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ECONOMIA "INVISÍVEL"
Dos empreendimentos com até cinco pessoas, 98% são considerados informais, diz IBGE; receita média do setor caiu 19,7% entre 97 e 2003
Empresa informal tem 1/4 dos trabalhadores
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O empreendimentos informais
empregam um quarto dos trabalhadores das áreas urbanas no
Brasil, mas o setor perdeu participação no PIB (Produto Interno
Bruto) entre 1997 e 2003 -de 8%
para 6%-, e a renda das firmas e
pessoas que estão nesse segmento
também caiu no período.
Tal retrato foi revelado pela pesquisa Economia Informal Urbana, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em parceria com o Sebrae
(Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas).
Pelos dados do instituto, a economia informal abriga 10,336 milhões de firmas (9,1% a mais do
que em 1997), ou 98% do total de
empresas com até cinco pessoas
ocupadas (10,525 milhões).
As firmas informais, por sua
vez, ocupam 13,861 milhões de
pessoas -7,7% a mais do que em
1997. A alta foi proporcionalmente maior do que a expansão no período do total de pessoas ocupadas nas cidades: 4%.
O IBGE pesquisou empreendimentos informais, e não o trabalho informal, um conceito mais
amplo e mais difundido, que inclui também pessoas ocupadas
informalmente em firmas que são
regulares. Segundo o IBGE, o rendimento médio dos trabalhadores do setor informal (conta própria, empregadores e empregados) caiu 3%, ao passar de R$ 374
em 1997 para R$ 363 em 2003. Se
considerados só os empregadores, a renda sobe para R$ 753, ainda assim 14,4% menor do que em
1997 (R$ 880).
Já a receita média mensal das
firmas informais caiu de R$ 2.183
para R$ 1.754 entre 97 e 2003
-uma retração de 19,7%. Juntas,
todas as empresas informais
(aquelas que têm de uma a cinco
pessoas trabalhando e não separam sua contabilidade da do dono
do empreendimento) geravam
mensalmente, em 2003, um faturamento de R$ 17,590 bilhões,
12,4% menos do que em 1997
-R$ 20,070 bilhões.
Para Angela Jorge, chefe da
Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE, a economia informal perdeu espaço no PIB,
mas sua "maior importância"
econômica não é na geração de riqueza, e sim na sua grande capacidade de acolher trabalhadores.
"A economia informal é importante porque cria oportunidade
de trabalho para pessoas que poderiam estar pressionando ainda
mais o mercado formal, de um lado, e os programas de transferência de renda do governo, do outro", disse ela. Para Luís Carlos
Barbosa, diretor-técnico do Sebrae, o mercado informal vive um
período de saturação, com forte
concorrência entre os empreendedores e poucos clientes. Em
2003, com a crise econômica e a
retração do consumo, a situação
ficou ainda mais difícil, afirma.
Em 2003, menos firmas eram
lucrativas -73% obtiveram lucro, contra 93% seis anos antes.
Apesar do recuo de ganhos e rendimentos, os dados mostram que
as pessoas permanecem muito
tempo no setor informal: 31% das
pessoas que tinham seu negócio
estavam na informalidade havia
mais de dez anos -apenas 12%
possuíam o empreendimento havia menos de um ano.
Regionalmente, São Paulo concentrava o maior número de empresas informais: 25% do total. Na
seqüência, apareciam Minas Gerais (10,2%) e Rio (8,4%).
Por conta própria
Aquele trabalhador que desenvolve sozinho o seu negócio, o
chamado "conta-própria", é
maioria entre os informais: 69%
do total de pessoas ocupadas no
setor em 2003. O restante dos trabalhadores dos empreendimentos informais se distribui da seguinte forma: 10% eram empregadores, 10% empregados sem
carteira assinada, 6% empregados
com carteira assinada e 5% não-remunerados -ajudantes sem
salário, em geral mulheres ou filhos do dono da empresa.
Um dado da pesquisa mostra o
vínculo entre empresa informal e
família: só 65% das atividades
produtivas eram desenvolvidas
fora do domicílio. A grande maioria (95%) das firmas tinha apenas
um único proprietário, de acordo
com o IBGE. Do total de empresas
informais, 88% não tinham constituição jurídica -ou seja, não
existiam legalmente, sem ter registro no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica).
Custos elevados dos registros e
impostos e a pesada burocracia
para a abertura de uma empresa
são os principais entraves apontados pelos empreendedores que
pretendem regularizar sua situação, diz o Sebrae. Porém 7,4 milhões de empresas nem haviam
tentado se regularizar em 2003.
Para Barbosa, do Sebrae, o ideal
seria que todas essas firmas se tornassem legais, ampliando o seu
acesso ao crédito e, conseqüentemente, suas chances de diversificação e expansão. Um passo significativo para aumentar a formalização, diz ele, é o projeto de lei
em tramitação no Congresso que
cria a pré-empresa, facilitando a
instalação de firmas com faturamento de até R$ 36 mil ao ano.
Em 2002 (último dado disponível), havia cerca de 4,5 milhões de
empresas formais, com CNPJ, segundo o IBGE. O Sebrae estima
que, para cada empresa regular,
existam outras duas informais.
Leia mais sobre a pesquisa de informalidade na
www.folha.com.br/051394
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