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Aquisições continuarão em alta, diz analista
UBS afirma que cenário global ainda é positivo para fusões, inclusive no Brasil
Analista prevê desaceleração
da economia mundial em
2008 e perda de importância
dos EUA, mas vislumbra
recuperação no ano seguinte
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Fusões e aquisições continuarão em alta, apesar da piora
do cenário econômico global,
de acordo com relatório publicado mundialmente na sexta-feira pelo UBS Wealth Management Research.
"Empresas de mercados
emergentes, inclusive do Brasil, têm caixa para investimentos. Elas têm sido alvo de países
desenvolvidos, mas crescem
bastante as compras de empresas de mercados emergentes no
exterior", afirma Juliana Braga,
analista do UBS Wealth Management Research.
Leia, a seguir, trechos de entrevista concedida à Folha.
FOLHA - O relatório prevê uma piora da economia global. Quão grave
será essa deterioração, nas projeções do banco, e como as aquisições
continuarão num ritmo positivo?
JULIANA BRAGA - O mundo todo
vai se desacelerar. A economia
norte-americana já se desacelerou neste ano [a previsão da
instituição financeira é de crescimento de 2% do Produto Interno Bruto, contra 2,9% no
ano passado, e de alta de 1,8%
do PIB em 2008 e de 2,3% em
2009]. No passado, esse desaquecimento significaria que todo mundo acompanharia. Agora, principalmente a Ásia, apesar de também se desacelerar,
deve continuar crescendo a
uma taxa muito alta. Europa e
Japão, também. O mesmo vale
para a América Latina.
Em resumo: o mundo cresce
menos, mas cresce bastante. Os
Estados Unidos perdem importância dentro da taxa de crescimento global. Há uma correlação grande entre a Bolsa, a taxa
de crescimento do PIB e as
"M&As" ["mergers and acquisitions", fusões e aquisições,
em inglês]. Os setores financeiros e de commodities (mineração, siderurgia, papel e celulose) ainda são fragmentados e
devem passar por consolidação. No Brasil, também há espaço para esses setores.
O ano de 2008 será certamente pior que o de 2007, mas
o mundo ainda cresce. O objetivo desse relatório é mostrar
àqueles que estão muito pessimistas, e dizem que as Bolsas
estão caras demais, que há essa
correlação das ações com a atividade real. Não está mais tão
fácil surfar na onda, como em
2006 e no primeiro semestre
deste ano, a volatilidade será
maior, mas o mundo ainda tem
dinâmica positiva. E 2009, dependendo das decisões dos
bancos centrais, será melhor.
FOLHA - E o Brasil?
BRAGA - O Brasil chega atrasado ao ciclo. Outros países já
passaram pela redução de juros
e nós ainda estamos nesse processo, o que é ruim. Poderíamos ter nos beneficiado da atividade mundial crescente, com
juros baixos, e do mercado de
aquisições. O Brasil vai caminhando no espectro de risco,
como fizeram outros países: a
Bolsa vem crescendo, o país já
pôs um pé no mercado imobiliário, mas ainda quase não há
"private equity" [fundos que
adquirem participação em empresas]. No exterior, esses fundos tomam financiamento e,
somado ao dinheiro do cotista,
compram ativos desvalorizados. Vendem depois, pagam o
financiamento e dão resultado
ao cotista. Essas aquisições
com dívida não encontrarão
ambiente tão favorável como
no último ano e meio, o que significa que as empresas de "private equity" buscarão novas estratégias. No Brasil, não há alavancagem. Ainda se procura
empresa pequena para investir,
como foi o caso da Dasa.
FOLHA - Tem crescido a internacionalização de companhias, inclusive
brasileiras. Qual a perspectiva para
mercados emergentes, especialmente do Brasil?
BRAGA - Os emergentes passaram a fazer parte das carteiras
de investidores internacionais.
Periferia a gente ainda é, mas
existe muito interesse por mercados emergentes, que crescem
mais rápido do que os desenvolvidos. Os grandes ainda são
China, Rússia, Índia, e nas
Américas, México e Brasil. México ainda à frente. Com a internacionalização, as operações entre os países devem
crescer. Os mercados emergentes têm sido alvo de países desenvolvidos, mas crescem bastante as compras de empresas
de países emergentes em países
desenvolvidos. Essas companhias de emergentes estão com
caixa para fazer aquisições. A
expectativa é que usem caixa
para aquisições e investimentos para aumento da capacidade instalada -muitos já estão
fazendo. As aquisições [de estrangeiros no Brasil] estão
muito maiores que no passado.
E de brasileiras no exterior
também. A JBS-Friboi comprou a Swift norte-americana.
A Perdigão também deu um
passo expressivo ao adquirir a
Eleva [ex-Avipal].
FOLHA - Discutiu-se a possibilidade
de criação de um fundo soberano
brasileiro. O relatório mostra uma
influência crescente desses fundos...
BRAGA - Países com caixa
criam um fundo para investir
como qualquer investidor estrangeiro que toma risco, em
vez de deixar recursos depositados em fundos de baixa rentabilidade, baixo risco e alta liqüidez, como em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Já
são US$ 2,5 trilhões em fundos
soberanos. Os soberanos já são
o quarto colocado, atrás dos
fundos de pensão, dos fundos
mútuos e das reservas de bancos centrais.
O Brasil ainda não tem um,
mas já vai bater no final deste
ano em US$ 180 bilhões de reservas internacionais. Isso custa caro, o país tem de emitir dívida, a taxa alta, e aplica no Tesouro norte-americano, que
rende pouco. Por que não investir agora em algo que renda
bastante, ainda que com mais
risco?
FOLHA - Que barreiras protecionistas podem prejudicar fusões e aquisições no Brasil?
BRAGA - A Chicago Mercantile
Exchange comprou 10% da
BM&F [Bolsa de Mercadorias
& Futuros] neste ano. Se quisesse comprá-la toda, a CVM
brasileira [Comissão de Valores Mobiliários], o Cade [Conselho Administrativo de Defesa
Econômica], a sociedade permitiriam que uma instituição
estrangeira fosse detentora da
Bolsa no Brasil? As barreiras
são de ordem regulatória e política. A Inco teve de negociar
com sindicatos canadenses [na
negociação com a Vale do Rio
Doce]. O Cade permitiria que
um fundo soberano -o da China tem US$ 300 bilhões- comprasse a Vale, que já é quase
monopolista? Um Estado poderá controlar quase um setor
de outro país?
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