|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ONU alerta para distorções do câmbio no comércio
Órgão aponta risco das flutuações sem controle
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Em meio aos temores de que
a crise financeira produza uma
onda global de protecionismo,
a ONU alerta de que a flutuação
sem controle do câmbio poderá
causar distorções tão graves ao
comércio mundial como as barreiras tarifárias.
A advertência faz parte de relatório da Unctad (Conferência
da ONU para Comércio e Desenvolvimento), que pede uma
fiscalização multilateral do
câmbio para evitar que ele seja
regulado apenas pelo mercado.
A preocupação aumentou na
semana passada, quando a Suíça tornou-se o primeiro país
ocidental a intervir no câmbio
para enfrentar a recessão. Ao
desvalorizar sua moeda, o país
espera recuperar a competitividade de suas exportações e conter a queda no turismo.
Mesmo sem política deliberada para derrubar a taxa de
câmbio, o Brasil sofre os efeitos
do fenômeno. Autoridades argentinas têm justificado as barreiras impostas a produtos brasileiros com a alegação de que
elas são uma reação à "desvalorização competitiva" do real.
"Não é só a Suíça. Alguns
emergentes também se beneficiam da desvalorização competitiva", disse nesta semana à
CNN o presidente do BC argentino, Martín Redrado. "Se isso
continuar, poderá gerar uma
perigosa reação protecionista."
A desvalorização do real ante
o dólar nos últimos meses aumentou a competitividade dos
produtos brasileiros no mercado argentino, causando preocupação em Buenos Aires.
Para Heiner Flassbeck, diretor de Globalização e Desenvolvimento da Unctad, a Argentina sofre o contragolpe da decisão de deixar o câmbio em níveis baixos, após abandonar a
paridade peso-dólar, em 2002.
"Agora eles estão com problemas, porque outros países
estão desvalorizando a sua
moeda. A Argentina enfrenta
uma alta da inflação e perde
parte de sua competitividade",
disse Flassbeck, um dos autores do relatório da Unctad.
Mas ele concorda com Redrado sobre o câmbio como fator de risco protecionista. "As
pessoas começam a ver a inconsistência de defender o livre comércio enquanto vivemos esse
caos monetário."
O relatório sugere que as mudanças nas taxas de câmbio nominais sejam reguladas por organismos regionais, com base
nas variações dos índices de inflação entre os países.
Texto Anterior: Vaivém das commodities Próximo Texto: Comércio exterior: Brasil poderá importar trigo de fora do Mercosul, diz governo Índice
|