São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

O zum-zum do álcool importado


Empresários cogitam importar produto e pedem imposto menor; medida não deve afetar preços na bomba


PARECE PIADA ou pelo menos esquisito, mas voltou a conversa de que há empresas dispostas a importar álcool. Sim, o preço está alto. Mas até hoje se discutem, por exemplo, as restrições americanas à importação do produto brasileiro -o problema é vender, não comprar álcool do exterior. Sim, o preço é assunto de curto prazo; a exportação para o mercado americano é um problema estratégico. Ainda assim, é esquisito. Ainda mais porque o álcool viria dos EUA, famosos por subsidiarem a produção de seu álcool careiro.
De resto, a gasolina é um substituto quase perfeito para o álcool, pois a frota brasileira é em grande parte "flex".
Foi em outubro do ano passado que o zum-zum sobre a importação de álcool ficou audível para o público que não vive o cotidiano desse mercado. Na época, o litro do álcool na porta das usinas ameaçava chegar a R$ 1 (preço sem impostos etc.). A história parecia ficção, mas havia chegado aos ouvidos do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior.
Foi em outubro também que o governo decretou a cobrança de IOF sobre aplicações financeiras de não residentes ("estrangeiros") a fim de evitar que o real continuasse a se valorizar. Os negociantes que então pensavam em levar adiante o negócio reclamaram do imposto, pois contavam tanto com o aumento de preço do álcool até meados deste ano como com a alta do real (que baratearia o produto importado).
Segundo o governo, não houve importação, como ainda não haveria pedido de importação. Mas empresas querem redução da tarifa de importação. O governo não comenta. Desde outubro, o real de fato parou de se valorizar. Porém, o preço do álcool continuou a subir. O preço do litro do álcool hidratado, na porta das usinas, subiu 64% no período (considerada a média semanal dos preços daquele mês comparada à média de janeiro, do Cepea-Esalq).
Um experiente ex-diretor da Unica, associação dos usineiros, diz que o negócio "parece um pouco arriscado". Os preços são voláteis, e se desconhece o tamanho da reação do consumidor à carestia do álcool. Alguém pode acabar com um estoque importado a preços não convidativos -isso se achar álcool e frete a um preço bom o bastante para trazer o produto para o Brasil.
A história da importação, porém, não é nova. Em 2006, diante de outra onda de alta de preços, o governo baixou temporariamente de 20% para zero o Imposto de Importação de álcool anidro, misturado à gasolina, e para o hidratado, que vai para o tanque dos carros; também baixou a mistura de álcool à gasolina, como agora. Então, os especialistas em álcool, dentro e fora do governo, consideravam a medida inócua -não haveria álcool barato e em quantidade relevante no mercado mundial.
O álcool está caro porque a produção baixou. Porque choveu demais, o que atrapalhou a colheita e a qualidade da cana. Porque provavelmente se vendeu mais açúcar, que está com bom preço no mercado mundial, por ora. E o álcool subiu devido ao velho problema dos estoques (piorado neste ano porque no início de 2009 as usinas fizeram jorrar álcool barato no mercado, para fazer caixa). Fazer estoque custa dinheiro, e as empresas estão mal das pernas, incapazes de tomar crédito.

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Veículos: Venda de carro importado sobe 34%
Próximo Texto: Indústria paulista só deve zerar perda de vagas em 2011
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.