São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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Bancos públicos duelam por folha salarial

BB e Caixa travam disputa por administração de contas de governos, e Tesouro, controlador das instituições, paga a conta

Caixa Econômica cobriu proposta do Banco do Brasil e pagou R$ 87,4 mi pelo controle da folha da Prefeitura de Porto Alegre

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A disputa pela administração da folha de salários de prefeituras e governos estaduais deixou de ser exclusivamente entre bancos privados e públicos, virando problema de governo.
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal travam uma batalha silenciosa por esse mercado em que o maior perdedor é o Tesouro, controlador das duas instituições.
Em outubro, a Caixa pagou R$ 87,4 milhões para obter, por cinco anos, o controle da folha de pagamento do funcionários da Prefeitura de Porto Alegre.
Para fechar o contrato, o banco cobriu a proposta do BB. Como as duas instituições são federais, no fim das contas a União pagou mais para desbancar ela própria na disputa.
Nenhum dos dois bancos confirma o valor desembolsado a mais. Sabe-se apenas que a proposta vencedora foi "significativamente" superior à do BB. Como instituições públicas, BB e Caixa não entram nas licitações feitas por prefeitos e governadores, processos que têm mais transparência. Os contratos fechados são negociados diretamente, o que abre espaço para acertos políticos.
Segundo a Folha apurou, Porto Alegre não é o único caso. A ameaça de trocar o BB pela Caixa, de acordo com um integrante da equipe econômica, vem se tornando instrumento de barganha de prefeitos que já têm contrato fechado com o BB e pleiteiam novos benefícios. O BB tem contrato com mais de 100 prefeituras e 12 Estados. A Caixa acertou com 154 prefeitos e dois governadores.

Próprio veneno
Com a disputa, o BB, acusado pelos concorrentes privados de ser favorecido nas negociações com Estados e municípios, estaria provando do próprio veneno. A insatisfação do BB com a situação já chegou ao controlador e gerou debate no governo sobre a situação.
Por ter ações em Bolsa, avalia-se na área econômica que o BB não pode ser impedido de entrar em disputas com a Caixa, porque isso seria interpretado como ingerência política prejudicial a minoritários.
Assim, alegam, caberia à Caixa (controlada 100% pela União) brigar com o BB para não encarecer o contrato. O problema, segundo a Folha apurou, é que não há definição clara sobre o papel da Caixa em mercados competitivos.
A direção atual tem buscado melhorar a eficiência do banco e, por isso, quer explorar também segmentos lucrativos do mercado, como o dos servidores públicos. Só com a Prefeitura de Porto Alegre, a Caixa ganhou 33 mil clientes cativos e com estabilidade de emprego.
"Não vemos o BB como um concorrente. Olhamos as condições que temos na região e o que podemos oferecer. A Caixa tem instrumentos de precificação e sabe até quanto pode ir [numa disputa] preservando o equilíbrio financeiro", diz Deusdina dos Reis Pereira, superintendente nacional de pessoa jurídica da Caixa.
Para não polemizar com o BB, ela considera essa uma disputa normal de mercado.
O problema, para os técnicos, é que, apesar da melhora nos indicadores, a Caixa tem função social importante e depende do controlador para garantir o desempenho.
Para competir como um banco comercial, a Caixa teria de ajustar a sua estrutura. O banco tem mais funcionários, custo por agência e gastos com despesas administrativas maiores que o BB e os concorrentes privados. Além disso, depende do "monopólio" do FGTS, que representa cerca de 10% dos ativos totais.


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