São Paulo, sábado, 20 de março de 2004

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APOIO

Evento é marcado por discursos favoráveis à atual política econômica

Posse do novo presidente da Febraban vira ato pró-Lula

ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO

GUILHERME BARROS
DO PAINEL S.A.

Apesar das turbulências políticas -minimizadas como "soluços" pelo banqueiro Lázaro Brandão (Bradesco)-, a solenidade de posse do novo presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Márcio Cypriano, transformou-se ontem numa festa de apoio ao governo Lula, principalmente à política econômica.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) ficou preso no trânsito e foi o último a chegar, mais de duas horas depois do início da solenidade, que começou às 17h30, no hotel Transamérica, em São Paulo. Mesmo assim, foi uma das estrelas da noite, citado em quase todos os discursos.
Também presente, o ministro José Dirceu (Casa Civil) chegou cedo, sentou-se à esquerda de Cypriano e passou em silêncio as cerca de três horas da solenidade, que teve muitos e longos discursos, sob um ar condicionado congelaste. No final, Fábio Barbosa, presidente do ABN Amro, reclamou: "Estou com dor nas costas de tanto frio".
Discursaram Palocci, Henrique Meirelles (Banco Central), os antigos e os novos presidentes da Febraban e da CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), e o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).
Marta, a única mulher na mesa principal e uma das poucas presentes, fez um apelo a uma "nação unida" e condenou a "politicagem irresponsável".
Alckmin, que fez o discurso mais rápido e de improviso, foi o mais aplaudido. Numa solenidade de banqueiros e petistas, o tucano manifestou apoio a Palocci e à estabilidade. Defendeu, ainda, que as questões partidárias não prejudicassem o país.
À saída, Lázaro Brandão comentou com a Folha que a crise desencadeada pelo caso Waldomiro Diniz (o assessor de Dirceu filmado pedindo propina) não interferiria na economia: "São soluços, mas o país caminha. O que está acontecendo agora são pequenas travas na economia, o crédito ainda não aumentou, mas isso passa".
Se não quis comentar a pequena queda do juros (0,25 ponto percentual), decidida na quarta-feira, Brandão sorriu ao falar sobre a hipótese levantada pelo ministro Almir Lando (Previdência) de aumento de três pontos percentuais na contribuição previdenciária de empregados e empregadores: "Isso não vai prosperar".
Essa foi também a opinião do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, um dos poucos representantes do setor produtivo na solenidade. Segundo Piva, "isso [o aumento da alíquota] não pode ser sério".
Os ministros já tinham saído, quase fugido, antes mesmo do coquetel. Cercados por uma multidão de jornalistas, câmeras e gravadores, Dirceu e Palocci conseguiram se esgueirar pela cozinha sem abrir a boca.
As portas fecharam-se, e Meirelles, que vinha logo atrás, ficou trancado do lado de fora. Mas por pouco. Logo alguém entreabriu a porta, e ele também escapou.


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