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GASTO BRASIL
Segundo pesquisa, apenas 26,81% das famílias dizem consumir sempre o alimento do tipo preferido
Para 47%, alimentos não são suficientes
DA SUCURSAL DO RIO
Pela primeira vez, o IBGE perguntou aos brasileiros como eles
avaliavam suas condições de vida.
Resultado: 85% das famílias responderam que têm algum grau de
dificuldade para chegar ao final
do mês com o seu rendimento, e
46,6% dos entrevistados tiveram,
em níveis diferentes, restrições
para comprar alimentos.
Dos domicílios pesquisados,
27,15% afirmaram ter muita dificuldade para viver com o que ganham. Outros 23,73% disseram
ter dificuldade, e a maior parte
(34,57%) apontou alguma dificuldade. Apenas 0,72% respondeu
ter muita facilidade para vencer o
mês com a renda da família.
Como era de se esperar, quanto
mais baixa a faixa de rendimento,
maior a dificuldade de terminar o
mês com dinheiro no bolso. Na
parcela que ganha até R$ 400,
95,2% das famílias têm algum tipo de dificuldade -51,5% afirmaram ter muita dificuldade. No
caso da camada da população que
ganha mais de R$ 6.000, 54,4%
têm alguma dificuldade.
Embora a maior parte das famílias aponte dificuldades para chegar ao final do mês com a sua renda, 53,36% dizem que a quantidade adquirida de alimentos é suficiente. Outras 32,8% afirmam
que, às vezes, falta comida. Para
13,83%, o alimento é normalmente insuficiente. Ou seja: 46,63%
têm algum grau de restrição alimentar. Segundo Marcelo Neri,
chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio
Vargas), os dados indicam que
existe mais gente em situação de
pobreza do que se imaginava.
Ele diz ainda que a vantagem
desse levantamento é mostrar como cada família percebe a pobreza, "dependendo do seu referencial de passado". "Cada um tem a
sua linha de pobreza na cabeça. E
é isso o que a pesquisa aponta."
Para Neri, o levantamento revela ainda que existe "uma volatilidade" muito grande da pobreza.
"É muita gente entrando e saindo
a cada mês de tal condição", diz. O
motivo, afirma, é que a renda é
"muito instável" no país.
Isso ocorre porque há um contingente grande de pessoas com
rendimentos variáveis -é o caso
dos trabalhadores por conta própria-, um nível alto de desemprego e uma baixa capacidade de
poupança. Quando perde o emprego, o trabalhador (sobretudo o
do mercado informal) não tem
condições de manter seu padrão
de consumo, pois não tem uma
reserva, afirma Neri.
A POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) mostra que apenas 26,81% dizem consumir sempre o alimento do tipo preferido.
Dos entrevistados, 93,1% afirmaram que o seu padrão de rendimento não permite o consumo do
alimento preferido.
Um outro dado da POF que não
faz parte de avaliação subjetiva
também revela a insuficiência de
renda dos mais pobres. As famílias com rendimento de até R$ 400
gastam mais do que ganham: sua
despesa média é de R$ 454,70.
O IBGE diz que o fenômeno é
comum em famílias de mais baixa
renda, uma vez que registram melhor o que compram do que o que
recebem. É que fazem muitos bicos e não têm claro suas fontes de
rendimento. Para Salvador Werneck, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a análise do IBGE é correta,
mas só explica parte do fenômeno. Parte desse "buraco", diz, é
coberto por endividamento.
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