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"RATING"
Instabilidade política e econômica afasta país do grau de investimento; para analistas, endividamento ainda precisa ser reduzido
Brasil fica atrás em corrida por boa avaliação
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O desempenho inconstante da
economia brasileira tem afastado
o país da possibilidade de alcançar o topo das classificações das
principais agências de risco do
mundo. Algumas incertezas políticas também.
Levantamento feito pela Standard & Poor's a pedido da Folha
mostra que, em 1994, havia 35
países na categoria de "investment grade" (grau de investimento) no ranking da agência. No final de 2004, o número estava em
62. No caso da agência Fitch, 22
eram avaliados como "investment grade" em 1994 e, em 2004,
eram 55.
Entre as economias mais sólidas
da América Latina -México,
Chile e Brasil-, só o Brasil permanece na situação de "grau especulativo". Mesmo a Rússia, que
decretou moratória em 1998 e desencadeou uma crise nos emergentes, foi elevada recentemente à
categoria de "investment grade"
pelas duas agências.
Atualmente, a S&P concede ao
Brasil a nota BB- para dívida denominada em moeda estrangeira
e BB para dívida em moeda local.
A Fitch avaliou o Brasil com um
BB- para ambas. As duas agências
dão um prognóstico "estável" para as notas de crédito do Brasil. Isso significa que não deve haver alteração da classificação de seis
meses a um ano. Os "ratings" (notas de crédito) são uma modalidade de avaliação criada pelas agências de risco para indicar a capacidade de um país honrar o pagamento de sua dívida. Na maioria
dos casos, são os próprios governos que pedem para ser avaliados.
Na avaliação de Roberto Rigobon, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), o Brasil
ainda "não está pronto" para esse
passo. Diferentemente dos economistas das agências internacionais de risco, que apontam as fragilidades macroeconômicas como os principais obstáculos, o
economista do MIT enfatiza aspectos políticos.
"O governo tem administrado a
economia muito bem, mas, na
campanha presidencial, Lula fez
críticas duras à política econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso e agora viu que ela
não era tão ruim assim e continua
a adotá-la. O mercado tem gostado [da continuidade], mas não dá
para fazer campanha populista,
criticar tudo e fazer tudo igual.
Sempre fica uma desconfiança",
disse o economista à Folha.
Para Lisa Schineller, analista de
crédito para o Brasil da Standard
& Poor's, em Nova York, o fato de
2006 ser um ano eleitoral no Brasil
vai ajudar a causar mais alguma
lentidão nas tão aguardadas reformas. "Percebemos que o momento de aprovação das reformas
[independência do Banco Central, mercado de trabalho] parece
estar com um ritmo mais lento,
mas elas são cruciais", afirmou.
Morgan Harting, da Fitch, também aponta "problemas na natureza da política" do Brasil. "Tem
muitos "veto players" ["atores"
com poder de veto]. É muito difícil e moroso passar leis. Muita coisa necessita de mudanças na
Constituição", argumentou. Mas
ele destaca que percebe um "sólido consenso" político em aspectos econômicos importantes, como a flutuação cambial e a manutenção do superávit primário.
Fundamentos previsíveis
No âmbito econômico, o principal obstáculo do Brasil para ser alçado ao patamar de grau de investimento continua a ser a alta proporção entre a dívida líquida pública e o PIB (Produto Interno
Bruto). Segundo a S&P, a relação
líquida entre dívida governamental e PIB no Brasil deve ficar um
pouco abaixo de 58% ao final deste ano. Essa relação de dívida é
quase 20% mais alta que a dos
países na mesma categoria do
Brasil e na BB e duas vezes superior à dos países BBB (primeiro
nível do "investment grade').
O Brasil, diz Schineller, precisa
ter "fundamentos econômicos
mais previsíveis". Mas a agência
elogia a queda da necessidade de
financiamento externo (déficit
em conta corrente, dívida de curto prazo, amortizações de médio e
longo prazo) para menos de 110%
do volume de reservas cambiais
no período em 2004, ante quase
200% em 2002 e 300% no biênio
2000/2001.
O analista da Fitch argumenta
também que a manutenção das
perspectivas de crescimento são
fatores importantes. "2004 foi um
bom ano, e o Brasil ainda sente os
reflexos, mas o horizonte da nossa
classificação é de longo prazo.
Avaliamos títulos da dívida com
maturidade de 10 anos, por exemplo", diz.
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