São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

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Lula critica empresários que demitem

Para presidente, empresa deve usar lucros acumulados para manutenção de emprego em tempo de crise econômica

Petista afirma que governo não aceita flexibilizar leis trabalhistas, mas que pode facilitar entendimento entre empresa e empregado

SIMONE IGLESIAS
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem um recado claro aos empresários: o governo não irá se engajar na flexibilização das relações de trabalho, não aceita pagar seguro-desemprego durante suspensão temporária de contrato de trabalho e não vê motivo para demissões neste momento.
Em reunião com Lula na semana passada, os presidentes da Vale, Roger Agnelli, e da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, defenderam mudanças na legislação para permitir a suspensão de salários por dez meses, período em que o empregado receberia só seguro-desemprego, pago pelo governo, e manteria o vínculo empregatício.
Grandes empresas como Vale e CSN já anunciaram demissões nas últimas semanas, com o agravamento da crise, e muitas outras deram férias coletivas.
"Eu acho que é muito engraçado. Os empresários poderiam pagar [os funcionários] com parte dos lucros que acumularam. O governo não vai deixar de assumir a responsabilidade de cuidar dos trabalhadores, mas nenhum empresário tem motivo para mandar trabalhador embora", disse Lula.
E acrescentou: "É só analisar os números do comércio, é só ver como está o final de ano, o que aconteceu na feira do automóvel no fim de semana passado. O papel do empresário agora não é ficar encontrando um jeito de continuar mantendo o mesmo lucro, mas trabalhar de forma muito rápida junto com o governo para que a gente evite que a crise chegue a toda a sociedade", afirmou.
Lula disse que está "pronto" para se envolver nas negociações, mas como forma de auxiliar o lado mais fraco: "Se em alguma situação os trabalhadores quiserem a participação ou a intermediação do governo, estaremos prontos", afirmou, mas insistiu em dizer que o "problema" é de trabalhadores e empresários, não do governo.
"Eu não sei de onde saiu essa notícia [que o governo vai propor a flexibilização da legislação trabalhista]. De vez em quando alguém cria uma coisa e passa a ter o tom de verdade. Não fiquem esperando que o governo faça tudo. O governo vai fazer de tudo para evitar que a crise não atinja o mercado de trabalho. Agora, se por qualquer circunstância uma empresa tiver em crise, essa empresa e o sindicato se coloquem de acordo e, com muita maturidade, evitem que os trabalhadores sejam penalizados", afirmou.
Depois de descartar o pedido dos empresários por mais flexibilidade nas relações de trabalho, Lula defendeu que o governo americano adote medidas para impulsionar a economia real e recomendou a adoção do Bolsa Família pelos EUA.
"Até agora a única coisa que eu sei é que eles [EUA] estão colocando dinheiro para salvar banco. Se esse dinheiro fosse colocado para a indústria, agricultura, para os pobres, criasse Bolsa Família, certamente não teríamos a crise se aprofundando", disse Lula, em entrevista ao lado do dirigente cubano, Raúl Castro.

Reação
Monteiro Neto, da CNI, afirmou que o debate sobre a flexibilização dos direitos trabalhistas deve se manter na agenda do país independentemente do apoio do governo. "Nunca pedimos tutela do governo. Isso precisa ser discutido entre empresários e trabalhadores. A flexibilização é uma questão que se impõe pela situação atual, porque, obviamente, não interessa a ninguém demitir."
Ele admite que, com o apoio do governo, a questão ganharia maior significado. Para Monteiro, porém, ainda há espaço na legislação para negociar formas de flexibilidade com o sentido de garantir empregos.

Colaborou a Reportagem Local


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