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RECEITA ORTODOXA
Governo quer diminuir impacto sobre endividamento federal; hoje esses títulos representam 45% da dívida
Tesouro vai zerar papéis corrigidos por Selic
CLÁUDIA DIANNI
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo quer retirar do mercado todos os títulos que acompanham a variação diária da taxa Selic, os papéis pós-fixados chamados de LFT. Com isso, o Tesouro
Nacional pretende melhorar o
perfil da dívida, acabando com o
maior problema enfrentado nos
últimos anos: o impacto que os juros fixados mensalmente pelo
Banco Central têm sobre o endividamento do governo federal.
A idéia de zerar o estoque de
LFT na dívida pública foi anunciada pela primeira vez, ontem,
pelo secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani, que
divulgou um balanço da evolução
da dívida no ano passado.
O documento, impresso recentemente e distribuído para a imprensa, ainda contou com a foto e
texto de apresentação do ex-ministro Antonio Palocci, fora do
ministério há quase um mês.
No pico, 67%
Nos últimos anos, depois de diminuir significativamente a exposição da dívida ao câmbio, com o
resgate de títulos atrelados ao dólar, o governo ressaltava sempre a
necessidade de diminuir a parcela
dos títulos corrigidos pela Selic,
que corresponde à metade de dívida mobiliária. No entanto nunca se falou na meta de zerar essa
participação. Apesar de anunciar
o objetivo, não foi estabelecido
prazo para isso.
"Tivemos um pico de 67% da
dívida corrigida pela Selic em
meados 2004, mas nos últimos
dois anos reduzimos esses títulos
em 20 pontos percentuais. Em
março devemos ter ficado em torno de 45%", disse o secretário,
que afirmou que será a demanda
do próprio mercado que irá determinar a velocidade da queda.
No entanto ele acredita que
quando a proporção dos títulos
indexados à Selic chegar ao patamar de 20% a queda será ainda
mais rápida.
"O mercado vai começar a migrar automaticamente para outros papéis. A partir dai será possível dizer que foi quebrada a cultura, muito forte no Brasil, de indexação de papéis a taxas de juros
de curto prazo", afirmou.
Na avaliação do estrategista-chefe do banco BNP, Alexandre
Lintz, ter uma alta proporção da
dívida pública indexada à taxa Selic é uma "anomalia".
Para ele, o ideal é que o governo
tenha uma dívida cuja variação
seja previsível e, para isso, é preciso ter uma proporção maior indexada a remunerações prefixadas e
não pós-fixadas, como é o caso da
taxa Selic. "No mundo inteiro a
proporção dos títulos prefixados
é bem maior. No Brasil, como há
muito papel pós-fixado, se o Banco Central tiver de subir os juros,
isso causa muito impacto nas
contas públicas", afirmou.
Segundo Lintz, essa situação
ocorre no Brasil porque o país
ainda tem memória inflacionária.
"Quando a taxa Selic estiver mais
baixa, haverá mais incentivo para
os prefixados", disse.
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