São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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PÉ NO FREIO

Palocci diz que taxa "não precisa cair todo mês";

BC mantém juros e culpa turbulência externa

NEY HAYASHI DA CRUZ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de o governo defender que as turbulências do mercado financeiro não eram um fator de preocupação para o país, o Banco Central usou essa instabilidade como justificativa para manter os juros em 16% ao ano.
Nem mesmo dentro da diretoria do BC, porém, a decisão foi unânime: dos nove membros do Copom, seis votaram pela manutenção dos juros, e três pela redução de 0,25 ponto.
"Dada a volatilidade recente, é recomendável que a autoridade monetária atue de forma prudente para evitar que essa volatilidade de curto prazo venha a ter efeitos duradouros sobre as variáveis domésticas, não justificáveis pelos sólidos fundamentos da economia", dizia a nota divulgada pelo BC no início da noite, para justificar a manutenção dos juros.
O documento diz ainda que "o cenário para a evolução da economia brasileira nos próximos meses combina a continuidade da retomada de atividade observada desde a segunda metade de 2003 com a convergência da inflação para a trajetória das metas".
A decisão foi criticada duramente pelo setor produtivo. Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), ela deve causar nova deterioração nas expectativas de investidores e consumidores. "Se o sinal é esse, por que nós empresários devemos acreditar que o espetáculo do crescimento estaria à vista?", diz nota divulgada pela entidade.
Apesar de terem sido informados de que o banco poderia não mexer nos juros, a expectativa no Palácio do Planalto era que o BC mantivesse o ritmo de queda gradual para gerar um clima de otimismo na economia.
Com a manutenção dos juros, auxiliares da Presidência acreditam no fortalecimento do debate dentro do governo a favor da elevação da meta de inflação de 2005 de 4,5% para 5,5%. O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) tem se manifestado contra.
Em entrevista à TVE do Rio, Palocci disse acreditar na competência técnica do Copom. Segundo ele, a taxa do BC "não precisa cair todo mês" para assegurar uma trajetória de queda dos juros.
Em março e abril, o BC já havia promovido dois cortes nos juros -0,25 ponto em cada ocasião. Uma nova redução já era dada como certa neste mês, mas, desde a semana passada, fatores como a alta do dólar e a valorização do petróleo no mercado internacional levantaram dúvidas em torno da decisão a ser tomada pelo BC.
O BC diz que fixa a taxa de juros com o objetivo de cumprir metas oficiais de inflação. Para este ano, o objetivo é manter a alta dos preços em 5,5%, com uma margem de erro de 2,5 pontos.
Juros elevados têm um caráter recessivo, ou seja, desestimulam o crescimento econômico. Com a desaceleração da economia, espera-se que o desemprego aumente, reduzindo a renda da população -e a margem das empresas para reajustes de preços.
No Congresso, a decisão do Copom foi criticada até por petistas que apóiam a política econômica do governo.
"Temos defendido ardorosamente a condução da política econômica, mas em determinados momentos o Copom gera intranqüilidade", disse o presidente da comissão de Orçamento, deputado Paulo Bernardo (PT-PR). "O que está errado agora? A projeção da inflação para os próximos 12 meses está abaixo da meta do governo. O resultado industrial foi excelente pelos dados divulgados pelo IBGE. Essa decisão joga minhoca na cabeça do investidor."
Já o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) elogiou a medida. "O BC atuou com muita prudência. Quando tem algumas turbulências no cenário internacional é necessário manter o atual patamar. Isso traz tranqüilidade", afirmou.


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