São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

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Rodrigues cobra mais ação do governo para o mercado de álcool

Ex-ministro da Agricultura diz que não há estratégia do país e que faltam fornecedores para criar mercado externo

Ex-titular da pasta afirma que 11 ministérios cuidam do tema, mas que ausência de diálogo prejudica meta de crescimento do mercado

DA SUCURSAL DO RIO

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues diz que falta planejamento do governo para a produção de álcool. Segundo ele, os 11 ministérios envolvidos com o assunto não se comunicam. Ele defende a criação da Secretaria Nacional de Agroenergia para unir esforços.
Rodrigues é co-presidente da Comissão Interamericana do Etanol ao lado do ex-governador da Flórida Jeb Bush e do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno.  

FOLHA - Por que não se conseguiu criar mercado para a exportação do álcool?
ROBERTO RODRIGUES
- Para que um produto se torne uma commodity é preciso haver diferentes fornecedores. A troco de que outros países substituiriam a dependência de petróleo da Arábia Saudita pela dependência de álcool do Brasil? Há uma paúra lá fora em relação à dependência de um fornecedor. O primeiro passo, portanto, é existirem vários fornecedores.

FOLHA - O que está sendo feito para isso?
RODRIGUES
- A Comissão Interamericana do Etanol foi criada para estimular outros países, pelo menos na América Latina. Já há projetos em andamento na República Dominicana, Haiti e El Salvador.

FOLHA - E quais são os outros entraves para a exportação?
RODRIGUES
- A falta de legislação nos países consumidores que obrigue a mistura do álcool à gasolina. Se não houver uma imposição legal, a indústria do petróleo não vai permitir a criação do mercado internacional para o álcool. Esse movimento está começando a acontecer. Os norte-americanos estão com esta temática em discussão.

FOLHA - Só que os Estados Unidos querem garantir o consumo do etanol produzido por eles, a partir do milho, não?
RODRIGUES
- Eles querem garantir o álcool produzido por eles, não necessariamente a partir do milho. Estão fazendo um investimento rigoroso no etanol de celulose, que vai levar uma ou duas décadas para ser competitivo. Mas estão investindo tanto em pesquisa que dará certo, mais cedo ou mais tarde. Além da produção própria, os Estados Unidos terão de importar álcool e é por isso que, no acordo entre Bush e Lula, surgiu o programa para investimento na América Central e Caribe. O terceiro ponto é o estabelecimento, por parte do Brasil, de uma estratégia para o álcool, que ele ainda não tem. Se você perguntar a qualquer empresário privado do setor quanto álcool o Brasil quer produzir, ninguém terá a resposta.

FOLHA - Não há planejamento para o crescimento da produção?
RODRIGUES
- Não há. E isso é tão grave que o crescimento de 7% na produção de cana em 2007 derrubou os preços em 30%. Isso mostra como não há planejamento estratégico nesse processo. Ninguém definiu quanto álcool devemos produzir, como vai ser o financiamento da expansão da produção.

FOLHA - O governo está sendo omisso?
RODRIGUES
- Há 11 ministérios cuidando desse assunto, em Brasília, e todos com gente muito séria, bem intencionada e competente, mas não conversam entre si. Por isso, não temos estratégia. Os EUA estão gastando US$ 2 bilhões de tecnologia e pesquisa, nós investimentos menos de 10% disso. Como manteremos a liderança tecnológica de um processo, se não temos dinheiro para tecnologia? Quem vai cuidar da alcooquímica?

FOLHA - E o que o senhor sugere?
RODRIGUES
- A criação de uma Secretaria Nacional de Agroenergia, que congregue os esforços que estão dispersos por dezenas de organismos públicos federais, estaduais e municipais. Temos centenas de pessoas trabalhando no assunto, sem coordenação. É importante vendermos etanol para o exterior, mas mais importante é exportar know-how. Temos que vender usinas de álcool, carros flex e inteligência.


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