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LUÍS NASSIF
O caso Cemar
A venda da Cemar para a
SVM Participações e Empreendimentos Ltda. (controlada pelo Grupo Garantia)
continua gerando controvérsias. E seria importante que, a
partir da liminar que interrompeu o processo, se forneçam explicações mais claras.
A Cemar foi privatizada em
2000, vendida para a norte-americana PPL Global. Pouco
depois a empresa largou a Cemar, que ficou sob intervenção
da Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica). Passado o
período regulamentar, a concessão teria que ser cassada ou
o controle da empresa deveria
ser transferido. A empresa estava com dívidas da ordem de
R$ 800 milhões, 80% das quais
vencidas. A PPL se dispunha a
transferir o controle por R$ 1.
Em vez de uma licitação por
meio de órgãos mais experientes, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), a Aneel
decidiu tocar o processo.
Abriu-se um data-room em
São Luís (MA) e concorrentes
apontaram enormes dificuldades em conseguir os dados.
Após a fase de pré-licitação,
restaram dois grupos, o SVM e
o Mt. Baker, fundo norte-americano, que foi desclassificado
por não ter cumprido um conjunto de requisitos burocráticos -como a não-apresentação de certidão negativa de falência ou falta de histórico no
setor. A empresa foi organizada por Tom Tribone (que trouxe para o Brasil a AES), com recursos do Franklin Templeton
Fund (um dos maiores fundos
de investimentos dos EUA, com
US$ 700 bilhões de ativos) e do
Darby Fund, do ex-secretário
do Tesouro Nicholas Brady. Só.
O grupo entrou com um mandado de segurança para apresentar sua proposta.
O ponto central da competição era como tratar dos passivos da Cemar na Eletrobras e
na sua controlada Eletronorte.
Para se habilitar à compra da
empresa, os concorrentes teriam que apresentar carta da
Eletrobrás concordando com a
proposta. Os créditos da empresa são de R$ 260 milhões,
mais R$ 100 milhões de venda
de energia pela Eletronorte.
A proposta inicial da Mt. Baker foi pagar 30% da dívida e
capitalizar o restante. A proposta inicial da SVM era capitalizar R$ 150 milhões. Na véspera do final do prazo, a Mt.
Baker melhorou ainda mais as
condições. Dispunha-se a pagar metade à vista, e o restante,
em 12 anos, com 10% de juros
ao ano mais IGP-M.
Foi preterido pela SVM, que
propôs à Eletrobrás capitalizar
R$ 50 milhões e pagar o restante em até 20 anos, parte substancial a taxas de juros de 4%
ao ano, com três anos de carência.
Em carta que me enviou na
sexta-feira passada, o ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa sustenta não haver
irregularidade na escolha. Diz
que a proposta da Mt. Baker
significava capitalização de
50% do crédito e um grande
deságio no restante, em razão
das taxas de juros propostas.
No dia 20 de janeiro de 2004,
a Mt. Baker enviou ofício a
Pinguelli sustentando que toparia pagar metade da dívida
com a Eletronorte à vista, e o
restante, em dez anos de prazo,
a taxa de 10% ao ano.
Não há clareza ainda sobre
todos os componentes da negociação. De qualquer modo, até
que os fatos esclareçam, seria
conveniente suspender o processo. Mesmo porque poderá
significar um divisor de águas
para destravar os investimentos no setor. Ou travar de vez.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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