São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

Governo quer diminuir impacto sobre endividamento federal; hoje esses títulos representam 45% da dívida

Tesouro vai zerar papéis corrigidos por Selic

CLÁUDIA DIANNI
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo quer retirar do mercado todos os títulos que acompanham a variação diária da taxa Selic, os papéis pós-fixados chamados de LFT. Com isso, o Tesouro Nacional pretende melhorar o perfil da dívida, acabando com o maior problema enfrentado nos últimos anos: o impacto que os juros fixados mensalmente pelo Banco Central têm sobre o endividamento do governo federal.
A idéia de zerar o estoque de LFT na dívida pública foi anunciada pela primeira vez, ontem, pelo secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani, que divulgou um balanço da evolução da dívida no ano passado.
O documento, impresso recentemente e distribuído para a imprensa, ainda contou com a foto e texto de apresentação do ex-ministro Antonio Palocci, fora do ministério há quase um mês.

No pico, 67%
Nos últimos anos, depois de diminuir significativamente a exposição da dívida ao câmbio, com o resgate de títulos atrelados ao dólar, o governo ressaltava sempre a necessidade de diminuir a parcela dos títulos corrigidos pela Selic, que corresponde à metade de dívida mobiliária. No entanto nunca se falou na meta de zerar essa participação. Apesar de anunciar o objetivo, não foi estabelecido prazo para isso.
"Tivemos um pico de 67% da dívida corrigida pela Selic em meados 2004, mas nos últimos dois anos reduzimos esses títulos em 20 pontos percentuais. Em março devemos ter ficado em torno de 45%", disse o secretário, que afirmou que será a demanda do próprio mercado que irá determinar a velocidade da queda.
No entanto ele acredita que quando a proporção dos títulos indexados à Selic chegar ao patamar de 20% a queda será ainda mais rápida.
"O mercado vai começar a migrar automaticamente para outros papéis. A partir dai será possível dizer que foi quebrada a cultura, muito forte no Brasil, de indexação de papéis a taxas de juros de curto prazo", afirmou.
Na avaliação do estrategista-chefe do banco BNP, Alexandre Lintz, ter uma alta proporção da dívida pública indexada à taxa Selic é uma "anomalia".
Para ele, o ideal é que o governo tenha uma dívida cuja variação seja previsível e, para isso, é preciso ter uma proporção maior indexada a remunerações prefixadas e não pós-fixadas, como é o caso da taxa Selic. "No mundo inteiro a proporção dos títulos prefixados é bem maior. No Brasil, como há muito papel pós-fixado, se o Banco Central tiver de subir os juros, isso causa muito impacto nas contas públicas", afirmou.
Segundo Lintz, essa situação ocorre no Brasil porque o país ainda tem memória inflacionária. "Quando a taxa Selic estiver mais baixa, haverá mais incentivo para os prefixados", disse.


Texto Anterior: Armamentos: Governo lança plano para recuperar Imbel
Próximo Texto: Tributos: Receita arrecada R$ 90,4 bi no 1º trimestre
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.