São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Cúpula europeia resolve o que já foi resolvido

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Os líderes dos 27 países da União Europeia fazem hoje, em Bruxelas, a sua habitual cúpula de primavera (no hemisfério Norte) para tomar uma decisão sobre um assunto que já está resolvido: vetar novos pacotes de gasto público para reanimar a economia, contrariando o desejo da Casa Branca.
"Já fazemos o suficiente", disparou o primeiro-ministro tcheco, Mirek Topolanek, presidente de turno do bloco europeu neste primeiro semestre.
Mais: "Alguns de nossos países ainda não puseram em prática seus planos nacionais de retomada [da economia], de forma que não sabemos seu impacto, o que torna sem sentido introduzir novos planos".
O problema é que a posição europeia já ficara clara na reunião dos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais realizada sábado em Horsham (a 50 km de Londres).
Criara-se, mais na mídia do que na prática, um confronto verbal com Timothy Geithner, o secretário do Tesouro norte-americano, que, antes de chegar ao Reino Unido, citara 2% do PIB de cada país como um bom número para compor programas de reativação da economia -número, aliás, lançado originalmente pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Os europeus rejeitaram a proposta com o mesmo argumento de Topolanek e um adendo relevante: se aos programas de gasto público já anunciados se somarem o que o jargão chama de "estabilizadores automáticos", a UE gastará mais do que propuseram FMI e Geithner (3,3% de seu PIB, medida da renda de um país).
"Estabilizadores automáticos" são os programas sociais -generosos na UE, mas muito menos nos EUA. Caso do seguro-desemprego, por exemplo, que não deixa de ser gasto público com fins de animar a economia, porque o desempregado continua tendo uma renda que acaba gastando no consumo.
A chanceler alemã, Angela Merkel, líder da corrente contrária a novos programas de reativação, reconheceu ontem que se trata de um debate "artificial", mas "perigoso", entre europeus e norte-americanos, usando expressão que, antes do G20 de West Sussex, o presidente Barack Obama utilizara.
Ambos têm razão: o comunicado final dos ministros e banqueiros centrais do G20 afirma que seus países "estão preparados para tomar qualquer ação necessária até que o crescimento seja restabelecido".
Nesse "qualquer ação" cabem até mais programas de estímulo, como o que até Merkel diz aceitar: "A Alemanha só apoiará medidas que se refiram a projetos que comecem em 2009 ou 2010. Não se trata de respaldar iniciativas a executar em 2013, quando a crise estará mais que resolvida".
De todo modo, a cúpula europeia de hoje servirá para unificar posições, que já parecem unificadas, para outro encontro do G20, a cúpula de 2 de abril em Londres.
Exemplo claro: os europeus insistirão em que a cúpula aprove uma reforma da regulação/supervisão do sistema financeiro global, o que também está contemplado amplamente no comunicado de Horsham.


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