São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Lula 1 perde até para FHC 2


Economia brasileira sob o PT vai crescer ainda menos que a do tucanato em relação ao desempenho do PIB mundial


LULA ESTÁ AFLITO , não se sabe bem se ansioso como crianças nas vésperas de Natal ou se "invocado" como a rainha de Copas, ameaçando decapitações caso a cegonha, as renas de Noel ou sabe-se lá que figura fantástica não entregue um crescimento de 5% no ano que vem. O que será da ansiedade luliana se contarem ao presidente que o desempenho relativo da economia do Brasil sob seu primeiro governo vai ser ainda pior que o do segundo e terminal governo de FHC?
No primeiro FHC (1995-98), o Brasil cresceu o equivalente a 70% do crescimento mundial. No segundo FHC (1999-2002), a economia planou mais raso, a 60% do que crescia o planeta. Para que o governo Lula empate com o segundo FHC, será preciso crescer uns 3,8% neste ano. Na sexta-feira, economistas da Febraban, o supersindicato dos bancos, também passaram a estimar em 3% a alta do PIB 2006. O crescimento luliano seria assim equivalente a 56% do desempenho mundial.
A que serve essa brincadeira de aritmética ponderada, além de indicar mais uma vez que o Brasil, em vez de país do futuro, parece ser a Terra do Nunca, onde vivem meninos perdidos, índios bobeados e piratas? "Nunca mais neste país" haverá crescimento de verdade?
A gente fica estupidificado com o nível da discussão. Como em todo começo de governo desde José Sarney (1985-1990), a nau pirata do PMDB sai de Tortuga e desembarca no Planalto. Lula diz que vai lhes dar mais cartas de corso desta vez. Bucaneiros de todos os partidos, até os do PSDB e do PFL, tentam entrar no barco do governo. Dizem que é para garantir a "maioria parlamentar", a "governabilidade". Mas não soa mais como uma ameaça?
Além dos desclassificados de sempre, há mais lunáticos no Congresso brincando de retalhar o Orçamento já esfarrapado, dando mais dinheiro para emendas parlamentares individuais, os botes da corrupção, como a dos sanguessugas. Outras figuras indizíveis querem dar desconto de imposto para classe média e ricos, isso com as contas públicas já estouradas e com miseráveis aos montes ainda à espera do caraminguá social.
Não haveria nada de novo aí também, pois o ambiente do Congresso mais e mais se parece com o do cerrado do Planalto, onde a vegetação é baixa ou rasteira, e de casca grossa. Mas a impressão agora é que não sobrou ao menos uma dúzia de pessoas sensatas e de autoridade para colocar ordem na malta de saqueadores do dinheiro, da administração, do bom senso e do futuro.
Do governo ele mesmo soube-se na sexta-feira que houve uma reunião de presidente e ministros na qual, depois de seis horas (ou quatro anos?), descobriu-se que investimentos já programados, como em energia e transporte, não saem do papel por idiotia administrativa elementar. Voilá! Hello! Bom dia!
Política, com "p" maior, não se resume a isso, claro, mas não há sinal no governo de um núcleo tecnoburocrático organizado, ao menos. Gente instruída e sensata, que dê diretrizes básicas e congruentes (qualquer diretriz congruente!). Que faça o presidente entender os disparates do seu plano econômico, que não respeita nem leis da física (o dinheiro tem de sair do cofre do governo e também ficar lá, segundo Lula).

vinit@uol.com.br


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