São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Crise intensifica manifestações na França

Franceses voltam às ruas para protestar contra reação de Sarkozy à turbulência global; governo diz que "não tem como fazer mais"

Movimento no país, que reuniu 1,2 milhão, segundo a polícia, cobra medidas como elevação do salário mínimo e da ajuda a desempregados


CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Pela segunda vez em menos de dois meses, os franceses foram às ruas ontem para protestar contra a resposta do governo às consequências da crise econômica mundial. Em todo o país, cerca de 3 milhões de pessoas, segundo os cálculos dos sindicatos -1,2 milhão, segundo a polícia- participaram das passeatas. Essa foi a maior mobilização social desde a posse do presidente Nicolas Sarkozy, em maio de 2007. Em Bruxelas, o presidente francês disse que "poderia ter sido pior".
Em Paris, a passeata percorreu cerca de 4 km da Place de la République, no início da tarde, rumo à Place de la Nation, no sul na capital francesa. Funcionários públicos, estudantes, metalúrgicos e profissionais de saúde e de grandes empresas, como Carrefour e Total, apareciam com destaque entre os manifestantes que bradavam slogans contra o capitalismo, contra a especulação financeira e contra o presidente Sarkozy.
"Estou aqui para protestar contra a queda do poder aquisitivo. A crise é só para os pobres. Os patrões continuam recebendo bônus e dividendos", disse a aposentada Valentine D'Angelo, 76, que estava com um grupo de aposentados filiados ao Partido Comunista. Ao saber que a reportagem era para um jornal brasileiro, ela quis comentar sobre o Brasil: "É uma boa coisa que Lula esteja no poder neste momento, mas vai ser difícil ele conseguir vencer os capitalistas".
As greves e as manifestações populares são uma tradição da vida política francesa. "Ir às ruas é a única arma que temos para dizer que essa política não nos agrada. Isso é muito maior que a crise. Temos que lutar contra o desmantelamento de tudo o que conseguimos", diz Pierre Morin, 53, funcionário público da área de tributação.
O fim da passeata em Paris foi marcado por alguns atos de vandalismo de grupos que se declaravam anarquistas. Mas, na avaliação das oito centrais sindicais organizadoras do movimento, a greve foi um sucesso. Os sindicatos prometem novos protestos contra os planos econômicos da equipe de Sarkozy considerados ineficazes.
Em um comunicado, a FO (força operária) afirmou que o objetivo da greve foi "sensibilizar a política do governo e das empresas para os salários, o emprego e o serviço público".
Ao final do dia de ontem, o primeiro-ministro, François Fillon, declarou que o governo "tem de ser responsável". Ele enfatizou que o déficit da França dobrou com o conjunto de pacotes e que não há como "fazer mais". A partir de abril, as famílias mais pobres receberão uma ajuda de 200 -o Partido Socialista, de oposição, queria 600. Fillon também descartou a alta do salário mínimo.
O governo estima uma queda de 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2009, além de déficit superior a 5% do PIB e dívida pública de 72% do PIB.

Adesão
No total, 229 manifestações foram organizadas em diversas cidades francesas. Para os sindicatos, a greve de ontem é um instrumento de barganha para forçar novas negociações com o governo: o aumento do salário mínimo (hoje em torno de 1.110, R$ 3.300) e indenizações mais altas para os desempregados. Outra reivindicação: um pacote de 2,5 bilhões para ajudar os recém-desempregados e estimular o consumo das famílias em dificuldade.
Na capital francesa, o metrô e as linhas de ônibus tiveram circulação "quase normal", segundo a empresa municipal de transportes urbanos. O tráfego aéreo foi atingido. No aeroporto de Orly, 30% dos voos tiveram cancelamento; no aeroporto Charles de Gaulle (voos de longa distância), foram 10%.


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