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Rodrigues cobra mais ação do governo para o mercado de álcool
Ex-ministro da Agricultura diz que não há estratégia do país e que faltam fornecedores para criar mercado externo
Ex-titular da pasta afirma
que 11 ministérios cuidam
do tema, mas que ausência
de diálogo prejudica meta
de crescimento do mercado
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-ministro da Agricultura
Roberto Rodrigues diz que falta
planejamento do governo para
a produção de álcool. Segundo
ele, os 11 ministérios envolvidos com o assunto não se comunicam. Ele defende a criação da Secretaria Nacional de Agroenergia para unir esforços.
Rodrigues é co-presidente da
Comissão Interamericana do
Etanol ao lado do ex-governador da Flórida Jeb Bush e do
presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), Luis Alberto Moreno.
FOLHA - Por que não se conseguiu
criar mercado para a exportação do
álcool?
ROBERTO RODRIGUES - Para que
um produto se torne uma commodity é preciso haver diferentes fornecedores. A troco de
que outros países substituiriam
a dependência de petróleo da
Arábia Saudita pela dependência de álcool do Brasil? Há uma
paúra lá fora em relação à dependência de um fornecedor. O
primeiro passo, portanto, é
existirem vários fornecedores.
FOLHA - O que está sendo feito para isso?
RODRIGUES - A Comissão Interamericana do Etanol foi criada para estimular outros países, pelo menos na América Latina. Já há projetos em andamento na República Dominicana, Haiti e El Salvador.
FOLHA - E quais são os outros entraves para a exportação?
RODRIGUES - A falta de legislação nos países consumidores
que obrigue a mistura do álcool
à gasolina. Se não houver uma
imposição legal, a indústria do
petróleo não vai permitir a
criação do mercado internacional para o álcool.
Esse movimento está começando a acontecer. Os norte-americanos estão com esta temática em discussão.
FOLHA - Só que os Estados Unidos
querem garantir o consumo do etanol produzido por eles, a partir do
milho, não?
RODRIGUES - Eles querem garantir o álcool produzido por
eles, não necessariamente a
partir do milho. Estão fazendo
um investimento rigoroso no
etanol de celulose, que vai levar
uma ou duas décadas para ser
competitivo. Mas estão investindo tanto em pesquisa que
dará certo, mais cedo ou mais
tarde. Além da produção própria, os Estados Unidos terão
de importar álcool e é por isso
que, no acordo entre Bush e
Lula, surgiu o programa para
investimento na América Central e Caribe.
O terceiro ponto é o estabelecimento, por parte do Brasil,
de uma estratégia para o álcool,
que ele ainda não tem. Se você
perguntar a qualquer empresário privado do setor quanto álcool o Brasil quer produzir,
ninguém terá a resposta.
FOLHA - Não há planejamento para o crescimento da produção?
RODRIGUES - Não há. E isso é tão
grave que o crescimento de 7%
na produção de cana em 2007
derrubou os preços em 30%. Isso mostra como não há planejamento estratégico nesse processo. Ninguém definiu quanto álcool devemos produzir, como
vai ser o financiamento da expansão da produção.
FOLHA - O governo está sendo
omisso?
RODRIGUES - Há 11 ministérios
cuidando desse assunto, em
Brasília, e todos com gente
muito séria, bem intencionada
e competente, mas não conversam entre si. Por isso, não temos estratégia. Os EUA estão
gastando US$ 2 bilhões de tecnologia e pesquisa, nós investimentos menos de 10% disso.
Como manteremos a liderança
tecnológica de um processo, se
não temos dinheiro para tecnologia? Quem vai cuidar da alcooquímica?
FOLHA - E o que o senhor sugere?
RODRIGUES - A criação de uma
Secretaria Nacional de Agroenergia, que congregue os esforços que estão dispersos por dezenas de organismos públicos
federais, estaduais e municipais. Temos centenas de pessoas trabalhando no assunto,
sem coordenação. É importante vendermos etanol para o exterior, mas mais importante é
exportar know-how. Temos
que vender usinas de álcool,
carros flex e inteligência.
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