São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Tabaré Vázquez pede fim dos bloqueios na fronteira e diz que, "como está, bloco não serve" a seu país

Uruguai faz criticas à situação do Mercosul

DE BUENOS AIRES

O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, cobrou do Mercosul uma resposta aos bloqueios da fronteira uruguaia por ambientalistas argentinos e afirmou que, "assim como está", o bloco "não serve" a seu país.
Vázquez acusou a Argentina, que exerce a presidência temporária do Mercosul, de "demorar demasiadamente" para responder ao pedido feito por Montevidéu para convocar o conselho do bloco para discutir os protestos. Na cidade argentina de Gualeguaychú, os bloqueios já interrompem o trânsito entre os países há 70 dias.
O governo uruguaio também resolveu transformar em boicote o mal-estar instalado no Mercosul pela chamada "guerra das papeleiras" que trava com a Argentina. Ontem, o ministro do Trabalho do país, Eduardo Bonomi, anunciou que não irá à reunião com seus colegas de pasta dos países do bloco agendada para amanhã, em Buenos Aires.

Ambiente e Finlândia
Enquanto o Uruguai aumentava a pressão para regionalizar a discussão do conflito, pelo viés do prejuízo comercial dos protestos, ontem o presidente argentino, Néstor Kirchner, fez um duro discurso ambiental contra as fábricas -a finlandesa Botnia e a espanhola Ence. Criticou os bloqueios na fronteira, mas voltou a pedir que as indústrias interrompam por 90 dias suas obras no país vizinho.
No período, a Argentina exige que seja feito um estudo do impacto ambiental das fábricas, que estão sendo construídas às margens do rio Uruguai, águas compartilhadas pelos vizinhos.
Ontem, Kirchner cobrou que a Finlândia intervenha para tentar convencer a Botnia a parar a construção. Também fez menção ao financiamento do Estado espanhol à empresa Ence.
Em março, depois de uma trégua entre Argentina e Uruguai, as empresas chegaram a anunciar que parariam as obras por três meses, mas a empresa finlandesa recuou e afirmou que só interromperia por dez dias.
Kirchner leu longos trechos de um relatório de 1992 de Lawrence Summers, ex-presidente do Banco Mundial, para apontar os supostos riscos ambientais das "papeleiras". Citou a transferência de "indústrias sujas" aos países em desenvolvimento, que buscariam países pobres para pagar indenizações menores pela contaminação da população e do ambiente.
À noite, em comunicado, a Ence voltou a dizer que aceita interromper a construção. A embaixada da Finlândia em Buenos Aires, em comunicado, classificou o conflito de "lamentável", mas disse que a Botnia segue a legislação uruguaia e espera um estudo ambiental do Banco Mundial.

Sem repressão
Apesar de fazer um discurso afinado ao dos ambientalistas da fronteira com o Uruguai, Kirchner afirmou que o governo não apóia o bloqueio, mas que não "reprimirá" os manifestantes.
A Argentina tem evitado o envolvimento do Mercosul na controvérsia, mas, diante da estratégia uruguaia, enviados de Buenos Aires procuraram os sócios do bloco para explicar os argumentos argentinos.


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