São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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ONU alerta para distorções do câmbio no comércio

Órgão aponta risco das flutuações sem controle

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Em meio aos temores de que a crise financeira produza uma onda global de protecionismo, a ONU alerta de que a flutuação sem controle do câmbio poderá causar distorções tão graves ao comércio mundial como as barreiras tarifárias.
A advertência faz parte de relatório da Unctad (Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento), que pede uma fiscalização multilateral do câmbio para evitar que ele seja regulado apenas pelo mercado.
A preocupação aumentou na semana passada, quando a Suíça tornou-se o primeiro país ocidental a intervir no câmbio para enfrentar a recessão. Ao desvalorizar sua moeda, o país espera recuperar a competitividade de suas exportações e conter a queda no turismo.
Mesmo sem política deliberada para derrubar a taxa de câmbio, o Brasil sofre os efeitos do fenômeno. Autoridades argentinas têm justificado as barreiras impostas a produtos brasileiros com a alegação de que elas são uma reação à "desvalorização competitiva" do real.
"Não é só a Suíça. Alguns emergentes também se beneficiam da desvalorização competitiva", disse nesta semana à CNN o presidente do BC argentino, Martín Redrado. "Se isso continuar, poderá gerar uma perigosa reação protecionista."
A desvalorização do real ante o dólar nos últimos meses aumentou a competitividade dos produtos brasileiros no mercado argentino, causando preocupação em Buenos Aires.
Para Heiner Flassbeck, diretor de Globalização e Desenvolvimento da Unctad, a Argentina sofre o contragolpe da decisão de deixar o câmbio em níveis baixos, após abandonar a paridade peso-dólar, em 2002.
"Agora eles estão com problemas, porque outros países estão desvalorizando a sua moeda. A Argentina enfrenta uma alta da inflação e perde parte de sua competitividade", disse Flassbeck, um dos autores do relatório da Unctad.
Mas ele concorda com Redrado sobre o câmbio como fator de risco protecionista. "As pessoas começam a ver a inconsistência de defender o livre comércio enquanto vivemos esse caos monetário."
O relatório sugere que as mudanças nas taxas de câmbio nominais sejam reguladas por organismos regionais, com base nas variações dos índices de inflação entre os países.


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