São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2005

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Americanos cobram prioridade para microrreformas

DA REPORTAGEM LOCAL

Vice-presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasil-EUA da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, o norte-americano Mark Smith afirma que ""existem muitas coisas que o governo pode fazer sem precisar do Congresso para melhorar o ambiente de negócios no Brasil".
""Temos o maior interesse em trabalhar com as autoridades brasileiras no sentido de uma simplificação", afirma Smith, que vai visitar o Brasil nesta semana.
Leia entrevista telefônica à Folha, de Washington. (FCz)  

Folha - O sr. se surpreendeu com os resultados do estudo entre as múltis americanas no Brasil?
Mark Smith -
O levantamento diz algumas coisas importantes. Que a perspectiva em relação ao Brasil é bastante otimista e que a maioria das empresas ou vai aumentar um pouco ou significativamente seus investimentos no país. Essa é uma boa notícia para o Brasil.
Outro aspecto principal é a questão da carga tributária. É a preocupação ""número 1". Mesmo o Brasil tendo feito várias coisas positivas na área tributária, como o fim do efeito cumulativo do PIS/Cofins, o peso da carga tributária como um todo continua muito alto comparativamente com o de outros emergentes.
Esse é um grande desafio que brasileiros e americanos têm no Brasil. Como garantir a competitividade de seus negócios na comparação com seus concorrentes?
Um terceiro aspecto é o quanto os custos e os atrasos burocráticos estão no topo das preocupações dos empresários, ao lado da questão da carga tributária.
Para mim, isso apenas ilustra como há muitas coisas que estão nas mãos do governo federal e que poderiam ser feitas em conjunto com o setor privado, com foco em gargalos burocráticos que poderiam fazer do Brasil um ambiente muito mais competitivo e atrativo para investimentos.

Folha - Microrreformas que não dependem do Congresso?
Smith -
Exatamente. São alterações administrativas que poderiam ser feitas sem grandes mudanças na legislação ou coisas do tipo para tornar processos menos complicados e acelerar o modo de se fazer negócios no Brasil.
Nesse aspecto, as empresas americanas teriam o maior interesse em trabalhar com as autoridades brasileiras no sentido de uma simplificação.

Folha - O sr. vê apetite no governo para transformar essa área?
Smith -
Bem, o que eu sei é que o presidente Lula disse pessoalmente que 2005 seria o ano da implementação de uma série de políticas nessa linha. Sou obrigado a acreditar nas palavras dele.
No caso de mudanças na área tributária, é preciso levar em conta que o Brasil teve recorde de arrecadação no ano passado. É preciso olhar para isso, tendo em vista que esse problema é a grande prioridade de nossos associados.
Fiquei muito feliz em ver a reforma tributária colocada, em dezembro passado pelo ministro da Fazenda (Antonio Palocci), como uma das prioridades do governo para 2005. Mas creio que será um grande desafio qualquer mudança na área tributária antes da eleição presidencial (em 2006).

Folha - A participação dos ganhos no Brasil das 197 empresas pesquisadas não chega a 2%, comparativamente ao resto do mundo. Como o sr. avalia esse quadro diante das dificuldades e da competição por investimentos de outros países, como China e Índia?
Smith -
O Brasil compete hoje frontalmente por investimentos não apenas contra países latino-americanos, China e Índia. Há vários outros, como a Coréia do Sul e a Indonésia, por exemplo.
Os menos de 2% do Brasil no faturamento dessas empresas ilustram tanto o espaço potencial que o Brasil pode ocupar no futuro como as realidades da pressão da competição exercida por seus concorrentes. O desafio mais importante no futuro próximo é o de estabelecer um diálogo com o governo brasileiro no sentido de integrar toda a cadeia produtiva no hemisfério para que possamos conjugar plantas no Brasil e nos EUA para conquistar mercados.

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