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Relação dos EUA com
opositores pode azedar
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A oposição franco-germânica à
decisão dos Estados Unidos de
atacar o Iraque pode vir a azedar
as relações econômicas entre os
três parceiros comerciais.
A curto prazo, a primeira resposta a divergências geopolíticas
entre os países partiria dos consumidores. Uma reação imediata
poderia ser um boicote informal
nos EUA a produtos de origem
francesa e alemã. Uma redução
do número de turistas americanos à França também pode vir na
esteira de um crescente sentimento de francofobia nos EUA, segundo Philip Whyte, 37, economista sênior da EIU (Economist
Intelligence Unit).
Para a França -que, em 2001,
exportou o equivalente a US$ 25,7
bilhões para os EUA-, um boicote iria afetar o setor de alimentos e bebidas e de artigos de luxo,
os principias itens da pauta de exportação. Já na Alemanha, que
obteve US$ 60,4 bilhões com exportações para os EUA no mesmo
período, as indústrias de bens de
capital e automobilística poderiam ser atingidas. "Esse tipo de
comportamento dos consumidores norte-americanos é previsível
e esperado, mas deve ter um impacto modesto no comércio entre
esses países. Com o passar do
tempo, tenderá a se dissipar", disse Whyte.
Retaliação direta
A hipótese de uma retaliação
comercial direta dos EUA contra
os países europeus que se opõem
à guerra é descartada pelo economista. "Como França e Alemanha
fazem parte da União Européia,
qualquer retaliação econômica a
um deles repercutiria em todo o
bloco. Por essa razão, os Estados
Unidos não conseguiriam impor
barreiras tarifárias exclusivamente para eles", afirmou.
A via contrária, ou seja, a obtenção de privilégios econômicos por
parte do Reino Unido, em decorrência do seu alinhamento político com os Estados Unidos, é vista
com ceticismo por Whyte. Para
ele, num primeiro momento poderia ocorrer uma preferência de
investidores americanos pelo
mercado britânico. Mas com o
passar do tempo a busca pelos
melhores investimentos, a despeito da nacionalidade dos mercados, deve prevalecer.
Espólios de guerra
Se as retaliações comerciais oficiais dos EUA estão praticamente
descartadas, os espólios da guerra
no Iraque -leia-se contratos de
exploração de petróleo da região- devem ser desviados das
mãos de empresas francesas para
norte-americanas ou de aliados.
A francesa TotalElf, por exemplo, tem US$ 7,4 bilhões previstos
para investimentos em contratos
para futura exploração e produção de petróleo no Iraque.
"Com uma ocupação americana no Iraque, a França corre o risco de não conseguir concretizar
esses projetos", diz Pierre Dockès,
63, diretor do Centro de Estudos
Internacionais Léon Walras, em
Lyon, França.
O mesmo cenário é projetado
por Whyte. "Possivelmente a
França vai perder esses contratos,
o que também pode ocorrer com
o Reino Unido. O mais provável é
que os EUA fiquem com o maior
número possível de espólios."
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