São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Aumento do combustível gera campanhas de consumidores e entra no debate eleitoral; em NY, barril sobe 2,4%

Alta da gasolina causa histeria nos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A gasolina acima de US$ 2 por galão (3,8 litros) nos EUA está levando os 200 milhões de motoristas americanos à histeria e já derrubou a venda de veículos luxuosos e pesados, como utilitários.
Em protesto, milhões de pessoas receberam e encaminharam ontem e-mails em uma campanha nacional batizada como "Não compre gasolina hoje".
Em alguns Estados, o protesto levou à queda no movimento nos postos, cujos preços e localização passaram a constar em vários rankings informais na rede.
O assunto também não sai das TVs e entrou no centro da campanha eleitoral, com o candidato à reeleição, George W. Bush, acusado de favorecer o setor.
Encher o tanque de um Chevrolet Suburban, o carro dos sonhos das famílias americanas, custa hoje mais de US$ 100.
Na média, esse tipo de veículo roda menos de cinco quilômetros com um litro de gasolina, contra os 15 quilômetros de um Honda Civic, por exemplo.
Os estoques de veículos mais pesados das três maiores montadoras dos EUA (GM, Ford e DaimlerChrysler) são hoje suficientes para mais de cem dias, contra os 65 dias do mês passado.
Como cerca de 60% do faturamento global das três empresas depende da venda desse tipo de veículo no mercado dos EUA, as ações em Bolsa da GM despencaram 20% desde o início do ano. As da Ford caíram 16%.
Enquanto debates em programas de TV chegam a responsabilizar o crescimento chinês como principal causa para a alta dos preços do petróleo, os norte-americanos não reduziram o consumo, apesar dos novos valores.
Ao contrário, a demanda por gasolina no país em abril atingiu 9,1 milhões de barris, 4,2% acima do registrado em abril de 2003 -reflexo também da recuperação econômica em curso.
Os US$ 2 por galão hoje estão 33% acima dos preços encontrados nos postos em 2003.
Em termos nominais, os americanos convivem hoje com os preços mais caros da história. Em termos reais, no entanto, o galão da gasolina já foi equivalente a US$ 2,90, em março de 1981, segundo o Departamento de Energia.
Com um Produto Interno Bruto per capita 12 vezes maior que o do Brasil, os norte-americanos hoje pagam menos do que os brasileiros por um litro de gasolina.
Na média, o litro sai hoje por US$ 0,61 nos postos de São Paulo, ante US$ 0,53 em Washington.

Críticas a Bush
Adversários de Bush afirmam que o presidente é diretamente responsável pela atual escalada de preços da gasolina nos EUA.
Com o sinal verde da Casa Branca, as refinarias americanas passaram por forte consolidação nos últimos anos, com 33 aquisições, que somaram US$ 19,5 bilhões.
A reestruturação levou os lucros de algumas das maiores empresas do setor ao maior patamar em mais de uma década durante o primeiro trimestre de 2004.
As empresas do setor petrolífero dos EUA, do qual a família do presidente faz parte no Texas, já contribuíram com cerca de US$ 3,5 milhões para campanhas eleitorais de George W. Bush.
Ontem, nem a indicação da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de que ela poderá elevar em até 15% -ante os 6% inicialmente aventados- a sua produção derrubou o preço do petróleo. Em Nova York, o barril fechou em alta de 2,4%, cotado a US$ 41,50.


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