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CONTRAPONTO
Tamanho da informalidade depende de metodologia
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia informal pode ser
maior do que a constatada pelo
IBGE, dependendo do conceito
utilizado para identificar esse
mercado, na avaliação de economistas consultados pela Folha.
Para Marcio Pochmann, economista e professor da Unicamp, a
economia informal registrada pelo IBGE "parece pequena porque
leva em conta o conceito legal".
"Se uma empresa possui licença
para operar e paga imposto, é formal para o conceito do IBGE.
Mas, do ponto de vista da dinâmica econômica, pode ser informal,
mesmo pagando imposto", diz.
Se uma pesquisa considerar o
grau de organização de uma empresa para competir no mercado
(não apenas o fato de ela ter registro ou não), como o fato de ela ter
condições para competir e crescer, a informalidade pode ser
maior. "O informal pode ser o
não-organizado, o que opera sem
visar lucro, o que existe só para
sobreviver, mesmo se tiver registro. Se consideramos esse conceito, a informalidade pode ser muito maior no país", afirma.
Para Pochmann, a pesquisa de
informalidade do IBGE não está
equivocada, mas é uma maneira
simplificada de medir esse mercado. "É um critério que parte da
existência ou não da constituição
jurídica. Quantas micro empresas, por exemplo, abrem com registro e depois quebram porque
não têm organização?", afirma.
As ONGs (organizações não-governamentais), segundo avaliação do economista, são reconhecidas como empresas porque pagam impostos. "Mas não visam
lucro e não geram valor do ponto
de vista de dinâmica econômica,
o que pode, considerando outro
conceito, estar do lado informal."
Na sua análise, a pesquisa do IBGE mostrou a precariedade do
pessoal ocupado, com o aumento
do desemprego e a queda da renda média no período de 1997 a
2003. "A economia informal cresceu justamente quando a economia não foi bem. Sem renda e política social, o trabalhador fez
qualquer coisa para sobreviver."
Para Alex Agostini, economista
da GRC Visão, a pesquisa feita pelo IBGE reflete o que ocorre nas
ruas e nas principais cidades do
país. "Cada instituto tem a sua
metodologia. O conceito empregado, de que uma empresa informal é aquela que não tem um sistema de contas separado das contas da família, mesmo que tenha
um CNPJ, é claro porque demonstra que informal é aquele
que não cumpre com as obrigações fiscais. Não vi algo tão amplo
sobre informalidade como essa
radiografia feita pelo IBGE", diz.
Na opinião do economista da
GRC Visão, a pesquisa revela a
fragilidade da economia brasileira. "Considerar que um quarto da
força de trabalho está na economia informal é um fato que assusta. E também nos deixa ainda
mais refém do mercado externo.
A tendência é que a economia informal se amplie, o que traz reflexos negativos na renda e no consumo. Dessa forma, o crescimento do país não se sustenta pelo seu
mercado interno, mas sim pelas
exportações. Por isso, ficamos reféns dessa situação", afirma.
Agostini destaca que, para conter a expansão da informalidade,
as reformas tributária e trabalhista são urgentes. "A carga tributária elevada no país, a burocracia e
os juros altos empurram as empresas para a informalidade. O
desemprego, por sua vez, empurra o trabalhador para o emprego
informal, porque ele precisa de
renda. Só que, com essa renda
mais baixa paga pelo trabalho informal, compra menos", diz.
Proposta
O comércio, um dos setores em
que é grande a informalidade,
criou uma Frente Parlamentar de
Apoio à Pequena e Micro Empresa para defender a criação de leis
que ajudem o segmento no combate à informalidade. "O governo
poderia contribuir para a criação
de empresas, reduzindo as exigências burocráticas nos primeiros anos de vida do pequeno empreendimento, permitindo sua
autocapitalização e crescimento",
diz Abram Szajman, presidente
da Fecomercio SP. A entidade pede ainda a criação de um Poupatempo do Empresário.
(FF e CR)
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