São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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Aquisições continuarão em alta, diz analista

UBS afirma que cenário global ainda é positivo para fusões, inclusive no Brasil

Analista prevê desaceleração da economia mundial em 2008 e perda de importância dos EUA, mas vislumbra recuperação no ano seguinte

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Fusões e aquisições continuarão em alta, apesar da piora do cenário econômico global, de acordo com relatório publicado mundialmente na sexta-feira pelo UBS Wealth Management Research. "Empresas de mercados emergentes, inclusive do Brasil, têm caixa para investimentos. Elas têm sido alvo de países desenvolvidos, mas crescem bastante as compras de empresas de mercados emergentes no exterior", afirma Juliana Braga, analista do UBS Wealth Management Research. Leia, a seguir, trechos de entrevista concedida à Folha.

 

FOLHA - O relatório prevê uma piora da economia global. Quão grave será essa deterioração, nas projeções do banco, e como as aquisições continuarão num ritmo positivo?
JULIANA BRAGA
- O mundo todo vai se desacelerar. A economia norte-americana já se desacelerou neste ano [a previsão da instituição financeira é de crescimento de 2% do Produto Interno Bruto, contra 2,9% no ano passado, e de alta de 1,8% do PIB em 2008 e de 2,3% em 2009]. No passado, esse desaquecimento significaria que todo mundo acompanharia. Agora, principalmente a Ásia, apesar de também se desacelerar, deve continuar crescendo a uma taxa muito alta. Europa e Japão, também. O mesmo vale para a América Latina.
Em resumo: o mundo cresce menos, mas cresce bastante. Os Estados Unidos perdem importância dentro da taxa de crescimento global. Há uma correlação grande entre a Bolsa, a taxa de crescimento do PIB e as "M&As" ["mergers and acquisitions", fusões e aquisições, em inglês]. Os setores financeiros e de commodities (mineração, siderurgia, papel e celulose) ainda são fragmentados e devem passar por consolidação. No Brasil, também há espaço para esses setores.
O ano de 2008 será certamente pior que o de 2007, mas o mundo ainda cresce. O objetivo desse relatório é mostrar àqueles que estão muito pessimistas, e dizem que as Bolsas estão caras demais, que há essa correlação das ações com a atividade real. Não está mais tão fácil surfar na onda, como em 2006 e no primeiro semestre deste ano, a volatilidade será maior, mas o mundo ainda tem dinâmica positiva. E 2009, dependendo das decisões dos bancos centrais, será melhor.

FOLHA - E o Brasil?
BRAGA
- O Brasil chega atrasado ao ciclo. Outros países já passaram pela redução de juros e nós ainda estamos nesse processo, o que é ruim. Poderíamos ter nos beneficiado da atividade mundial crescente, com juros baixos, e do mercado de aquisições. O Brasil vai caminhando no espectro de risco, como fizeram outros países: a Bolsa vem crescendo, o país já pôs um pé no mercado imobiliário, mas ainda quase não há "private equity" [fundos que adquirem participação em empresas]. No exterior, esses fundos tomam financiamento e, somado ao dinheiro do cotista, compram ativos desvalorizados. Vendem depois, pagam o financiamento e dão resultado ao cotista. Essas aquisições com dívida não encontrarão ambiente tão favorável como no último ano e meio, o que significa que as empresas de "private equity" buscarão novas estratégias. No Brasil, não há alavancagem. Ainda se procura empresa pequena para investir, como foi o caso da Dasa.

FOLHA - Tem crescido a internacionalização de companhias, inclusive brasileiras. Qual a perspectiva para mercados emergentes, especialmente do Brasil?
BRAGA
- Os emergentes passaram a fazer parte das carteiras de investidores internacionais. Periferia a gente ainda é, mas existe muito interesse por mercados emergentes, que crescem mais rápido do que os desenvolvidos. Os grandes ainda são China, Rússia, Índia, e nas Américas, México e Brasil. México ainda à frente. Com a internacionalização, as operações entre os países devem crescer. Os mercados emergentes têm sido alvo de países desenvolvidos, mas crescem bastante as compras de empresas de países emergentes em países desenvolvidos. Essas companhias de emergentes estão com caixa para fazer aquisições. A expectativa é que usem caixa para aquisições e investimentos para aumento da capacidade instalada -muitos já estão fazendo. As aquisições [de estrangeiros no Brasil] estão muito maiores que no passado.
E de brasileiras no exterior também. A JBS-Friboi comprou a Swift norte-americana. A Perdigão também deu um passo expressivo ao adquirir a Eleva [ex-Avipal].

FOLHA - Discutiu-se a possibilidade de criação de um fundo soberano brasileiro. O relatório mostra uma influência crescente desses fundos...
BRAGA
- Países com caixa criam um fundo para investir como qualquer investidor estrangeiro que toma risco, em vez de deixar recursos depositados em fundos de baixa rentabilidade, baixo risco e alta liqüidez, como em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Já são US$ 2,5 trilhões em fundos soberanos. Os soberanos já são o quarto colocado, atrás dos fundos de pensão, dos fundos mútuos e das reservas de bancos centrais.
O Brasil ainda não tem um, mas já vai bater no final deste ano em US$ 180 bilhões de reservas internacionais. Isso custa caro, o país tem de emitir dívida, a taxa alta, e aplica no Tesouro norte-americano, que rende pouco. Por que não investir agora em algo que renda bastante, ainda que com mais risco?

FOLHA - Que barreiras protecionistas podem prejudicar fusões e aquisições no Brasil?
BRAGA
- A Chicago Mercantile Exchange comprou 10% da BM&F [Bolsa de Mercadorias & Futuros] neste ano. Se quisesse comprá-la toda, a CVM brasileira [Comissão de Valores Mobiliários], o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica], a sociedade permitiriam que uma instituição estrangeira fosse detentora da Bolsa no Brasil? As barreiras são de ordem regulatória e política. A Inco teve de negociar com sindicatos canadenses [na negociação com a Vale do Rio Doce]. O Cade permitiria que um fundo soberano -o da China tem US$ 300 bilhões- comprasse a Vale, que já é quase monopolista? Um Estado poderá controlar quase um setor de outro país?


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