São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Funcionário da empresa revela que ex-subsidiária em São Paulo recebeu "saco de dinheiro" da matriz

Contador põe Brasil no eixo do caso Parmalat

DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se os promotores italianos quiserem encontrar o dinheiro desviado da Parmalat, estimado em 10 bilhões, terão que investigar as operações do grupo no Brasil. Segundo o depoimento de um dos principais contadores do grupo, uma ex-subsidiária no país - a Carital Brasil- dedicava-se a "atividades esquisitas" e recebeu "um saco de dinheiro" da matriz.
No futebol brasileiro, a Carital assinou contratos de co-gestão com o Palmeiras e com o Juventude, além de ter assumido o controle do Etti-Jundiaí e patrocinado o Santa Cruz. A Carital negociava passes de jogadores -vendia-os e comprava-os tanto no mercado nacional quanto no internacional. Além disso, a Carital participou de operações controversas de compra e de venda de ativos da Parmalat brasileira.

"Dinheiro maldito"
As declarações do contador Gianfranco Bocchi são, até o momento, a mais clara evidência de que uma boa parte do dinheiro desviado da companhia foi escoado para o Brasil. Bocchi, que está detido, trabalhava diretamente com Fausto Tonna, ex-diretor financeiro e suspeito de ser o arquiteto de um esquema de fraude.
O contador já havia admitido ter forjado documentos cumprindo ordens do fundador e ex-presidente da Parmalat, Calisto Tanzi.
O depoimento de Bocchi em que o Brasil foi citado ocorreu no último dia 14. Trechos foram publicados ontem pelo jornal italiano "La Repubblica".
De acordo com o jornal, ao final de um longo dia de interrogatório, o promotor Francesco Greco, do departamento anticorrupção, perguntou: "Afinal, onde foi parar esse maldito dinheiro?".
Segundo o "La Repubblica", Bocchi, depois de alguns instantes de hesitação, respondeu: "Não sei aonde foi parar o dinheiro que vocês estão procurando. Mas, se me permitem, posso dar duas pistas interessantes. Investiguem duas subsidiárias do grupo: a Carital do Brasil e a Wishaw. Não sei os detalhes, mas é certo que um saco de dinheiro terminou ali".
Bocchi, sempre de acordo com o "La Repubblica", disse ter havido "um aporte de capital naquela sociedade, a Carital, onde só havia atividades esquisitas".
Disse ainda que as operações "eram comandadas inteiramente por Tonna [o ex-diretor financeiro do grupo] e Monteiro [Carlos de Souza Monteiro, ex-diretor da Parmalat no Brasil]".
A controladora da Carital Brasil é a Carital Food Distributors, cuja sede fica na ilha de Curaçau, nas Antilhas Holandesas, um paraíso fiscal. O diretor-executivo dessa empresa, Rosario Lucio Calogero, está sob investigação.
Em julho de 2002, a Carital comprou da própria Parmalat brasileira uma empresa chamada CBL (Companhia Brasileira de Laticínios). Um mês depois, a empresa -que nunca atuou diretamente na área de alimentos- decidiu revender a CBL para a família Girão, uma das maiores do setor de lácteos no país, com um prejuízo de R$ 3 milhões.
No domingo, a Folha revelou que a Parmalat do Brasil remeteu R$ 583,8 milhões à Wishaw Trading S.A., sediada no Uruguai. As remessas foram feitas entre 1996 e 2002 por meio de operações CC-5 (que possibilitam saques em dólar no exterior) registradas no BC (Banco Central).
A Parmalat Alimentos -atual braço operacional do grupo no Brasil- negou à Folha qualquer irregularidade. Segundo sua assessoria, as remessas à Wishaw teriam sido feitas antes do processo de reestruturação pelo qual passou a Parmalat brasileira em 1997.
A assessoria da Parmalat brasileira disse ainda que a Carital foi vendida em 1999.


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