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VINICIUS TORRES FREIRE
O que pode dar errado por aqui
Risco para câmbio e inflação é
o óbvio, mas até no comércio exterior surgem motivos para atenuar o pessimismo
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COMO A CONFUSÃO americana
começaria a afetar o Brasil? A
resposta óbvia é: pelo câmbio,
por meio da desvalorização do real, o
que tende a abalar inflação e juros.
O câmbio pode ser afetado por vários canais. Investidores podem retirar seu dinheiro do país ou suspender investimentos produtivos. Se o
comércio mundial esfria, caem a
procura por produtos brasileiros e
seus preços, que foram às alturas
nos últimos cinco anos, em especial
no caso de recursos naturais. Quase
60% do valor das exportações brasileiras depende de produtos básicos:
ferro, metais, soja, carnes, combustíveis etc. O que será desses preços?
Os economistas do Bradesco acreditam que o preço de certas "commodities" seguirá firme em 2008,
com demanda forte em China, Índia
etc. O preço dos agrícolas depende
pouco da variação do consumo em
países ricos, como os EUA. O estoque global de grãos está baixo. E as
"commodities" tornaram-se alternativas de aplicações financeiras
-protegem investimentos em períodos de inflação; substituem, em
parte, ativos em baixa, como ações.
De fato, antes do anúncio de prejuízos bancários monstruosos nos
EUA, as "commodities" agrícolas
disparavam -na semana passada,
houve volatilidade grande, mas tais
dados lunáticos são inúteis. Bancos
americanos e europeus expandem
seus departamentos de "commodities" e gestores desses fundos estão
animados, caso ora raro. Bancos que
soltaram relatórios recentes sobre
"commodity currencies", moedas
de países que dependem muito de
recursos naturais, têm dito que, em
caso de crise, o Brasil se sairia melhor que Austrália e Chile, por exemplo. Enfim, a finança parece crente de que especular com produtos básicos renderá como em 2006 e 2007,
quando desde fundos de pensão a
pessoas físicas passaram a apostar
pesado em índices de futuros de metais e grãos. Ganharam dinheiro e
ajudaram a estourar os preços.
Risco? Por ser relativamente pequeno e de menor liquidez, o mercado de aplicações em "commodities"
pode levar tombos súbitos. Apesar
da ainda grande confiança na China,
um bom PIB chinês pode não sustentar certos preços. A China é a
grande consumidora de metais industriais, mas reexporta muito do
que absorve. Numa crise global, suas
exportações cairiam, diz-se. E, por
tabela, os preços brasileiros.
O valor da exportação brasileira
de produtos básicos tem dependido
muito mais de preço que de quantidade vendida. O comércio externo
tem crescido menos, mas é impossível discernir nos últimos meses o
efeito do ainda pequeno desaquecimento mundial de influências como
a do real forte. Mas seria preciso um
colapso muito forte no planeta para
vermos efeitos relevantes na balança comercial, no curto prazo.
A forte onda de investimento relacionado a produtos básicos no Brasil
continua. A Anglo American diz que
vai pagar US$ 5,5 bilhões pelos negócios de mineração de Eike Batista.
Um colapso da finança americana
parece a ameaça mais imediata para
câmbio e inflação. Mas o ineditismo
da razoável situação financeira do
país torna mais insondável a decisão
de investidores internacionais (e a
reação do BC). Fuga? Ou ver o Brasil
como uma oportunidade, paraíso de
juros altos e "commodities"?
vinit@uol.com.br
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