São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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EMPREGO

Estudo da Secretaria Municipal do Trabalho mostra que maiores renda e escolaridade não garantem colocação

Taxa de desemprego cresce mais entre ricos

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem crescimento econômico, o desemprego se alastrou por todas as classes sociais do país, mas a taxa de desemprego aumentou em ritmo mais acelerado entre os mais ricos e os trabalhadores com maior escolaridade.
O resultado foi apontado em estudo divulgado ontem pela Secretaria do Trabalho da Prefeitura de São Paulo, a partir de dados das Pnads (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 1992 e 2002. Embora o percentual de desemprego tenha aumentado entre as camadas de renda mais altas, há mais pobres do que ricos desempregados no país em números absolutos. Dos 7,8 milhões que estavam sem emprego em 2002 em dez regiões metropolitanas do país, 4,8 milhões pertenciam às famílias de baixa renda.
Entre 1992 e 2002, a taxa de desemprego média cresceu 38,8% -passou de 6,7% para 9,3% da PEA (população economicamente ativa). Na classe média alta, essa variação foi ainda maior -50%, a taxa passou de 2,6% para 3,9%. No outro extremo, na camada mais pobre, a taxa variou 46,8% -de 9,4% aumentou para 13,8%.
Isso significa que o total de desempregados da classe média alta passou de 232 mil para 435 mil pessoas entre 1992 e 2002. Já o número de desempregados da classe baixa aumentou de 2,7 milhões para 4,8 milhões -ou seja, a cada três desempregados, dois estão nas famílias de baixa renda.
No estudo da secretaria, consideram-se como de baixa renda as famílias com rendimento de até R$ 652 (2,7 salários mínimos mensais). As famílias de classe média são aquelas com renda entre R$ 652,01 e R$ 2.600 (11 mínimos). As de classe média alta têm renda acima de R$ 2.600.
"Até o final dos anos 80, quem perdia o emprego era o desempregado típico: pobre, de baixa escolaridade, sem qualificação. Nos anos 90, o estudo mostrou que não há segmento social imune ao desemprego", diz o secretário Marcio Pochmann.
Entre os homens, o desemprego cresceu mais rapidamente na classe média alta -a taxa de desemprego variou 65% entre 1992 e 2002. Já entre as mulheres, a realidade é outra: as que mais sofrem com a falta de vagas são as de baixa renda. "O desemprego também aumentou mais entre os brancos de famílias mais pobres. O que ocorria até então era a perda de postos entre negros pobres", diz Pochmann. A taxa de desemprego entre a população branca de baixa renda variou 49,5% -foi de 9,7% para 14,5%.
Entre a população negra, entretanto, a situação é outra: a maior variação (68%) foi entre os negros de famílias de classe média alta.
"A discriminação assume novas formas. O desemprego dos negros pobres cresce menos porque para eles sobram as ocupações mais precárias. Entre os de renda média e média alta, o desemprego explode porque em um contexto de escassez de vagas especializadas o preconceito racial acaba funcionando como requisito decisivo na contratação", diz Pochmann.


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