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Governo decide liberar R$ 4,7 bi para gastos
Receita extra veio de depósitos judiciais (R$ 3,8 bi) e de "excesso de arrecadação" em relação ao previsto para novembro e dezembro
Saúde ficou com a maior parcela, de R$ 2 bilhões; emendas de parlamentares, Bolsa Família e Educação também foram atendidos
LEANDRA PERES
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo depois de 11 meses de
quedas consecutivas na arrecadação, o governo liberou mais
R$ 4,7 bilhões para que os ministérios possam gastar nos últimos dez dias do ano.
A autorização foi dada por
meio de uma edição extraordinária do "Diário Oficial da
União", que circulou ontem.
O Ministério do Planejamento informa que não há ainda um
destino certo para os recursos,
mas a Folha apurou que parte
da liberação irá atender a
emendas parlamentares.
Além disso, era preciso autorizar gastos obrigatórios, caso
da Saúde -que ficou com a
maior parcela de recursos, R$ 2
bilhões- e do Ministério da
Educação. Também serão
transferidos recursos para o
Bolsa Família e o Ministério da
Ciência e Tecnologia.
O dinheiro para aumentar os
gastos veio de depósitos judiciais (R$ 3,8 bilhões) e de um
"excesso de arrecadação" de R$
2 bilhões em relação à estimativa que o Planejamento havia
divulgado para os meses de novembro e dezembro.
O ganho na receita, segundo
a Folha apurou, veio essencialmente dos pagamentos feitos
por empresas que aderiram ao
Refis da crise. Um grande número de contribuintes optou
pelo pagamento à vista das dívidas tributárias para aproveitar os descontos de até 100%
em multas e juros oferecidos
pelo governo.
Com isso, a arrecadação em
novembro, que será anunciada
oficialmente na próxima semana, superou as projeções que o
governo havia feito e abriu espaço para novos gastos.
O valor liberado foi inferior
aos R$ 5,8 bilhões que entraram a mais porque houve uma
frustração de R$ 1 bilhão na arrecadação de outros tributos,
além de transferências a Estados e municípios e gastos adicionais do Judiciário que somaram R$ 80,7 milhões.
O governo poderia ter usado
o dinheiro extra para alcançar
uma meta de resultado primário mais elevada. O percentual
originalmente previsto era de
uma economia de 2,5% do PIB,
mas poderá ser reduzido para
até 1,56% do PIB porque os
gastos com investimentos do
PAC, o programa de obras do
governo federal, poderão ser
abatidos da meta.
A decisão da área econômica
é não deixar faltar dinheiro para investimento. Dessa forma,
se a arrecadação extra fosse
poupada para elevar o superavit primário, seria preciso cobrir os gastos da Saúde, por
exemplo, com uma redução no
investimento público.
As despesas que forem realizadas com os R$ 4,7 bilhões extras dificilmente serão quitadas neste ano. O mais provável
é que elas fiquem para o ano
que vem, numa rubrica conhecida como "restos a pagar".
Mesmo sem gastar o dinheiro, a liberação é importante para os ministérios. É que, se conseguirem fazer um empenho
(primeira fase da despesa orçamentária), os órgãos públicos
já garantem direito ao uso desses recursos. No ano que vem,
não precisarão usar verbas do
Orçamento de 2010 para custear essas despesas.
O problema para o governo
federal é que os gastos transferidos de um ano para outro significam menos dinheiro disponível para custear os projetos
do orçamento anual.
A prática, no entanto, é recorrente e, com a liberação
quase no final do ano, o governo agrada aos ministros e aos
parlamentares que tiverem
suas emendas liberadas sem,
no entanto, gerar impacto em
suas contas. Como não há pagamento neste ano, o superavit
primário não cai.
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