São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2006

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Valorização do real atinge recorde

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca o real esteve tão valorizado. É como se os R$ 2,126 por dólar registrados na sexta-feira valessem mais do que o R$ 1,00 do início do Plano Real, em 1994.
Dados pertencentes ao Ipeadata mostram que o índice de taxa de câmbio efetiva real marcou seu mais baixo patamar no mês passado. Para chegar ao índice, foi utilizado o IPA-OG (Índice de Preços do Atacado-Oferta Global) como deflator, além dos índices de preços no atacado de 16 dos mais importantes parceiros comerciais do país.
Para o setor exportador, esse tipo de notícia não costuma ser animadora. Isso porque os produtos brasileiros, quando convertidos em dólares, estão custando mais caro do que nos últimos anos.
Assim, se o cenário internacional deixar de ser tão favorável -como tem sido nos últimos meses-, o setor exportador pode ver a demanda por seus produtos encolher, perdendo terreno para bens de outros países.
"Acho drástica a questão cambial. E a tendência é a de o dólar seguir em baixa, pois tem sobrado muita moeda no mercado", diz Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Alguns pontos ajudam a explicar o porquê de o real estar tão apreciado. Um deles são os elevados superávits da balança comercial brasileira, que acabam por aumentar a disponibilidade de dólares no mercado, em um momento em que ninguém está interessado em adquirir a moeda.
Outro importante fator é a forte e persistente especulação a favor da moeda brasileira. Pelo menos desde setembro passado, grandes investidores estrangeiros têm realizado operações financeiras nas quais lucram mais se o real se mantiver apreciado. Isso tem acontecido devido às elevadíssimas taxas de juros brasileiras. Nenhum país do mundo tem juros reais mais altos que os do Brasil.
"O câmbio está supervalorizado, mas ainda não se tornou tão nocivo a ponto de prejudicar os superávits comerciais", diz Jason Vieira, economista da GRC Visão.
Desde o ano passado, o setor exportador tem intensificado suas reclamações em relação ao câmbio. Mas as medidas do Banco Central não conseguiram alterar a rota de depreciação do dólar.
Além de comprar dólares praticamente todos os dias das instituições financeiras, o BC passou a realizar, no fim de 2005, leilões de contratos de "swap cambial reverso". As operações de "swap cambial reverso" têm o efeito de compra de dólares no mercado futuro, representando elevação na demanda pela moeda estrangeira.
"O BC está é muito mais preocupado com a inflação. E o câmbio em níveis baixos representa uma fonte de pressão a menos sobre os índices de preços", diz o economista da GRC Visão, para explicar o motivo de achar que o BC não deve tomar nenhuma medida nova para tentar deter a apreciação do real.
Segatto, da Abracex, diz que só consegue enxergar um ponto positivo decorrente do real valorizado. "Há empresas que estão aproveitando o momento para importar máquinas e equipamentos, o que é positivo."


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