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LUÍS NASSIF
O país que criamos
Aquilo deu nisso, como diria o samba debochado dos
anos 70 ou 80. O modelo de governabilidade criado no governo Fernando Henrique
Cardoso, preservado e aprofundado pelo governo Lula,
conseguiu expulsar o país do
governo e tornou a economia
formal uma cidadela sitiada
pela expansão do crime organizado.
Anos e anos de estagnação
da economia, taxas de juros
exorbitantes e arrocho fiscal
sem precedente conferiram tal
poder político às fontes de liquidez da economia que só
um estadista em um ponto
qualquer do futuro para romper com essa tragédia.
O primeiro governo FHC foi
o da farra cambial e fiscal. No
segundo prosseguiu a farra
dos juros, um pouco amenizada, mas ainda farra, e procedeu-se a um dantesco arrocho
fiscal. Cada aumento de juros,
cada aumento de impostos,
ajudava a alimentar as duas
grandes fontes de riqueza que
prosperaram no período: na
economia formal, o sistema financeiro e alguns setores oligopolizados; na economia informal, o crime organizado. E
tinha que se ouvir que esse caminho é que levaria ao futuro.
Analise-se o país pelas últimas semanas. Os banqueiros
do bicho, que tinham uma
banca restrita -em geral financiavam parlamentares
que foram secretários de segurança-, hoje em dia têm uma
influência acachapante sobre
o Executivo federal, sobre a
Câmara Federal e sobre diversos governos estaduais. O país
virou uma enorme lavanderia
e toda essa sonegação foi compensada pelo aumento dos tributos sobre os empresários da
economia formal.
Petrobras e grandes bancos
têm exibido lucros sem paralelo na história do país. Todo esse sorvedouro de dinheiro sai
da veia da economia formal
-empresários e contribuintes- direto para esses setores.
Sem condições de produzir, de
sobreviver nessa selva, os empresários que entram em processo de crise são esmagados,
assim como os consumidores
que não dão conta de financiamentos contratados.
Sobre esses recai a mão pesada do Estado e de todo o aparato de cobrança e fiscalização. Atrasou o tributo, multas
pesadíssimas, correção monetária; atrasou com os bancos,
renegociação em bases onerosas, nome no cadastro negativo. As informações sobre o empresário em dificuldade se espalham como um corisco. Imediatamente seu nome é mandado para todos os serviços de
proteção ao crédito, a troca de
informação entre fiscalização
federal e estadual o submete a
levas e levas de visitas de fiscais.
Há um completo descaso e
desconhecimento em relação à
economia formal. É só avaliar
o que dizem esses economistas
de planilha sobre a atividade
econômica. Foram incapazes
de perceber -até hoje- os
efeitos socioeconômicos desse
arrocho fiscal e monetário. O
arrocho arrebentou as empresas do mundo formal e expôs
uma nação inteira à influência do crime organizado.
O sociólogo Fernando Henrique Cardoso jamais anteviu
conseqüências óbvias da política que implantou. O metalúrgico Lula jamais conseguirá
entender.
Só resta continuar acreditando que Deus é brasileiro.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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