São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

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Exportações de álcool têm queda de 14%

Produção recorde de combustível a partir do milho nos Estados Unidos reduz pretensão brasileira de aumentar embarques

Previsão para 2008 aponta para estabilidade ou, no máximo, ligeiro aumento no volume das vendas para outros países, diz indústria

DA SUCURSAL DO RIO

Animados inicialmente com a visita do presidente dos EUA, George W. Bush, em março do ano passado, produtores de álcool viram as expectativas com o aumento das exportações se frustarem. As vendas externas do produto caíram de 3,6 bilhões de litros em 2006 para 3,2 bilhões de litros, segundo dados da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). Trata-se de uma redução de 14%.
Como a possibilidade de exportações maiores para os EUA, o setor chegou a estimar vendas ao exterior de até 5 bilhões de litros em 2007. A meta não se concretizou especialmente por causa da queda de preço do álcool produzido a partir do milho no mercado americano, em razão da produção recorde do ano passado.
As expectativas para 2008 não são nada alvissareiras: o setor estima exportações no mesmo nível ou, no máximo, um pouco maiores do que em 2007.
"O mercado externo não deve crescer no curto prazo. Uma expansão depende de os EUA definirem uma nova política de subsídios e de proteção", diz o diretor-técnico da Unica, Antonio Pádua.
Os EUA protegem a produção de álcool de milho com barreiras tarifárias e subsídios que somam US$ 0,54/litro, o que reduz a competitividade do álcool brasileiro, embora o produto tenha custo mais baixo.
Por causa do forte protecionismo americano, o Brasil só consegue vender álcool aos EUA quando os preços do produto estão muito elevados. Não foi o que aconteceu em 2007, quando houve uma superprodução e os preços caíram.
"A entrada muito forte de novos investimentos nos EUA aumentou a produção e fez os preços caírem, fechando uma janela de exportação para o álcool brasileiro", avalia Rogério Manso, vice-presidente da Brenco. A empresa, constituída por investidores brasileiros e estrangeiros, planeja construir oito usinas no país.
José Carlos Toledo, presidente da Udop (União dos Produtores de Bioenergia), também se mostra cético quanto à expansão das exportações brasileiras. "O grande problema é o protecionismo", diz.
Para o BNDES, EUA e Europa retardam a abertura dos seus mercados até que consigam desenvolver tecnologia para a produção em larga escala do álcool de segunda geração (a partir da celulose) a preço competitivo. "Os EUA não vão fazer grandes concessões [ao Brasil]. A troco do que eles vão abrir o mercado?", indaga Paulo Faveret, gerente do Departamento de Biocombustíveis do banco.
Faveret acredita que o grande potencial está no mercado doméstico, alavancado pelas vendas de carros flex.
"A visita do Bush foi melhor para ele do que para o Brasil. Não há sinal de abertura do mercado americano. Ao contrário, eles estão entrando com apetite na produção de álcool e no desenvolvimento da segunda geração", afirma o especialista Aldo Castelli, ex-presidente da Shell no Brasil.

Japão
Outra promessa que só ficou nas intenções era a exportação para o Japão, que estuda há mais de dois anos acrescentar 2% de álcool à gasolina. O país asiático quer garantia de suprimento. Por isso, a Petrobras entrou na negociação, que até agora não deslanchou.
"O Japão quer contratos de longo prazo, de 15 anos", disse Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobras, que prospecta projetos de usinas nas quais será minoritária com a japonesa Mitsui. (EL e PS)


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