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CUSTO BRASIL
Pesquisa inédita com 197 empresas dos EUA no país revela otimismo em 2005 e limitações para novos investimentos
Burocracia e tributos emperram múltis
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Burocracia e carga tributária
elevada são os inimigos ""número
1" das 197 maiores multinacionais
dos EUA com investimentos no
Brasil. Na opinião dessas empresas, os dois temas lideram o chamado ""custo Brasil". E a simplificação tributária deveria estar no
topo da agenda do governo e do
Congresso Nacional em 2005.
Das 500 maiores empresas norte-americanas listadas pela revista
""Fortune", 197 estão presentes no
Brasil. Uma pesquisa inédita realizada entre elas nos EUA mostrou previsões otimistas de crescimento do Brasil em 2005 e apetite
por novos investimentos.
O levantamento, obtido com
exclusividade pela Folha, acaba
de ser concluído pelo Conselho
Empresarial Brasil-EUA da Câmara de Comércio dos EUA, com
sede em Washington.
Na quinta, na capital americana,
seus autores mostraram os resultados do trabalho ao secretário do
Tesouro brasileiro, Joaquim Levy.
Quase 70% das empresas esperam que o Brasil cresça entre 3,5%
e 5,5% em 2005. Para 39% delas,
seus próprios negócios crescerão
acima de 5,5% neste ano. E a
maioria, 56%, pretende aumentar
os investimentos no país.
Mas, nos resultados mundiais
dessas companhias (muitas delas
investindo e atuando há mais de
20 anos no país), a participação
do Brasil mostrou-se pífia, de exatos 1,87% do faturamento global.
Questionados sobre o que mais
inibe investimentos e inovação no
país, os americanos deram a mesma resposta que vem mobilizando de maneira inédita os empresários brasileiros nas últimas semanas: a alta carga tributária.
No geral, a pesquisa computou
302.612 empregos formais de empresas norte-americanas no Brasil
e um faturamento total anual de
US$ 91 bilhões (R$ 236 bilhões).
Concorrência
Para Mark Smith, vice-presidente-executivo do Conselho
Empresarial Brasil-EUA, a participação do Brasil menor do que
2% nos ganhos globais dessas empresas tem dois significados:
""Ilustra tanto o espaço potencial
que o Brasil pode ocupar como as
realidades das pressões de seus
países concorrentes por investimentos", afirma Smith.
Nos dois últimos anos, a Folha
avaliou trimestralmente os balanços publicados nos EUA de múltis
americanas com negócios no Brasil. De um modo geral, havia uma
clara predileção por investimentos em mercados emergentes na
Ásia, em especial China e Índia,
em detrimento do Brasil.
Nos balanços do último trimestre de 2004 enviados à SEC (Securities and Exchange Commission)
e que analisam o resultado do ano
passado, as empresas demonstram o mesmo otimismo com o
Brasil captado na pesquisa.
Na comparação com China e
Índia, o Brasil ganhou algum terreno no decorrer de 2004.
""O resultado da pesquisa bate
em 100% com nossas previsões. E
com nossas reclamações. É difícil
convencer a matriz a investir aqui
convivendo com uma carga tributária tão alta", diz Flávio Gomes,
diretor-geral da divisão de fotografia da Kodak Brasil.
A Kodak abandonou no Brasil a
venda de câmeras digitais profissionais por causa dos impostos
incidentes sobre a importação.
No segmento de digitais populares, a empresa diz que ""poderia ir
melhor" se o custo dos impostos
não estimulasse as importações
""subfaturadas e por baixo do pano" de vários concorrentes.
Marco Simões, diretor de comunicações da Coca-Cola Brasil,
afirma que a empresa ""aproveitará a atual onda de crescimento"
para investir em 2005".
No terceiro trimestre do ano
passado, a Coca-Cola (que apresenta seus resultados consolidados nos próximos dias) cresceu
14% sobre igual período em 2003.
Sobre o peso da carga tributária,
Simões afirma que ""a brasileira
está entre as mais altas do mundo". ""Dos R$ 6,6 bilhões faturados em 2003, R$ 2,1 bilhões, ou
quase 30%, foram consumidos
em impostos", diz.
Antonio Corrêa de Lacerda,
presidente da Sobeet (Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), afirma que
""tudo está encaminhado, em
2005, para um cenário otimista".
""O maior risco é o governo exagerar na dose da política que contribuiu, até agora, para melhorar a
confiança das empresas", diz.
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