São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2010

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BENJAMIN STEINBRUCH

Sem medo de ousar


Saudável, a economia não precisa de remédio; o melhor é ministrar fortificantes, via estímulo aos investimentos


HÁ MUITAS notícias positivas no ar sobre o setor produtivo brasileiro e elas precisam ser celebradas. Nosso PIB (Produto Interno Bruto) está efetivamente crescendo. Todos os indicadores do primeiro trimestre mostram isso.
O emprego formal cresceu em todos os setores e subsetores da atividade econômica em março. No trimestre, foram criados 657 mil postos de trabalho no país, no melhor desempenho desde que esse levantamento começou a ser feito pelo Ministério do Trabalho, em 1992. A produção de aço bruto subiu 59,3% e até as exportações do setor siderúrgico aumentaram bastante, 40%. Ainda que a base de comparação -primeiro trimestre do ano passado- seja fraca, os números parecem muito bons.
As vendas do comércio varejista mantêm um ritmo bastante forte e cresceram 1,6% em fevereiro sobre janeiro. Março também foi muito bom, embora os dados oficiais ainda não tenham sido divulgados.
O mercado de capitais apresentou expansão de 90% na captação de recursos. Foram captados R$ 19 bilhões no primeiro trimestre, mostrando que essa forma de financiamento começa a fazer diferença para as empresas brasileiras. Poderia citar ainda vários outros indicadores positivos do primeiro trimestre, como a expansão da construção de imóveis e até o aumento da renda no país, que, segundo a Folha de domingo, retomou os níveis anteriores à crise. Mas paro por aqui, para não aborrecer o leitor com mais números. Lembro apenas que, levando-se em conta a estimativa do PIB no primeiro trimestre, a economia brasileira está se expandindo atualmente a um ritmo anual de 8,4%. Para o ano, os mais otimistas preveem 7% e os mais pessimistas, 5,7%.
Ufa, estamos mesmo crescendo, um alívio depois da estagnação de 2009. Crescer é bom, saudável e exige responsabilidade, mas não podemos admitir medos ou chiliques de amantes dos juros altos, que olham para a tendência de crescimento lambendo os beiços, à espera do aumento da Selic e das receitas não produtivas.
É verdade que a inflação aumentou um pouco -o IPCA atingiu 2,06% no primeiro trimestre. Mas não há razão para "frisson", porque o ritmo de alta caiu em março e a previsão do mercado ainda se situa dentro da banda superior da meta, de 6,5%.
Nos Estados Unidos, Ben Bernanke ainda se preocupa com o risco de uma recaída da recessão. Na China, onde o crescimento anualizado do trimestre já beira a 12%, há dúvidas sobre a necessidade de aumentar os juros.
Aqui, o mercado dá como certo que o Banco Central vai iniciar a escalada dos juros até atingir 12% ao ano. É um exagero. Esse remédio amargo pode dar um tranco na economia exatamente no momento em que ressurge o entusiasmo empresarial e a busca de investimentos, estes sim um fortificante saudável, capaz de combater a inflação pelo efeito benéfico na oferta de bens.
Além disso, o aumento dos juros terá um efeito colateral perverso, a valorização ainda maior do real, com impacto negativo nas exportações e incentivo às importações. Seria muito mais vantajoso para o país se as autoridades encarassem essa nova fase de crescimento de forma arrojada, sem medo de ousar. Remédios, evidentemente, não são necessários quando há saúde. Mais apropriado é ministrar fortificantes, na forma de estímulo aos investimentos.

BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br



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