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LUÍS NASSIF
A Embrapa da indústria
Na semana passada, o governo federal anunciou a
intenção de investir R$ 300 milhões na criação de uma Embrapa para a área industrial.
Um dos principais pensadores
contemporâneos da área de
ciência e tecnologia, o reitor da
Unicamp, Brito Cruz, não considera adequada a criação de
uma Embrapa para a área industrial.
O setor agrícola tem singularidades que favorecem a efetividade de institutos de P&D (pesquisa e desenvolvimento) estatais. Uma delas é o grande número de pequenas e médias propriedades demandadoras de
tecnologia.
Na área industrial, existem
vários institutos federais e estaduais, como o Instituto Nacional de Tecnologia, o Cenpra
(ex-CTI), a Fiocruz e FarManguinhos. Nesse terreno, a definição da demanda é diferente. O
foco da política precisa estar nas
empresas, e não na criação de
instituições governamentais.
Ainda mais quando essa criação replicará experimentos já
existentes e que enfrentam todo
tipo de dificuldade de financiamento para sua continuidade,
diz Brito.
Um contra-exemplo foi o Projeto Genoma em SP. "Escolheu-se de início, e deliberadamente,
não se criar uma instituição,
mas usar a capacidade existente
e disseminada. Evitou-se assim
todo tipo de guerra por influência e disputas territoriais tão comuns", conta Brito.
A relevância científica do projeto foi importante para atrair
jovens pesquisadores, interessados em aprender e se desenvolver. Foi possível achar essa relevância tecnológica (a Xyllela)
exatamente porque as empresas
tinham já um belo esforço próprio de Pesquisa & Desenvolvimento no Fundecitrus. As empresas sabiam algo sobre a ciência e a tecnologia do problema
que as afligia e assim puderam
formular e convencer a Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)
da oportunidade. Com o sucesso do projeto, começaram a
aparecer as empresas, criadas
por pesquisadores que lideraram. Um instituto governamental nunca poderá substituir a
empresa na identificação de
oportunidades e necessidades.
Um dos focos dessa discussão
é justamente o da microeletrônica. Já existe o Cenpra, instituto federal cuja missão é desenvolver tecnologia para microeletrônica, diz Brito. O problema
do Cenpra é a falta de demanda
empresarial no setor, além da
escassez de financiamento pelo
governo federal. O orçamento
do Cenpra, que tem salas limpas, facilidades de fabricação
microeletrônica e algumas pessoas muito bem qualificadas na
área, deve ser de uns 5 a 10 milhões de reais por ano. Os R$
300 milhões pagariam 30 ou 60
anos do Cenpra nas condições
atuais. Com algum incremento
no orçamento, realmente necessário, os R$ 300 milhões poderiam custear uns 20 anos do
Cenpra em boas condições, conclui Brito.
Há diferença básica de estratégia, a coreana se abrindo para
o mundo, a brasileira pretendendo reinventar tudo aqui.
Uma das estratégias da Coréia
foi comprar empresas prontas
nos EUA e operá-las com times
coreanos e americanos. Assim
compraram acesso às entranhas
da tecnologia e chegaram onde
estão hoje.
Tecnologia e conhecimento
são coisas nas quais avança
quem sabe aprender mais depressa. Aprender supõe interação, e não isolamento.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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