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RETOMADA DESIGUAL
Ânimo fica limitado à ampliação do comércio exterior; venda de carros cai 23% na 1ª quinzena de abril
Otimismo continua restrito aos exportadores
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Vários indicadores divulgados
nas últimas semanas sugeriam a
idéia de que a economia brasileira
está em recuperação. As montadoras produziram mais carros no
primeiro trimestre, a indústria
paulista abriu mais vagas e a fabricação de papelão ondulado -termômetro industrial- aumentou.
Uma análise desses dados e números mais recentes, no entanto,
mostra que a retomada ainda é incipiente e o aquecimento continua limitado às vendas externas.
Levantamento preliminar da
Fundação Getúlio Vargas e os dados de emprego da Fiesp (Federação das Indústrias no Estado de
São Paulo) mostraram que os empresários industriais estão mais
otimistas. No entanto, as duas entidades entendem que essa percepção está mais ligada ao desempenho das exportações do que ao
das vendas no mercado interno.
Outro dado revela a retomada
desigual do ritmo econômico:
apesar do aumento da produção e
das vendas de automóveis no primeiro trimestre, as vendas no
mercado interno caíram 23% na
primeira quinzena de abril em relação aos primeiros 15 dias de
março, segundo dado divulgado
ontem. A produção no período
não foi revelada.
"Os empresários estão bem
mais otimistas do que estavam
em janeiro", afirma Jorge Braga,
economista da FGV. "Mas as vendas externas têm grande peso nesse otimismo."
Para 54% das empresas ouvidas
pela FGV no início de abril (de um
total de 608), a produção deve subir neste trimestre (abril-junho);
43% delas prevêem aumento de
demanda e 15%, do emprego.
A Fiesp informa que no primeiro trimestre deste ano a indústria
paulista abriu cerca de 13 mil vagas. "A explicação é o mercado
externo. Quem depende das vendas no mercado doméstico não
está produzindo mais e não está
contratando", afirma Claudio
Vaz, diretor da entidade.
A alta de 13,5% na produção de
carros no primeiro trimestre deste ano sobre igual período de
2003, divulgada há duas semanas,
trouxe vigor aos indicadores.
O aumento de 13,3% nas vendas
de papelão ondulado em março
de 2004 sobre mesmo mês do ano
passado também chegou a animar alguns economistas. Esse tipo de embalagem, utilizado por
boa parte da indústria, serve de
referência da atividade industrial.
Mas poucos acreditam num aumento da demanda interna. "O
consumidor não tem segurança
para gastar. Isso explica esse vaivém em alguns indicadores", diz
Fernando Montero, da consultoria Tendências. O Índice de Confiança do Consumidor, medido
pela Fecomercio SP, mostra esse
desânimo. Em abril, o índice fechou em 105,2 pontos, o patamar
mais baixo desde março de 2003.
"O consumidor está cada vez
mais descrente de que poderá recuperar seu poder aquisitivo",
afirma em nota Abram Szajman,
presidente da Fecomercio.
Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da Fecomercio, diz que
não há recuperação. "Alguns indicadores são melhores do que os
do ano passado porque a base de
comparação é muito baixa. Qualquer recuperação pequena tem
significado, mas o consumidor
está desanimado porque o desemprego é elevado, a renda não
cresce e os juros seguem altos."
A contradição entre a expectativa dos empresários e a dos consumidores coloca a recuperação da
economia em xeque, diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Economia
para o Desenvolvimento Industrial). "Isso mostra que os setores
que vendem para o mercado externo enxergam uma recuperação
econômica. Mas quem está aqui
dentro não vê melhora. O fato é
que existe recuperação da economia, mas ainda é incipiente."
Economistas de bancos são
mais otimistas. Para Aurélio Bicalho, do Itaú, uma retomada ampla
está a caminho. "O conjunto de
informação que temos até agora,
ainda que seja limitado, nos revela
boas perspectivas de crescimento
para o mês de março e os seguintes", diz ele, em análise.
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