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LUÍS NASSIF
A vitória do
homem-massa O comportamento da
imprensa norte-americana na guerra contra o Iraque
traz à tona reflexões preocupantes sobre o papel da mídia nas
modernas democracias. Cada
vez mais, não deu manchete,
não aconteceu. O avanço da democracia tornou a opinião pública uma referência cada vez
mais relevante.
A agilidade do mundo moderno e a busca de resultados rápidos acabaram reduzindo o peso
das instituições tradicionais, como o Parlamento e o Judiciário.
Fora do período eleitoral, as pesquisas de opinião acabam por
condicionar o comportamento
das autoridades.
Além disso, a partir do episódio Watergate, a manipulação
de denúncias tornou-se elemento corrente no jogo político, ampliando ainda mais a influência
da mídia.
De seu lado, a mídia tornou-se
cada vez mais um produto de
marketing, prisioneira de suas
próprias pesquisas de opinião e
-por causa da crise internacional do setor- muito mais temerosa de ir contra o que considera
pensamento majoritário de seus
leitores.
Mais que isso, a crise atual da
mídia não pode ser encarada
como um movimento conjuntural. A mudança é estrutural.
Ampliaram-se desmedidamente as fontes de divulgação, pulverizaram-se as verbas publicitárias, enfraquecendo e/ou tornando superficial a mídia tradicional, que era referência de
opinião.
Criou-se, aí, um cadinho perigoso, que acabou provocando
esse paradoxo: em plena época
da informação, em pleno século
21, uma manipulação do noticiário na nação mais poderosa
do planeta.
Não apenas isso. Hoje em dia,
há uma ampla pobreza na discussão econômica, na discussão
de projeto de país, uma enorme
dificuldade para discutir políticas tecnológicas, de saúde. Por
vezes fica-se pensando que nossa geração é intelectualmente
pobre, não gerou um Eliezer
Baptista, um Roberto Campos,
um Celso Furtado. Mas, às vezes, baixa o temor de que a superficialidade seja inerente ao
mundo contemporâneo.
A televisão não comporta
mais do que duas frases articuladas. As revistas têm espaço
restrito e, pelo menos desde os
anos 70, as reportagens são planejadas antes que o conteúdo
seja apurado, na velha receita
do "Times". Os jornais têm espaço para os chamados artigos
de fundo, mas o que conta e influencia são as manchetes. E todas elas são condicionadas pelo
que se pensa que o leitor queira
receber, simplificando sempre
para não atrapalhar o produto.
Esses movimentos acabam se
impondo sobre o Parlamento e,
muitas vezes, condicionando
ações do Judiciário.
Não surpreende, pois, o comportamento de manada tomando conta da mídia, os linchamentos, a mediocrização das
fontes privilegiando sempre
aquela que traz obviedades sem
risco. É esse modelo que faz com
que, na pátria dos direitos individuais, em pleno século 21 se tenha o retorno ao macartismo.
Ao ver o destino da humanidade nas mãos de uma pessoa
como George W. Bush, a maneira extremamente fácil com que
se manipulam informações,
com que se investe contra a racionalidade, há que pensar que,
em vez da nova Renascença, o
futuro nos reserva a vitória final
do homem-massa sobre a razão
e o bom senso.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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