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PÉ NO FREIO
Palocci diz que taxa "não precisa cair todo mês";
BC mantém juros e culpa turbulência externa
NEY HAYASHI DA CRUZ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de o governo defender
que as turbulências do mercado
financeiro não eram um fator de
preocupação para o país, o Banco
Central usou essa instabilidade
como justificativa para manter os
juros em 16% ao ano.
Nem mesmo dentro da diretoria do BC, porém, a decisão foi
unânime: dos nove membros do
Copom, seis votaram pela manutenção dos juros, e três pela redução de 0,25 ponto.
"Dada a volatilidade recente, é
recomendável que a autoridade
monetária atue de forma prudente para evitar que essa volatilidade
de curto prazo venha a ter efeitos
duradouros sobre as variáveis domésticas, não justificáveis pelos
sólidos fundamentos da economia", dizia a nota divulgada pelo
BC no início da noite, para justificar a manutenção dos juros.
O documento diz ainda que "o
cenário para a evolução da economia brasileira nos próximos meses combina a continuidade da retomada de atividade observada
desde a segunda metade de 2003
com a convergência da inflação
para a trajetória das metas".
A decisão foi criticada duramente pelo setor produtivo. Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), ela deve
causar nova deterioração nas expectativas de investidores e consumidores. "Se o sinal é esse, por
que nós empresários devemos
acreditar que o espetáculo do
crescimento estaria à vista?", diz
nota divulgada pela entidade.
Apesar de terem sido informados de que o banco poderia não
mexer nos juros, a expectativa no
Palácio do Planalto era que o BC
mantivesse o ritmo de queda gradual para gerar um clima de otimismo na economia.
Com a manutenção dos juros,
auxiliares da Presidência acreditam no fortalecimento do debate
dentro do governo a favor da elevação da meta de inflação de 2005
de 4,5% para 5,5%. O ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
tem se manifestado contra.
Em entrevista à TVE do Rio, Palocci disse acreditar na competência técnica do Copom. Segundo
ele, a taxa do BC "não precisa cair
todo mês" para assegurar uma
trajetória de queda dos juros.
Em março e abril, o BC já havia
promovido dois cortes nos juros
-0,25 ponto em cada ocasião.
Uma nova redução já era dada como certa neste mês, mas, desde a
semana passada, fatores como a
alta do dólar e a valorização do
petróleo no mercado internacional levantaram dúvidas em torno
da decisão a ser tomada pelo BC.
O BC diz que fixa a taxa de juros
com o objetivo de cumprir metas
oficiais de inflação. Para este ano,
o objetivo é manter a alta dos preços em 5,5%, com uma margem
de erro de 2,5 pontos.
Juros elevados têm um caráter
recessivo, ou seja, desestimulam o
crescimento econômico. Com a
desaceleração da economia, espera-se que o desemprego aumente,
reduzindo a renda da população
-e a margem das empresas para
reajustes de preços.
No Congresso, a decisão do Copom foi criticada até por petistas
que apóiam a política econômica
do governo.
"Temos defendido ardorosamente a condução da política econômica, mas em determinados
momentos o Copom gera intranqüilidade", disse o presidente da
comissão de Orçamento, deputado Paulo Bernardo (PT-PR). "O
que está errado agora? A projeção
da inflação para os próximos 12
meses está abaixo da meta do governo. O resultado industrial foi
excelente pelos dados divulgados
pelo IBGE. Essa decisão joga minhoca na cabeça do investidor."
Já o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) elogiou a medida. "O
BC atuou com muita prudência.
Quando tem algumas turbulências no cenário internacional é necessário manter o atual patamar.
Isso traz tranqüilidade", afirmou.
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