São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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RETOMADA DESIGUAL

Ânimo fica limitado à ampliação do comércio exterior; venda de carros cai 23% na 1ª quinzena de abril

Otimismo continua restrito aos exportadores

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Vários indicadores divulgados nas últimas semanas sugeriam a idéia de que a economia brasileira está em recuperação. As montadoras produziram mais carros no primeiro trimestre, a indústria paulista abriu mais vagas e a fabricação de papelão ondulado -termômetro industrial- aumentou.
Uma análise desses dados e números mais recentes, no entanto, mostra que a retomada ainda é incipiente e o aquecimento continua limitado às vendas externas.
Levantamento preliminar da Fundação Getúlio Vargas e os dados de emprego da Fiesp (Federação das Indústrias no Estado de São Paulo) mostraram que os empresários industriais estão mais otimistas. No entanto, as duas entidades entendem que essa percepção está mais ligada ao desempenho das exportações do que ao das vendas no mercado interno.
Outro dado revela a retomada desigual do ritmo econômico: apesar do aumento da produção e das vendas de automóveis no primeiro trimestre, as vendas no mercado interno caíram 23% na primeira quinzena de abril em relação aos primeiros 15 dias de março, segundo dado divulgado ontem. A produção no período não foi revelada.
"Os empresários estão bem mais otimistas do que estavam em janeiro", afirma Jorge Braga, economista da FGV. "Mas as vendas externas têm grande peso nesse otimismo."
Para 54% das empresas ouvidas pela FGV no início de abril (de um total de 608), a produção deve subir neste trimestre (abril-junho); 43% delas prevêem aumento de demanda e 15%, do emprego.
A Fiesp informa que no primeiro trimestre deste ano a indústria paulista abriu cerca de 13 mil vagas. "A explicação é o mercado externo. Quem depende das vendas no mercado doméstico não está produzindo mais e não está contratando", afirma Claudio Vaz, diretor da entidade.
A alta de 13,5% na produção de carros no primeiro trimestre deste ano sobre igual período de 2003, divulgada há duas semanas, trouxe vigor aos indicadores.
O aumento de 13,3% nas vendas de papelão ondulado em março de 2004 sobre mesmo mês do ano passado também chegou a animar alguns economistas. Esse tipo de embalagem, utilizado por boa parte da indústria, serve de referência da atividade industrial.
Mas poucos acreditam num aumento da demanda interna. "O consumidor não tem segurança para gastar. Isso explica esse vaivém em alguns indicadores", diz Fernando Montero, da consultoria Tendências. O Índice de Confiança do Consumidor, medido pela Fecomercio SP, mostra esse desânimo. Em abril, o índice fechou em 105,2 pontos, o patamar mais baixo desde março de 2003.
"O consumidor está cada vez mais descrente de que poderá recuperar seu poder aquisitivo", afirma em nota Abram Szajman, presidente da Fecomercio.
Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da Fecomercio, diz que não há recuperação. "Alguns indicadores são melhores do que os do ano passado porque a base de comparação é muito baixa. Qualquer recuperação pequena tem significado, mas o consumidor está desanimado porque o desemprego é elevado, a renda não cresce e os juros seguem altos."
A contradição entre a expectativa dos empresários e a dos consumidores coloca a recuperação da economia em xeque, diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Economia para o Desenvolvimento Industrial). "Isso mostra que os setores que vendem para o mercado externo enxergam uma recuperação econômica. Mas quem está aqui dentro não vê melhora. O fato é que existe recuperação da economia, mas ainda é incipiente."
Economistas de bancos são mais otimistas. Para Aurélio Bicalho, do Itaú, uma retomada ampla está a caminho. "O conjunto de informação que temos até agora, ainda que seja limitado, nos revela boas perspectivas de crescimento para o mês de março e os seguintes", diz ele, em análise.


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