São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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GASTO BRASIL

Segundo pesquisa, apenas 26,81% das famílias dizem consumir sempre o alimento do tipo preferido

Para 47%, alimentos não são suficientes

DA SUCURSAL DO RIO

Pela primeira vez, o IBGE perguntou aos brasileiros como eles avaliavam suas condições de vida. Resultado: 85% das famílias responderam que têm algum grau de dificuldade para chegar ao final do mês com o seu rendimento, e 46,6% dos entrevistados tiveram, em níveis diferentes, restrições para comprar alimentos.
Dos domicílios pesquisados, 27,15% afirmaram ter muita dificuldade para viver com o que ganham. Outros 23,73% disseram ter dificuldade, e a maior parte (34,57%) apontou alguma dificuldade. Apenas 0,72% respondeu ter muita facilidade para vencer o mês com a renda da família.
Como era de se esperar, quanto mais baixa a faixa de rendimento, maior a dificuldade de terminar o mês com dinheiro no bolso. Na parcela que ganha até R$ 400, 95,2% das famílias têm algum tipo de dificuldade -51,5% afirmaram ter muita dificuldade. No caso da camada da população que ganha mais de R$ 6.000, 54,4% têm alguma dificuldade.
Embora a maior parte das famílias aponte dificuldades para chegar ao final do mês com a sua renda, 53,36% dizem que a quantidade adquirida de alimentos é suficiente. Outras 32,8% afirmam que, às vezes, falta comida. Para 13,83%, o alimento é normalmente insuficiente. Ou seja: 46,63% têm algum grau de restrição alimentar. Segundo Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os dados indicam que existe mais gente em situação de pobreza do que se imaginava.
Ele diz ainda que a vantagem desse levantamento é mostrar como cada família percebe a pobreza, "dependendo do seu referencial de passado". "Cada um tem a sua linha de pobreza na cabeça. E é isso o que a pesquisa aponta."
Para Neri, o levantamento revela ainda que existe "uma volatilidade" muito grande da pobreza. "É muita gente entrando e saindo a cada mês de tal condição", diz. O motivo, afirma, é que a renda é "muito instável" no país.
Isso ocorre porque há um contingente grande de pessoas com rendimentos variáveis -é o caso dos trabalhadores por conta própria-, um nível alto de desemprego e uma baixa capacidade de poupança. Quando perde o emprego, o trabalhador (sobretudo o do mercado informal) não tem condições de manter seu padrão de consumo, pois não tem uma reserva, afirma Neri.
A POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) mostra que apenas 26,81% dizem consumir sempre o alimento do tipo preferido. Dos entrevistados, 93,1% afirmaram que o seu padrão de rendimento não permite o consumo do alimento preferido.
Um outro dado da POF que não faz parte de avaliação subjetiva também revela a insuficiência de renda dos mais pobres. As famílias com rendimento de até R$ 400 gastam mais do que ganham: sua despesa média é de R$ 454,70.
O IBGE diz que o fenômeno é comum em famílias de mais baixa renda, uma vez que registram melhor o que compram do que o que recebem. É que fazem muitos bicos e não têm claro suas fontes de rendimento. Para Salvador Werneck, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a análise do IBGE é correta, mas só explica parte do fenômeno. Parte desse "buraco", diz, é coberto por endividamento.


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