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EUA formalizam ação contra Goldman Sachs
Com voto contrário de republicanos, CVM americana aciona banco sob a suspeita de fraude que teria causado perdas de US$ 1 bi
Ação é a mais dura medida tomada até agora contra
os excessos do sistema financeiro que resultaram na crise que estourou em 2008
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Antecipando uma divisão
que deve tomar grandes proporções no Congresso dos Estados Unidos, a SEC (órgão
equivalente à brasileira CVM)
aprovou formalmente ontem,
por 3 votos a 2, o início de uma
ação contra o banco Goldman
Sachs por supostamente ter
causado prejuízos de mais de
US$ 1 bilhão a investidores em
todo o mundo.
Dos quatro membros do conselho da SEC, dois ligados ao
Partido Democrata, o mesmo
de Barack Obama, votaram a
favor. Dois republicanos, contra. Mas a presidente da SEC,
Mary Schapiro, indicada ao
cargo por Obama, desempatou
a favor da ação.
Com a disputa por um aprofundamento sem precedentes
na regulação das atividades de
Wall Street a caminho no Congresso, Obama também avisou
que irá a Nova York ainda antes
do final da semana para pressionar pela reforma do sistema
financeiro em seu país.
Do outro lado do Atlântico,
autoridades de Reino Unido e
Alemanha usaram o episódio
envolvendo o Goldman Sachs
para cobrar reformas na supervisão dos mercados globais.
Outros bancos europeus
também avisaram que estão
considerando ações diretas
contra o Goldman por conta
das operações suspeitas.
O alemão IKB diz ter perdido
quase a totalidade dos US$ 150
milhões que tinha aplicados em
papéis do banco.
Negócios do Goldman Sachs
e de outros bancos com títulos
vendidos a investidores e remunerados por prestações
imobiliárias de alto risco (chamadas "subprime") estiveram
na origem da crise financeira
global que estourou em 2008.
A ação da SEC contra o banco
é a mais dura medida tomada
até agora contra os excessos do
sistema financeiro que resultaram na crise. Representa também uma tentativa da SEC de
reformular a imagem de "leniente" que recebeu por não ter
vislumbrado operações arriscadas de bancos até 2008.
No caso específico da ação
contra o Goldman Sachs, o órgão regulatório sustenta que o
banco lucrou apostando contra
os mesmos papéis que vendeu
aos consumidores -e que o
banco sabia que estavam destinados a virar quase pó.
O banco, que já soltou três
notas negando as acusações,
diz ter perdido dinheiro com o
fundo objeto da ação da SEC,
chamado Abacus 2007. Ontem,
o criador desse fundo, o francês
Fabrice Tourré, 31, pediu afastamento temporário do trabalho no Goldman Sachs.
A SEC acusa o banco de não
informar aos investidores que
um outro fundo de hedge, o
Paulson, participou da escolha
dos títulos de hipotecas que fizeram parte de um instrumento derivativo conhecido como
CDO (obrigação de dívida colateralizada ou com garantias).
Em vez disso, o Goldman disse aos investidores que os títulos foram escolhidos por uma
firma independente.
Por um lado, o Paulson, apostando no estouro da "bolha
imobiliária", teria escolhido os
papéis que poderiam perder a
maior parte de seu valor. Por
outro, fez com o Goldman
Sachs uma espécie de hedge
(proteção) contra essas mesmas perdas potenciais.
Com esse movimento, o fundo ganhou cerca de US$ 1 bilhão, afirma a SEC. Esse valor
foi obtido a partir dos prejuízos
dos investidores que estavam
na outra ponta da operação.
Já o Goldman Sachs, segundo a SEC, teria ganho alguns
milhões de dólares em taxas e
serviços prestados ao fundo
Paulson na operação.
O banco registrou um lucro
de US$ 13,4 bilhões no ano passado, e os resultados do primeiro trimestre de 2010 devem ser
conhecidos hoje.
Leia coluna de Clóvis Rossi
www.folha.com.br/1010920
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