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CSN e Camargo Corrêa disputam cimenteira
CSN faz oferta hostil de R$ 10 bi por controle da companhia Cimpor, enquanto Camargo Corrêa negocia parceria com os sócios portugueses
CSN ingressou no setor há 6 meses; compra de empresa europeia colocaria brasileiros entre os maiores produtores de cimento no mundo
AGNALDO BRITO
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) pode se tornar,
seis meses depois de abrir sua
primeira fábrica de cimento no
Brasil, uma das 12 maiores cimenteiras do mundo, com presença em 13 países, entre eles
China, Turquia e África do Sul.
Ontem a empresa anunciou
oferta pela companhia Cimpor,
a maior empresa privada não financeira portuguesa.
Para concretizar o negócio,
no entanto, terá de vencer uma
disputa com a Camargo Corrêa,
que também admitiu, ontem,
negociar uma aliança com alguns acionistas portugueses.
Em nota, a Camargo Corrêa
afirma que "conversou com vários acionistas da Cimpor para
demonstrar seu interesse em
participar, com os sócios portugueses, da empresa". Diz ainda
que, apesar da oferta pública da
CSN, "segue firme na sua disposição de buscar, com os acionistas da Cimpor, uma equação
que contemple os interesses
dos acionistas".
Do lado da CSN, a empresa
anunciou ontem uma oferta
hostil no valor de 3,86 bilhões
(R$ 9,9 bilhões) pelas ações da
Cimpor (Cimentos de Portugal), hoje a 12ª companhia do
mundo, com uma capacidade
anual de mais de 30 milhões de
toneladas de cimento.
A oferta está condicionada
ao cumprimento das regras impostas pelas autoridades portuguesas do mercado de capitais e à aceitação incondicional
da oferta pelo maioria dos acionistas. Em comunicado, a CSN
afirma que a oferta de 5,75
(R$ 14,70) por ação, 5% acima
do valor de mercado da quinta-feira, só será confirmada se
50% mais um dos acionistas
aderirem à proposta.
A operação financeira para
sustentar essa ofensiva do empresário brasileiro Benjamin
Steinbruch parece estar bem
montada, afirmam analistas. O
empresário anunciou, por
meio de nota, que a companhia
poderá bancar a oferta com capital próprio, caso a adesão não
alcance 100% do capital. A CSN
tem em caixa US$ 3 bilhões.
Se a proposta atrair mais interessados, a empresa afirma
que poderá contratar operações de empréstimo-ponte para complementar o capital necessário à aquisição. A resposta
dos acionistas a partir de agora
é que determinará o desenho
final da engenharia financeira.
Segundo especialistas, a posição da Cimpor no mundo torna a operação interessante.
Com uma dívida líquida de
1,8 bilhão até o terceiro trimestre, a cimenteira portuguesa
tem uma situação financeira
considerada boa. Tem presença forte em mercados em desenvolvimento. Cerca de 60%
do faturamento da empresa
vem de países emergentes.
O lance da CSN representa
avanço importante do grupo
comandado por Steinbruch na
sua estratégia de alocar capital
em mercados diversificados. A
empresa já tem presença forte
na produção de minério de ferro em Minas Gerais, é uma das
principais produtoras de aço
para o mercado brasileiro, administra projetos logísticos em
ferrovias e portos e acaba de ingressar no ramo cimenteiro
-negócio que ajuda a empresa
a dar destino a um resíduo do
processo siderúrgico: a escória
de alto-forno.
Além disso, Steinbruch daria
passo relevante na internacionalização, objetivo frustrado
em 2007, quando a CSN tentou
sem sucesso a compra da siderúrgica anglo-holandesa Corus. Na ocasião, perdeu a disputa para a indiana Tata.
A Camargo Corrêa, por sua
vez, já tem um presença maior
no mercado -hoje a companhia é a quarta maior produtora de cimento do Brasil.
Consequências internas
No caso da CSN, a operação
não representa grandes mudanças na organização do mercado interno. "Entendemos
que se trata apenas de uma troca de comando de uma companhia que já atuava no Brasil",
afirma José Otávio de Carvalho, vice-presidente-executivo
do Snic (Sindicato Nacional da
Indústria do Cimento).
Devido às incertezas que cercam a transação -especialmente no que diz respeito à
eventual necessidade de a CSN
precisar se endividar para completar a compra e vencer a disputa com a Camargo Corrêa-,
os investidores nos papéis do
grupo brasileiro receberam
mal a notícia da oferta. As suas
ações ON (ordinárias) fecharam em queda de 5,45% ontem
na BM&FBovespa. Os papéis
da Cimpor subiram 16,01% na
Bolsa Euronext de Lisboa. "As
maiores dúvidas são sobre o
preço final a ser pago pela empresa", diz Leonardo Alves, da
corretora Link Investimentos.
À noite, após o fechamento
dos mercados, a agência de
classificação de risco Standard
& Poor's informou que está colocando os "ratings" da CSN
sob observação para um possível rebaixamento.
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