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CUSTO BRASIL
Impacto da Selic sobre o câmbio pode frustrar expectativa de investimento
Otimismo pode "fazer água"
com juros, diz empresário
DA REPORTAGEM LOCAL
A última vez em que a subsidiária brasileira da multinacional
Black & Decker enviou dividendos aos seus acionistas nos EUA
foi em 1989, há 15 anos.
""Esse é o retrospecto brasileiro
para os "gringos" lá fora. É o sobe-e-desce do câmbio, da inflação,
das previsões. E nós aqui, tentando mostrar que somos estáveis e
viáveis, que agora vai. Essa é a tônica", desabafa o diretor industrial da Black & Decker do Brasil,
Domingos Dragone.
O empresário diz que, apesar da
onda de otimismo, 2005 ""pode
começar a fazer água" por causa
da política de juros elevados.
Além do impacto sobre a atividade, os juros altos (que voltaram
a subir pelo sexto mês seguido na
quarta, de 18,25% para 18,75% ao
ano) vêm valorizando o real.
Para obter ganhos com os juros
em alta no país, hoje os maiores
do mundo em termos reais, investidores internacionais têm trazido
dólares para o Brasil, inundando
o mercado de câmbio e valorizando a moeda brasileira.
O dólar em baixa tende a desestimular as exportações, uma das
principais áreas de ganho de muitas multinacionais.
As americanas Ford e Motorola,
por exemplo, além das alemãs
Mercedes-Benz, Continental,
Voith, Siemens e Basf e a anglo-holandesa Unilever, escolheram
suas unidades locais como centros de produção de alguns produtos para exportação para o resto do mundo.
""Agora, o que temos pela frente
é um cenário ambíguo. Todos mirando no crescimento, esperando
que o governo volte atrás [nos juros]. Mas temo que já se tenha
passado da conta", afirma Dragone. Sua empresa esperava trabalhar em 2005 com um dólar acima
de R$ 3,00. Na sexta, a moeda fechou a R$ 2,57.
Antonio Corrêa de Lacerda,
presidente da Sobeet, entidade
que acompanha resultados de
multinacionais, diz que ""o maior
risco em 2005 é o exagero na mesma política econômica que deu
estabilidade para as empresas planejarem mais investimentos".
Mesmo assim, Lacerda afirma
que o Brasil ""tem tudo" para aumentar de 20% do PIB para 22%
em 2005 a taxa de investimentos.
Juros no balanço
Em seu balanço de 2004 publicado recentemente nos EUA, a gigante de eletrodomésticos Whirlpool, dona das marcas Brastemp e
Cônsul no Brasil, afirma que,
""embora as condições devam permanecer positivas em 2005, os juros no Brasil devem continuar em
uma tendência de alta".
No caso da Xerox, há na avaliação dos resultados do último trimestre do ano passado uma citação específica em relação ao Brasil, cujos resultados contribuíram
""negativamente nas margens globais da companhia".
Um empresário que pediu para
não ser identificado disse à Folha
que, embora haja otimismo com
o Brasil, é preciso levar em conta
que o país vem perdendo terreno
ano a ano para outros concorrentes emergentes.
A participação de apenas 1,87%
do Brasil no faturamento global
das 197 empresas americanas que
atuam no país pode ser até considerada proporcional ao PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em
relação ao do resto do mundo.
Mas é preciso levar em conta,
diz esse empresário, que muitas
múltis estão no Brasil há mais de
20 anos. Em países como China e
Índia, onde elas entraram recentemente, a participação e o crescimento proporcionais têm sido
bem mais acelerados.
O diretor da Kodak Flávio Gomes afirma, por exemplo, que, como o Brasil é um ""mercado tradicional e consolidado" para a empresa, ""fica mais fácil" fazer negócios em um país como a Índia,
com muito espaço para crescer.
Impostos na AL
""Se a carga tributária no Brasil
fosse pelo menos igual à média da
América Latina, com certeza poderíamos atrair mais investimentos para cá", afirma Gomes.
Em uma relação de 58 produtos
de consumo elaborada pelo IBPT
(Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), a carga tributária incidente sobre os artigos
brasileiros é maior em todos eles
na comparação, por exemplo,
com a média da Argentina, da Colômbia e da Venezuela.
Também se referindo a impostos, a Monsanto afirma especificamente em seu balanço que está
questionando uma medida da Receita Federal do Brasil que pode
causar uma perda de US$ 18 milhões para a companhia.
""Ainda estamos avaliando a validade da notificação", diz a empresa.
(FERNANDO CANZIAN)
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