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Bancos públicos duelam por folha salarial
BB e Caixa travam disputa por administração de contas de governos, e Tesouro, controlador das instituições, paga a conta
Caixa Econômica cobriu
proposta do Banco do Brasil
e pagou R$ 87,4 mi pelo
controle da folha da
Prefeitura de Porto Alegre
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A disputa pela administração
da folha de salários de prefeituras e governos estaduais deixou
de ser exclusivamente entre
bancos privados e públicos, virando problema de governo.
O Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal travam
uma batalha silenciosa por esse
mercado em que o maior perdedor é o Tesouro, controlador
das duas instituições.
Em outubro, a Caixa pagou
R$ 87,4 milhões para obter, por
cinco anos, o controle da folha
de pagamento do funcionários
da Prefeitura de Porto Alegre.
Para fechar o contrato, o banco cobriu a proposta do BB. Como as duas instituições são federais, no fim das contas a União pagou mais para desbancar ela própria na disputa.
Nenhum dos dois bancos
confirma o valor desembolsado
a mais. Sabe-se apenas que a
proposta vencedora foi "significativamente" superior à do BB.
Como instituições públicas, BB
e Caixa não entram nas licitações feitas por prefeitos e governadores, processos que têm
mais transparência. Os contratos fechados são negociados diretamente, o que abre espaço
para acertos políticos.
Segundo a Folha apurou,
Porto Alegre não é o único caso. A ameaça de trocar o BB pela Caixa, de acordo com um integrante da equipe econômica,
vem se tornando instrumento
de barganha de prefeitos que já
têm contrato fechado com o BB
e pleiteiam novos benefícios. O
BB tem contrato com mais de
100 prefeituras e 12 Estados. A
Caixa acertou com 154 prefeitos e dois governadores.
Próprio veneno
Com a disputa, o BB, acusado
pelos concorrentes privados de
ser favorecido nas negociações
com Estados e municípios, estaria provando do próprio veneno. A insatisfação do BB com
a situação já chegou ao controlador e gerou debate no governo sobre a situação.
Por ter ações em Bolsa, avalia-se na área econômica que o
BB não pode ser impedido de
entrar em disputas com a Caixa, porque isso seria interpretado como ingerência política
prejudicial a minoritários.
Assim, alegam, caberia à Caixa (controlada 100% pela
União) brigar com o BB para
não encarecer o contrato. O
problema, segundo a Folha
apurou, é que não há definição
clara sobre o papel da Caixa em
mercados competitivos.
A direção atual tem buscado
melhorar a eficiência do banco
e, por isso, quer explorar também segmentos lucrativos do
mercado, como o dos servidores públicos. Só com a Prefeitura de Porto Alegre, a Caixa ganhou 33 mil clientes cativos e
com estabilidade de emprego.
"Não vemos o BB como um
concorrente. Olhamos as condições que temos na região e o
que podemos oferecer. A Caixa
tem instrumentos de precificação e sabe até quanto pode ir
[numa disputa] preservando o
equilíbrio financeiro", diz
Deusdina dos Reis Pereira, superintendente nacional de pessoa jurídica da Caixa.
Para não polemizar com o
BB, ela considera essa uma disputa normal de mercado.
O problema, para os técnicos, é que, apesar da melhora
nos indicadores, a Caixa tem
função social importante e depende do controlador para garantir o desempenho.
Para competir como um banco comercial, a Caixa teria de
ajustar a sua estrutura. O banco tem mais funcionários, custo por agência e gastos com
despesas administrativas
maiores que o BB e os concorrentes privados. Além disso,
depende do "monopólio" do
FGTS, que representa cerca de
10% dos ativos totais.
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