fora desses padrões não vão conseguir exportar. Vão fazer o investimento e
não vão conseguir vender depois. Temos que nos preocupar
com esse desafio da "acreditação" agora também.
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