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SALTO NO ESCURO
Consumidores vão pagar até 2005 as perdas de receita que as distribuidoras tiveram durante o racionamento
Aumento extra de energia vai durar mais
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O reajuste extra que os consumidores de energia estão pagando
desde dezembro do ano passado
por causa das perdas de receita
que as distribuidoras de energia
tiveram com o racionamento vai
durar mais do que o anunciado
inicialmente pelo governo.
A duração média do aumento
-de 2,9% a 7,9% - era de três
anos. Ou seja, iriam até o final de
2004. Agora, vão durar mais nove
meses e podem ultrapassar o segundo semestre de 2005.
A extensão do aumento extra
servirá para que distribuidoras de
energia elétrica compensem perdas que alegam ter tido com custos chamados "não-gerenciáveis"
ou "parcela A", entre janeiro e setembro do ano passado.
"Haverá uma extensão do reajuste extra, de 36 para aproximadamente 45 meses", disse ontem
Octávio Castello Branco, diretor
de infra-estrutura do BNDES e
coordenador do Comitê de Revitalização do Setor Elétrico.
Os principais custos "não-gerenciáveis" são os ligados ao dólar
-energia comprada da hidrelétrica da Itaipu- e ao subsídio à
geração de energia das termelétricas instaladas até 1998 (contabilizado na CCC, conta consumo de
combustíveis). Essa energia é
mais cara que a gerada pelas hidrelétricas.
Para recompor essas perdas, o
BNDES criou uma linha de crédito de R$ 1,5 bilhão para fazer empréstimos às distribuidoras. A
ampliação no prazo de duração
do aumento extra serve para que
as distribuidoras de energia arrecadem mais dinheiro com as tarifas e possam pagar o empréstimo
do banco estatal.
Antes do racionamento, as distribuidoras de energia elétrica já
brigavam com a Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica) na
Justiça para que houvesse reajuste
extraordinário para compensar
perdas com os custos "não-gerenciáveis".
Em setembro do ano passado, o
governo reconheceu que as distribuidoras tinham direito a essas
perdas e criou um mecanismo para que elas fossem repassadas integralmente para o consumidor
-uma espécie de conta de compensação.
Desde a criação do mecanismo,
as distribuidoras contabilizam as
perdas com aumentos de custos
"não-gerenciáveis" ao longo do
ano e, na data prevista para o reajuste anual da tarifa, o custo será
repassado na íntegra para o consumidor, fazendo com que os aumentos anuais da conta de luz sejam maiores.
O novo mecanismo permite
também que, em tese, haja ganhos para o consumidor. Isso
acontece no caso de valorização
do real em relação ao dólar ou redução dos gastos com subsídios
às usinas termelétricas. Nesse caso, a conta de compensação atua
como se fosse um redutor de tarifas, diminuindo o reajuste anual.
Para ter direito ao crédito do
BNDES, no entanto, as distribuidoras precisam desistir de ações
na Justiça que pediam reajuste extraordinário para compensar perdas com os custos "não-gerenciáveis". Quanto entraram na Justiça, as distribuidoras argumentavam que seria necessário reajuste
de 7% a 10% para haver recomposição dessas perdas.
No total, o BNDES tem aproximadamente R$ 7,5 bilhões para o
setor elétrico repor as perdas com
o racionamento e com os custos
"não-gerenciáveis". Desses, cerca
de R$ 4 bilhões são para as perdas
com a redução de consumo de
energia no racionamento e R$ 2
bilhões para perdas com compra
de energia no mercado atacadista
a preços mais caros. Além disso,
mais R$ 1,5 bilhão destinado a repor perdas com os custos "não-gerenciáveis".
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