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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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Relação dos EUA com opositores pode azedar

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A oposição franco-germânica à decisão dos Estados Unidos de atacar o Iraque pode vir a azedar as relações econômicas entre os três parceiros comerciais.
A curto prazo, a primeira resposta a divergências geopolíticas entre os países partiria dos consumidores. Uma reação imediata poderia ser um boicote informal nos EUA a produtos de origem francesa e alemã. Uma redução do número de turistas americanos à França também pode vir na esteira de um crescente sentimento de francofobia nos EUA, segundo Philip Whyte, 37, economista sênior da EIU (Economist Intelligence Unit).
Para a França -que, em 2001, exportou o equivalente a US$ 25,7 bilhões para os EUA-, um boicote iria afetar o setor de alimentos e bebidas e de artigos de luxo, os principias itens da pauta de exportação. Já na Alemanha, que obteve US$ 60,4 bilhões com exportações para os EUA no mesmo período, as indústrias de bens de capital e automobilística poderiam ser atingidas. "Esse tipo de comportamento dos consumidores norte-americanos é previsível e esperado, mas deve ter um impacto modesto no comércio entre esses países. Com o passar do tempo, tenderá a se dissipar", disse Whyte.

Retaliação direta
A hipótese de uma retaliação comercial direta dos EUA contra os países europeus que se opõem à guerra é descartada pelo economista. "Como França e Alemanha fazem parte da União Européia, qualquer retaliação econômica a um deles repercutiria em todo o bloco. Por essa razão, os Estados Unidos não conseguiriam impor barreiras tarifárias exclusivamente para eles", afirmou.
A via contrária, ou seja, a obtenção de privilégios econômicos por parte do Reino Unido, em decorrência do seu alinhamento político com os Estados Unidos, é vista com ceticismo por Whyte. Para ele, num primeiro momento poderia ocorrer uma preferência de investidores americanos pelo mercado britânico. Mas com o passar do tempo a busca pelos melhores investimentos, a despeito da nacionalidade dos mercados, deve prevalecer.

Espólios de guerra
Se as retaliações comerciais oficiais dos EUA estão praticamente descartadas, os espólios da guerra no Iraque -leia-se contratos de exploração de petróleo da região- devem ser desviados das mãos de empresas francesas para norte-americanas ou de aliados.
A francesa TotalElf, por exemplo, tem US$ 7,4 bilhões previstos para investimentos em contratos para futura exploração e produção de petróleo no Iraque.
"Com uma ocupação americana no Iraque, a França corre o risco de não conseguir concretizar esses projetos", diz Pierre Dockès, 63, diretor do Centro de Estudos Internacionais Léon Walras, em Lyon, França.
O mesmo cenário é projetado por Whyte. "Possivelmente a França vai perder esses contratos, o que também pode ocorrer com o Reino Unido. O mais provável é que os EUA fiquem com o maior número possível de espólios."


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