São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

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Brasil investe e vende mais à Venezuela

Empresas brasileiras miram os petrodólares e abrem unidades no país, apesar da nacionalização de setores imposta por Chávez

No ano passado, país registrou superávit de US$ 4,4 bi com vizinho; governo quer erguer fábricas com máquinas brasileiras

IURI DANTAS
LUCIANA OTONI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O forte aumento das exportações para a Venezuela, que resultou no superávit brasileiro de US$ 4,4 bilhões no ano passado, tem levado a reboque investimentos de empresas brasileiras que miram os petrodólares e pouco se importam com a retórica de Hugo Chávez.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) prepara a abertura de um escritório em Caracas com o objetivo de substituir os norte-americanos no fornecimento de bens de capital para a PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.).
Além disso, o governo Chávez pretende construir 60 novas fábricas de produtos alimentícios utilizando máquinas brasileiras para combater as prateleiras vazias nos supermercados de Caracas.
"Como negócio, a Venezuela é um excelente parceiro, e as oportunidades vêm crescendo ano a ano. A parte política a gente sabe dividir muito bem, claro que há problemas e sempre há um risco", disse Luiz Aubert, presidente da associação.
A Abimaq representa 4.000 empresas, 75% delas com menos de 120 funcionários.
Segundo o presidente da Câmara Venezuelana-Brasileira de Comércio, José Marcondes Neto, mesmo a nacionalização de alguns setores produtivos anunciada por Chávez não chega a ser um problema.
"O importante é que os direitos sejam pagos em valores de mercado. Todos os direitos, investimentos e até o valor de mercado em Bolsa foram pagos. Podem reclamar que deixaram de ter lucro, mas não podem dizer que não receberam valores justos e corretos."
A tendência de investimentos brasileiros na Venezuela também deve se acentuar nos próximos anos, segundo Neto.
"Os empresários têm feito investimentos na Venezuela com uma visão de longo prazo. O país vive uma realidade econômica muito positiva. Essas polêmicas nas questões políticas não ajudam em nada ao Brasil, que ganha muito mais."
Outra empresa a anunciar investimentos na Venezuela foi a Braskem. Injetará US$ 3,5 bilhões no país vizinho para a construção de um moderno pólo petroquímico. A Odebrecht, presente há mais de 15 anos no país, pretende continuar suas atividades e ampliar a participação em novas obras públicas.
Maior fabricante brasileira de ônibus (três unidades industriais no país e oito no exterior), a Marcopolo espera ampliar as exportações para a América Latina devido ao bom desempenho dos países da região, que seguem favorecidos pela valorização das commodities.
Para a Venezuela, a tendência é de elevação das vendas de ônibus devido ao crescimento da economia proporcionado pela valorização do petróleo. No ano passado, a Venezuela importou cem ônibus da Marcopolo para transportar os jogadores na Copa América. A empresa aposta em novas encomendas do país de Chávez.
Em 2000, o Brasil exportou US$ 752,9 milhões e importou US$ 1,4 bilhão da Venezuela. No ano passado, foram US$ 4,7 bilhões exportados, contra apenas US$ 345,9 milhões importados pelo Brasil.
Apesar do novo ciclo de investimentos brasileiros na Venezuela, ainda há empresas nacionais que preferem se dedicar a outros mercados, dadas as incertezas do país.
A Tigre teve faturamento de US$ 1,7 bilhão em 2007, dos quais 20% provenientes das operações no exterior. Além de 18 unidades no Brasil, a empresa possui fábricas nos EUA, na Argentina, no Chile, na Bolívia, no Peru e no Equador e não tem interesse em investir na Venezuela porque não considera o país de Chávez confiável.
"Não há expatriação de divisas na Venezuela. O país está bem, mas é difícil tirar dinheiro de lá. Por isso, a Tigre prefere olhar para outros países, como o México", afirma o presidente da empresa, Amaury Olsen.
Para este ano, a Tigre programou US$ 50 milhões em investimentos. Parte dos recursos foi usada na compra de uma fábrica no Peru. O restante vai ser aplicado em novas aquisições na Colômbia e no México, além de investimentos em fábrica recém-adquirida nos EUA.


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