São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAIBA MAIS

Inclusão no "grau de investimento" pode baixar juros

DA REPORTAGEM LOCAL

A inclusão do Brasil na categoria de países com a nota de crédito de "grau de investimento" pode se traduzir em mudanças relevantes no economia brasileira.
De acordo com Roberto Rigobon, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), uma vez que o país faça parte desse grupo, as taxas de juros sofreriam uma queda "dramática e quase imediata".
Outro ponto importante seria a diminuição da vulnerabilidade do Brasil a choques externos, o que não ocorre hoje. Ao ser considerado como uma economia de "grau especulativo", o Brasil fica impossibilitado de receber investimentos de melhor qualidade. Fundos de pensão dos Estados Unidos, da Europa e do Japão, por exemplo, têm restrições a aplicações em papéis de países que não estão na categoria de "grau de investimento". Essa limitação diminui o número de potenciais investidores no país.
Com isso, quando ocorre uma crise num outro país emergente, a economia brasileira torna-se mais passível de contágio, pois os investidores tendem a abandonar os ativos nas economias emergentes em "grau especulativo".
"Uma elevação a "grau de investimento" aumenta a base de investidores, o que ajuda a diminuir o custo do crédito. Vimos isso no México [que foi elevado em 2000] e estamos vendo na Rússia", afirmou Mohamed El-Erian, da Pimco Investimentos. A corretora americana administra cerca de US$ 20 bilhões em títulos da dívida de economias emergentes. De fato, no caso da Rússia, já houve uma diminuição expressiva na diferença entre os papéis do tesouro americano e os papéis da Rússia com vencimento em 2030. Essa diferença caiu cerca de 40 pontos-base nas semanas seguintes aos "upgrades" da S&P e da Fitch.
"Só boas coisas podem acontecer no Brasil em decorrência de uma elevação a "grau de investimento". Tudo fluirá melhor: a dinâmica da dívida, as contas fiscais...", argumentou Rigobon, do MIT. O México, cita o economista, experimentou uma melhoria da economia mesmo quando os EUA, principal parceiro da economia mexicana, passou por um processo de recessão, em 2001.
Luis Fernando Lopes, economista-chefe do banco Pátria, diz que "é preciso desmistificar o conceito de "investment grade'". "Não significa que o país é maravilhoso, que a economia não tem problemas e que as instituições [políticas] são maravilhosas", diz.
O economista, entretanto, avalia que uma nota de crédito mais alta por parte das agências se traduz numa melhoria do crédito e dos investimentos. O volume dos fluxos de aplicações nos mercados de capitais, como a Bolsa e o mercado de dívidas das empresas, que ainda não são tão expressivos no Brasil, se elevariam.

Critérios de avaliação
Apesar do aspecto abstrato da atribuição de ratings, eles levam em consideração fatores concretos da economia, por exemplo a trajetória de crescimento, a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) e alguns menos tangíveis, como o ambiente político.
Para os analistas ouvidos pela Folha, a data para a elevação da nota brasileira ainda é uma incógnita. "Não posso falar em tempo, mas posso falar em fatores que podem ajudar, como a melhoria do perfil da dívida", disse Lisa Schineller, da S&P.
Morgan Harting, da Fitch, diz que a nota brasileira deve permanecer no patamar atual por pelo menos mais um ano. A taxa de juros elevada, que aumenta o custo de pagamento da dívida pública brasileira, é apontada como entrave à elevação. Lopes, do banco Pátria, e Alex Agostina, da Consultoria GRC Visão, afirmam que o "grau de investimento" brasileiro pode ser alcançado em dois anos.


Texto Anterior: Rating: Brasil fica atrás em corrida por boa avaliação
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.