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Crise intensifica manifestações na França
Franceses voltam às ruas para protestar contra reação de Sarkozy à turbulência global; governo diz que "não tem como fazer mais"
Movimento no país, que reuniu 1,2 milhão, segundo a polícia, cobra medidas como elevação do salário mínimo e da ajuda a desempregados
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Pela segunda vez em menos
de dois meses, os franceses foram às ruas ontem para protestar contra a resposta do governo às consequências da crise
econômica mundial. Em todo o
país, cerca de 3 milhões de pessoas, segundo os cálculos dos
sindicatos -1,2 milhão, segundo a polícia- participaram das
passeatas. Essa foi a maior mobilização social desde a posse
do presidente Nicolas Sarkozy,
em maio de 2007. Em Bruxelas,
o presidente francês disse que
"poderia ter sido pior".
Em Paris, a passeata percorreu cerca de 4 km da Place de la
République, no início da tarde,
rumo à Place de la Nation, no
sul na capital francesa. Funcionários públicos, estudantes,
metalúrgicos e profissionais de
saúde e de grandes empresas,
como Carrefour e Total, apareciam com destaque entre os
manifestantes que bradavam
slogans contra o capitalismo,
contra a especulação financeira
e contra o presidente Sarkozy.
"Estou aqui para protestar
contra a queda do poder aquisitivo. A crise é só para os pobres.
Os patrões continuam recebendo bônus e dividendos",
disse a aposentada Valentine
D'Angelo, 76, que estava com
um grupo de aposentados filiados ao Partido Comunista. Ao
saber que a reportagem era para um jornal brasileiro, ela quis
comentar sobre o Brasil: "É
uma boa coisa que Lula esteja
no poder neste momento, mas
vai ser difícil ele conseguir vencer os capitalistas".
As greves e as manifestações
populares são uma tradição da
vida política francesa. "Ir às
ruas é a única arma que temos
para dizer que essa política não
nos agrada. Isso é muito maior
que a crise. Temos que lutar
contra o desmantelamento de
tudo o que conseguimos", diz
Pierre Morin, 53, funcionário
público da área de tributação.
O fim da passeata em Paris
foi marcado por alguns atos de
vandalismo de grupos que se
declaravam anarquistas. Mas,
na avaliação das oito centrais
sindicais organizadoras do movimento, a greve foi um sucesso. Os sindicatos prometem novos protestos contra os planos
econômicos da equipe de Sarkozy considerados ineficazes.
Em um comunicado, a FO
(força operária) afirmou que o
objetivo da greve foi "sensibilizar a política do governo e das
empresas para os salários, o
emprego e o serviço público".
Ao final do dia de ontem, o
primeiro-ministro, François
Fillon, declarou que o governo
"tem de ser responsável". Ele
enfatizou que o déficit da França dobrou com o conjunto de
pacotes e que não há como "fazer mais". A partir de abril, as
famílias mais pobres receberão
uma ajuda de 200 -o Partido
Socialista, de oposição, queria
600. Fillon também descartou a alta do salário mínimo.
O governo estima uma queda
de 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2009, além de déficit superior a 5% do PIB e dívida pública de 72% do PIB.
Adesão
No total, 229 manifestações
foram organizadas em diversas
cidades francesas. Para os sindicatos, a greve de ontem é um
instrumento de barganha para
forçar novas negociações com o
governo: o aumento do salário
mínimo (hoje em torno de
1.110, R$ 3.300) e indenizações
mais altas para os desempregados. Outra reivindicação: um
pacote de 2,5 bilhões para
ajudar os recém-desempregados e estimular o consumo das
famílias em dificuldade.
Na capital francesa, o metrô
e as linhas de ônibus tiveram
circulação "quase normal", segundo a empresa municipal de
transportes urbanos. O tráfego
aéreo foi atingido. No aeroporto de Orly, 30% dos voos tiveram cancelamento; no aeroporto Charles de Gaulle (voos
de longa distância), foram 10%.
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