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Valorização do real atinge recorde
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nunca o real esteve tão valorizado. É como se os R$ 2,126 por dólar registrados na sexta-feira valessem mais do que o R$ 1,00 do
início do Plano Real, em 1994.
Dados pertencentes ao Ipeadata
mostram que o índice de taxa de
câmbio efetiva real marcou seu
mais baixo patamar no mês passado. Para chegar ao índice, foi
utilizado o IPA-OG (Índice de
Preços do Atacado-Oferta Global)
como deflator, além dos índices
de preços no atacado de 16 dos
mais importantes parceiros comerciais do país.
Para o setor exportador, esse tipo de notícia não costuma ser animadora. Isso porque os produtos
brasileiros, quando convertidos
em dólares, estão custando mais
caro do que nos últimos anos.
Assim, se o cenário internacional deixar de ser tão favorável
-como tem sido nos últimos
meses-, o setor exportador pode
ver a demanda por seus produtos
encolher, perdendo terreno para
bens de outros países.
"Acho drástica a questão cambial. E a tendência é a de o dólar
seguir em baixa, pois tem sobrado
muita moeda no mercado", diz
Roberto Segatto, presidente da
Abracex (Associação Brasileira de
Comércio Exterior).
Alguns pontos ajudam a explicar o porquê de o real estar tão
apreciado. Um deles são os elevados superávits da balança comercial brasileira, que acabam por
aumentar a disponibilidade de
dólares no mercado, em um momento em que ninguém está interessado em adquirir a moeda.
Outro importante fator é a forte
e persistente especulação a favor
da moeda brasileira. Pelo menos
desde setembro passado, grandes
investidores estrangeiros têm realizado operações financeiras nas
quais lucram mais se o real se
mantiver apreciado. Isso tem
acontecido devido às elevadíssimas taxas de juros brasileiras. Nenhum país do mundo tem juros
reais mais altos que os do Brasil.
"O câmbio está supervalorizado, mas ainda não se tornou tão
nocivo a ponto de prejudicar os
superávits comerciais", diz Jason
Vieira, economista da GRC Visão.
Desde o ano passado, o setor exportador tem intensificado suas
reclamações em relação ao câmbio. Mas as medidas do Banco
Central não conseguiram alterar a
rota de depreciação do dólar.
Além de comprar dólares praticamente todos os dias das instituições financeiras, o BC passou a
realizar, no fim de 2005, leilões de
contratos de "swap cambial reverso". As operações de "swap cambial reverso" têm o efeito de compra de dólares no mercado futuro,
representando elevação na demanda pela moeda estrangeira.
"O BC está é muito mais preocupado com a inflação. E o câmbio em níveis baixos representa
uma fonte de pressão a menos sobre os índices de preços", diz o
economista da GRC Visão, para
explicar o motivo de achar que o
BC não deve tomar nenhuma medida nova para tentar deter a
apreciação do real.
Segatto, da Abracex, diz que só
consegue enxergar um ponto positivo decorrente do real valorizado. "Há empresas que estão aproveitando o momento para importar máquinas e equipamentos, o
que é positivo."
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