São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2010

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EUA formalizam ação contra Goldman Sachs

Com voto contrário de republicanos, CVM americana aciona banco sob a suspeita de fraude que teria causado perdas de US$ 1 bi

Ação é a mais dura medida tomada até agora contra os excessos do sistema financeiro que resultaram na crise que estourou em 2008


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Antecipando uma divisão que deve tomar grandes proporções no Congresso dos Estados Unidos, a SEC (órgão equivalente à brasileira CVM) aprovou formalmente ontem, por 3 votos a 2, o início de uma ação contra o banco Goldman Sachs por supostamente ter causado prejuízos de mais de US$ 1 bilhão a investidores em todo o mundo.
Dos quatro membros do conselho da SEC, dois ligados ao Partido Democrata, o mesmo de Barack Obama, votaram a favor. Dois republicanos, contra. Mas a presidente da SEC, Mary Schapiro, indicada ao cargo por Obama, desempatou a favor da ação.
Com a disputa por um aprofundamento sem precedentes na regulação das atividades de Wall Street a caminho no Congresso, Obama também avisou que irá a Nova York ainda antes do final da semana para pressionar pela reforma do sistema financeiro em seu país.
Do outro lado do Atlântico, autoridades de Reino Unido e Alemanha usaram o episódio envolvendo o Goldman Sachs para cobrar reformas na supervisão dos mercados globais.
Outros bancos europeus também avisaram que estão considerando ações diretas contra o Goldman por conta das operações suspeitas. O alemão IKB diz ter perdido quase a totalidade dos US$ 150 milhões que tinha aplicados em papéis do banco.
Negócios do Goldman Sachs e de outros bancos com títulos vendidos a investidores e remunerados por prestações imobiliárias de alto risco (chamadas "subprime") estiveram na origem da crise financeira global que estourou em 2008.
A ação da SEC contra o banco é a mais dura medida tomada até agora contra os excessos do sistema financeiro que resultaram na crise. Representa também uma tentativa da SEC de reformular a imagem de "leniente" que recebeu por não ter vislumbrado operações arriscadas de bancos até 2008.
No caso específico da ação contra o Goldman Sachs, o órgão regulatório sustenta que o banco lucrou apostando contra os mesmos papéis que vendeu aos consumidores -e que o banco sabia que estavam destinados a virar quase pó.
O banco, que já soltou três notas negando as acusações, diz ter perdido dinheiro com o fundo objeto da ação da SEC, chamado Abacus 2007. Ontem, o criador desse fundo, o francês Fabrice Tourré, 31, pediu afastamento temporário do trabalho no Goldman Sachs.
A SEC acusa o banco de não informar aos investidores que um outro fundo de hedge, o Paulson, participou da escolha dos títulos de hipotecas que fizeram parte de um instrumento derivativo conhecido como CDO (obrigação de dívida colateralizada ou com garantias). Em vez disso, o Goldman disse aos investidores que os títulos foram escolhidos por uma firma independente.
Por um lado, o Paulson, apostando no estouro da "bolha imobiliária", teria escolhido os papéis que poderiam perder a maior parte de seu valor. Por outro, fez com o Goldman Sachs uma espécie de hedge (proteção) contra essas mesmas perdas potenciais. Com esse movimento, o fundo ganhou cerca de US$ 1 bilhão, afirma a SEC. Esse valor foi obtido a partir dos prejuízos dos investidores que estavam na outra ponta da operação.
Já o Goldman Sachs, segundo a SEC, teria ganho alguns milhões de dólares em taxas e serviços prestados ao fundo Paulson na operação. O banco registrou um lucro de US$ 13,4 bilhões no ano passado, e os resultados do primeiro trimestre de 2010 devem ser conhecidos hoje.

Leia coluna de Clóvis Rossi

www.folha.com.br/1010920



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