São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 2009

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CSN e Camargo Corrêa disputam cimenteira

CSN faz oferta hostil de R$ 10 bi por controle da companhia Cimpor, enquanto Camargo Corrêa negocia parceria com os sócios portugueses

CSN ingressou no setor há 6 meses; compra de empresa europeia colocaria brasileiros entre os maiores produtores de cimento no mundo

AGNALDO BRITO
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) pode se tornar, seis meses depois de abrir sua primeira fábrica de cimento no Brasil, uma das 12 maiores cimenteiras do mundo, com presença em 13 países, entre eles China, Turquia e África do Sul. Ontem a empresa anunciou oferta pela companhia Cimpor, a maior empresa privada não financeira portuguesa.
Para concretizar o negócio, no entanto, terá de vencer uma disputa com a Camargo Corrêa, que também admitiu, ontem, negociar uma aliança com alguns acionistas portugueses. Em nota, a Camargo Corrêa afirma que "conversou com vários acionistas da Cimpor para demonstrar seu interesse em participar, com os sócios portugueses, da empresa". Diz ainda que, apesar da oferta pública da CSN, "segue firme na sua disposição de buscar, com os acionistas da Cimpor, uma equação que contemple os interesses dos acionistas".
Do lado da CSN, a empresa anunciou ontem uma oferta hostil no valor de 3,86 bilhões (R$ 9,9 bilhões) pelas ações da Cimpor (Cimentos de Portugal), hoje a 12ª companhia do mundo, com uma capacidade anual de mais de 30 milhões de toneladas de cimento.
A oferta está condicionada ao cumprimento das regras impostas pelas autoridades portuguesas do mercado de capitais e à aceitação incondicional da oferta pelo maioria dos acionistas. Em comunicado, a CSN afirma que a oferta de 5,75 (R$ 14,70) por ação, 5% acima do valor de mercado da quinta-feira, só será confirmada se 50% mais um dos acionistas aderirem à proposta.
A operação financeira para sustentar essa ofensiva do empresário brasileiro Benjamin Steinbruch parece estar bem montada, afirmam analistas. O empresário anunciou, por meio de nota, que a companhia poderá bancar a oferta com capital próprio, caso a adesão não alcance 100% do capital. A CSN tem em caixa US$ 3 bilhões.
Se a proposta atrair mais interessados, a empresa afirma que poderá contratar operações de empréstimo-ponte para complementar o capital necessário à aquisição. A resposta dos acionistas a partir de agora é que determinará o desenho final da engenharia financeira.
Segundo especialistas, a posição da Cimpor no mundo torna a operação interessante. Com uma dívida líquida de 1,8 bilhão até o terceiro trimestre, a cimenteira portuguesa tem uma situação financeira considerada boa. Tem presença forte em mercados em desenvolvimento. Cerca de 60% do faturamento da empresa vem de países emergentes.
O lance da CSN representa avanço importante do grupo comandado por Steinbruch na sua estratégia de alocar capital em mercados diversificados. A empresa já tem presença forte na produção de minério de ferro em Minas Gerais, é uma das principais produtoras de aço para o mercado brasileiro, administra projetos logísticos em ferrovias e portos e acaba de ingressar no ramo cimenteiro -negócio que ajuda a empresa a dar destino a um resíduo do processo siderúrgico: a escória de alto-forno.
Além disso, Steinbruch daria passo relevante na internacionalização, objetivo frustrado em 2007, quando a CSN tentou sem sucesso a compra da siderúrgica anglo-holandesa Corus. Na ocasião, perdeu a disputa para a indiana Tata.
A Camargo Corrêa, por sua vez, já tem um presença maior no mercado -hoje a companhia é a quarta maior produtora de cimento do Brasil.

Consequências internas
No caso da CSN, a operação não representa grandes mudanças na organização do mercado interno. "Entendemos que se trata apenas de uma troca de comando de uma companhia que já atuava no Brasil", afirma José Otávio de Carvalho, vice-presidente-executivo do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento).
Devido às incertezas que cercam a transação -especialmente no que diz respeito à eventual necessidade de a CSN precisar se endividar para completar a compra e vencer a disputa com a Camargo Corrêa-, os investidores nos papéis do grupo brasileiro receberam mal a notícia da oferta. As suas ações ON (ordinárias) fecharam em queda de 5,45% ontem na BM&FBovespa. Os papéis da Cimpor subiram 16,01% na Bolsa Euronext de Lisboa. "As maiores dúvidas são sobre o preço final a ser pago pela empresa", diz Leonardo Alves, da corretora Link Investimentos.
À noite, após o fechamento dos mercados, a agência de classificação de risco Standard & Poor's informou que está colocando os "ratings" da CSN sob observação para um possível rebaixamento.


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