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Todos vêem perigo de elevar tributação sobre folha de pagamento
Ministros e aliados criticam aumento de contribuição
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A proposta do governo de aumentar a contribuição previdenciária paga por empresas e trabalhadores para obter recursos para
o pagamento de dívida atrasada
com os aposentados, apresentada
pelo ministro Amir Lando (Previdência Social), foi criticada por
outros ministros, por líderes do
governo no Congresso e pela oposição.
O ministro Ricardo Berzoini
(Trabalho), antecessor de Lando
na Previdência, disse que o governo deveria buscar outra "alternativa" para garantir o pagamento,
que começou a ser negociado no
ano passado. Segundo ele, o aumento da contribuição previdenciária poderá elevar a tributação
sobre a folha de pagamento.
Apesar de defender outra alternativa, Berzoini ressaltou que o
pagamento dos atrasados, além
da correção do benefício atual, vai
elevar o poder de compra dos
aposentados e isso é uma medida
positiva. Sua avaliação foi feita
após reunião com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do
governo no Senado.
""A solução deve levar em consideração a responsabilidade orçamentária. Não podemos pagar
sem ter fonte de recurso. No entanto, creio que a base tributária
deve ser estudada com profundidade.(...) Para qualquer adicional
de contribuição, você deve levar
em consideração uma gradual desoneração, a partir da substituição por uma outra base tributária,
como, por exemplo, o faturamento do lucro líquido", afirmou Berzoini.
Questionado sobre a proposta,
após evento no Palácio do Planalto, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou: "Isso é uma idéia, um balão
de ensaio. Mas todo aumento de
imposto não é uma boa idéia".
Lideranças governistas
Para Miro Teixeira (sem partido-RJ), líder do governo na Câmara dos Deputados, a proposta
de aumentar a contribuição previdenciária para pagar diferença
aos aposentados "é muito ruim" e
não seria aprovada pelo Legislativo. "Não há dúvida nenhuma de
que a idéia não prosperará. Posso
lhe assegurar que isso não passa
na Câmara dos Deputados", afirmou Miro.
Segundo ele, uma medida como
essa causaria mais problemas, como o aumento da informalidade e
a quebra de empresas. "O empresariado não resistiria a isso", disse. Ele afirmou supor que a intenção de Amir Lando -por quem
diz ter ""enorme admiração"- foi
chamar a atenção para o debate
em torno do tema.
Mercadante defendeu ""medidas compensatórias" à elevação
da carga previdenciária, para não
onerar a folha de pagamento. Para ele, como a Previdência não
tem recursos em caixa para fazer
o pagamento, é preciso buscar
uma fonte de financiamento, mas
de uma forma que ela não prejudique o emprego formal.
"O governo não tem uma máquina para imprimir dinheiro e
distribuir. Então, precisamos buscar uma fonte de receita nova.
Mas essa fonte não pode sobrecarregar a folha de pagamento",
disse o líder. Mercadante acrescentou que, se for necessário criar
alguns tributos "nessa direção
[elevando a carga sobre a folha de
pagamento], temos que retirar
outros, para desonerar e compensar o impacto para que o emprego
seja, de fato, prioridade na política de desenvolvimento do país".
"Tiro no pé"
A proposta da Previdência também foi condenada por senadores
do PSDB. Para o líder do partido,
Arthur Virgílio (AM), ela será
""um tiro no pé" do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
""O governo poderia, por exemplo, pensar em cortar alguns supérfluos, como a compra do avião
presidencial, que é uma coisa grotesca. Deveria ver onde cortar
despesas, e não aumentar a carga
tributária. Essa mágica está esgotada", afirmou. Lula vai gastar
US$ 56 milhões com um Airbus
novo para a Presidência.
O deputado Custódio Mattos
(MG), líder do PSDB na Câmara,
considerou a proposta de Lando
"ridícula" e também afirmou que
ela não tem chance de ser aprovada no Congresso. "Pode ser um
balão de ensaio [divulgação de
uma idéia para avaliar sua repercussão], só para criar dificuldades
e justificar o não-pagamento aos
aposentados, porque é ridícula",
declarou.
"Com a carga tributária como
está, o país crescendo zero por
cento e a conseqüente queda da
renda, propor aumento de contribuição é coisa tonta. Mesmo que
o Executivo aceite essa proposta, é
impossível aprovar isso no Congresso e o ministro, como parlamentar, sabe disso", completou.
Lando se licenciou do Senado para assumir a vaga de ministro em
janeiro.
Para o senador Álvaro Dias
(PSDB-PR), o governo deveria tributar o sistema financeiro para
arranjar os recursos devidos aos
aposentados e pensionistas em
vez de ""lançar mão ao bolso do
contribuinte".
Dias defendeu que o Congresso
rejeite a proposta do governo e fez
um apelo para que o PMDB ""evite
o desatino" de atingir o trabalhador brasileiro.
Interrompendo o discurso de
Dias, o senador Ramez Tebet
(PMDB-MS) afirmou discordar
da elevação da carga tributária como solução para o problema da
dívida com aposentados e pensionistas.
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