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Brasil investe e vende mais à Venezuela
Empresas brasileiras miram os petrodólares e abrem unidades no país, apesar da nacionalização de setores imposta por Chávez
No ano passado, país registrou superávit de US$ 4,4 bi com vizinho;
governo quer erguer fábricas com máquinas brasileiras
IURI DANTAS
LUCIANA OTONI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O forte aumento das exportações para a Venezuela, que resultou no superávit brasileiro
de US$ 4,4 bilhões no ano passado, tem levado a reboque investimentos de empresas brasileiras que miram os petrodólares e pouco se importam com
a retórica de Hugo Chávez.
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas
e Equipamentos) prepara a
abertura de um escritório em
Caracas com o objetivo de
substituir os norte-americanos
no fornecimento de bens de capital para a PDVSA (Petróleos
de Venezuela S.A.).
Além disso, o governo Chávez pretende construir 60 novas fábricas de produtos alimentícios utilizando máquinas
brasileiras para combater as
prateleiras vazias nos supermercados de Caracas.
"Como negócio, a Venezuela
é um excelente parceiro, e as
oportunidades vêm crescendo
ano a ano. A parte política a
gente sabe dividir muito bem,
claro que há problemas e sempre há um risco", disse Luiz Aubert, presidente da associação.
A Abimaq representa 4.000
empresas, 75% delas com menos de 120 funcionários.
Segundo o presidente da Câmara Venezuelana-Brasileira
de Comércio, José Marcondes
Neto, mesmo a nacionalização
de alguns setores produtivos
anunciada por Chávez não chega a ser um problema.
"O importante é que os direitos sejam pagos em valores de
mercado. Todos os direitos, investimentos e até o valor de
mercado em Bolsa foram pagos. Podem reclamar que deixaram de ter lucro, mas não podem dizer que não receberam
valores justos e corretos."
A tendência de investimentos brasileiros na Venezuela
também deve se acentuar nos
próximos anos, segundo Neto.
"Os empresários têm feito investimentos na Venezuela com
uma visão de longo prazo. O
país vive uma realidade econômica muito positiva. Essas polêmicas nas questões políticas
não ajudam em nada ao Brasil,
que ganha muito mais."
Outra empresa a anunciar investimentos na Venezuela foi a
Braskem. Injetará US$ 3,5 bilhões no país vizinho para a
construção de um moderno pólo petroquímico. A Odebrecht,
presente há mais de 15 anos no
país, pretende continuar suas
atividades e ampliar a participação em novas obras públicas.
Maior fabricante brasileira
de ônibus (três unidades industriais no país e oito no exterior),
a Marcopolo espera ampliar as
exportações para a América Latina devido ao bom desempenho dos países da região, que
seguem favorecidos pela valorização das commodities.
Para a Venezuela, a tendência é de elevação das vendas de
ônibus devido ao crescimento
da economia proporcionado
pela valorização do petróleo.
No ano passado, a Venezuela
importou cem ônibus da Marcopolo para transportar os jogadores na Copa América. A
empresa aposta em novas encomendas do país de Chávez.
Em 2000, o Brasil exportou
US$ 752,9 milhões e importou
US$ 1,4 bilhão da Venezuela.
No ano passado, foram US$ 4,7
bilhões exportados, contra apenas US$ 345,9 milhões importados pelo Brasil.
Apesar do novo ciclo de investimentos brasileiros na Venezuela, ainda há empresas nacionais que preferem se dedicar a outros mercados, dadas as
incertezas do país.
A Tigre teve faturamento de
US$ 1,7 bilhão em 2007, dos
quais 20% provenientes das
operações no exterior. Além de
18 unidades no Brasil, a empresa possui fábricas nos EUA, na
Argentina, no Chile, na Bolívia,
no Peru e no Equador e não tem
interesse em investir na Venezuela porque não considera o
país de Chávez confiável.
"Não há expatriação de divisas na Venezuela. O país está
bem, mas é difícil tirar dinheiro
de lá. Por isso, a Tigre prefere
olhar para outros países, como
o México", afirma o presidente
da empresa, Amaury Olsen.
Para este ano, a Tigre programou US$ 50 milhões em investimentos. Parte dos recursos
foi usada na compra de uma fábrica no Peru. O restante vai ser
aplicado em novas aquisições
na Colômbia e no México, além
de investimentos em fábrica
recém-adquirida nos EUA.
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