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Siderurgia pressiona por volta da tarifa no aço
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
As siderúrgicas brasileiras
querem restabelecer as tarifas
de importação de aço que foram eliminadas há dois anos
em meio a uma queda-de-braço
sobre o preço do produto no
mercado interno.
A Folha apurou que um dos
principais argumentos do setor
para pedir a volta da proteção é
a alta das exportações da China, que responde por 30% da
produção mundial de aço.
O país asiático inverteu sua
posição no mercado global e,
em 2006, foi exportador líquido do produto. As vendas de
aço da China a outros países
cresceram 110% e alcançaram
43 milhões de toneladas, mais
que toda a produção brasileira,
de 31 milhões de toneladas.
Já as importações chinesas
diminuíram 28,3%, para 18,5
milhões de toneladas de aço, o
que gerou um saldo de 24,5 milhões de toneladas.
O fantasma de uma China
que venha a despejar aço no
mundo assombra siderúrgicas
ao redor do planeta, e os números de 2006 fizeram soar o
alarme em vários países. As
empresas européias e norte-americanas estão pedindo a
adoção de tarifas contra a importação de aço chinês. Na
América Latina, México e Chile
são os mais afetados.
O Brasil não elevou suas importações de aço da China, que
são insignificantes, mas o temor das siderúrgicas é que o
produto acabe entrando no
país se forem impostas barreiras na Europa ou nos EUA.
As importações norte-americanas de aço chinês aumentaram 133% entre 2005 e 2006,
para 5,4 milhões. Na Europa, as
compras somaram 5 milhões
de toneladas nos primeiros nove meses do ano passado, alta
de 141% em relação a igual período do ano anterior. O México viu as importações de aço da
China darem um salto de 490%
de janeiro a setembro de 2006,
para 505 mil toneladas.
O país asiático ocupa há mais
de uma década o posto de
maior fabricante de aço do
mundo. No ano passado, a China produziu 417 milhões de toneladas, 313% a mais que o registrado em 1996. A previsão
do governo para 2007 é de aumento de 15% nesse volume,
para 480 milhões de toneladas.
Em 2005, os 355,8 milhões
de toneladas da China superaram a soma da produção dos
quatro países que aparecem
em seguida no ranking das potências siderúrgicas: Japão,
EUA, Rússia e Coréia do Sul.
Tarifa zerada
A tarifa brasileira para importação de 15 produtos de aço
foi zerada em março de 2005,
depois de aumentos no preço
do produto. A pressão pela adoção da medida partiu de setores
industriais que utilizam o aço
em sua produção, como o automobilístico e o de embalagens.
O Ministério da Fazenda
também defendeu a medida,
preocupado com o impacto dos
reajustes sobre a inflação. Em
2004, produtos de ferro, aço e
derivados haviam registrado alta de preços de 59%.
Além disso, no início de 2005
houve reajuste de 71,5% no minério de ferro, matéria-prima
da produção de aço.
A disputa foi decidida pela
Camex (Câmara de Comércio
Exterior), que incluiu 15 produtos de aço na lista de 100 itens
que podem ficar fora da TEC
(Tarifa Externa Comum) do
Mercosul.
Chamada de "lista de exceção", a relação permite a cobrança de tarifas superiores ou
inferiores àquelas praticadas
pelo Mercosul para cada produto. Se o governo quer estimular a importação de um
bem, como era o caso do aço, a
tarifa é reduzida ou zerada. A
alíquota para os 15 produtos incluídos na relação há dois anos
variava de 10% a 12%.
São esses percentuais que as
siderúrgicas querem restabelecer agora. A lista de exceção é
revista a cada seis meses, quando 20 dos 100 itens podem ser
modificados. Para que a pretensão das siderúrgicas seja
atendida, os produtos de aço
têm de sair da lista e voltar a ter
as alíquotas que foram zeradas.
A eliminação das tarifas funcionou como um freio aos reajustes, já que os grandes consumidores locais tinham a opção
de importar aço, caso houvesse
reajuste no mercado interno.
A decisão da Camex deve sair
logo nos próximos dias. No ano
passado, a lista revista foi divulgada no dia 7 de março.
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