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Índices apontam melhor momento do país
Segundo estudo controverso e contestado, país tem posição melhor agora do que no milagre econômico dos anos 70
Muitos empresários e analistas vêem a alta carga tributária e a necessidade de reformas como obstáculos à expansão sustentável
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil vive o melhor momento econômico de sua história, superior até à época do milagre econômico dos anos 70. A
tese, controvertida e contestada, é defendida pela consultoria
Tendências, baseada nos mais
recentes indicadores macroeconômicos e de produção e
consumo.
Entre os dados analisados estão a evolução dos juros, do risco Brasil e do dólar em queda.
Bem como o aumento do crédito, as vendas no varejo e a produção industrial de várias áreas
(veja quadro à B6). Segundo a
Tendências, todos esses indicadores têm trajetória positiva.
Além disso, para a consultoria, o país hoje colhe os frutos
de reformas feitas nos últimos
20 anos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, as reformas
da Previdência de 1995 e 2003,
a nova lei de falências e as privatizações, entre outras.
"É claro que não crescemos
em termos absolutos o mesmo
que na época do milagre econômico", afirma Ana Carla Abrão
Costa, economista-chefe da
Tendências. "Porém, nos anos
70, o crescimento era desordenado, sem regras claras, às custas do Estado e no meio de uma
ditadura."
Evidentemente, muitos economistas e empresários discordam da tese. Apontam a alta
carga tributária, a necessidade
de reformas e carências estruturais como impedimentos para uma expansão sustentável.
O ex-ministro Luiz Carlos
Bresser-Pereira, por exemplo,
acredita que o Brasil não atingiu sequer a estabilidade macroeconômica. "Estamos fracassando miseravelmente há
27 anos", afirma Bresser. "Estamos ficando para trás, para trás
e para trás, e faço questão de dizer três vezes, para que não haja sombra de dúvidas."
Os empresários, por sua vez,
que baseiam decisões de investimentos em previsões como a
da Tendências, também não
chegaram a consenso. Mas alguns mostram otimismo.
"A gente sente mais solidez
agora do que na época do milagre e espero que possamos continuar nessa marcha. O milagre
teve muita propaganda, e, depois dele, vivemos o buraco",
diz o empresário Antônio Ermírio de Morais, presidente do
conselho de administração do
grupo Votorantim.
"Não tenho dúvidas de que é
o melhor momento pós-milagre econômico. O que o diferencia é que o momento atual é
mais sustentável, principalmente porque está sendo feito
num ambiente democrático",
diz Roberto Setubal, do Itaú.
"Se o pessoal da Tendências
estiver errado é porque eles estão sendo conservadores",
brinca Luiz Largman, diretor
da construtora Cyrela.
Como Costa, Largman acredita que o Brasil vive uma conjunção de fatores positivos
nunca vivida antes, como economia aberta, commodities em
alta, ganho salarial e inflação
estabilizada. "Temos as maiores reservas cambiais do Brasil
desde Pedro Alvares Cabral."
No primeiro trimestre, a
Cyrela aumentou os lançamentos em 90%, e as vendas, em
não menos que 145%, em relação ao mesmo período de 2006.
A Fiat também vive seu melhor momento, com crescimento nas vendas de 27,2% entre janeiro e abril contra o mesmo período de 2006. Superou
as concorrentes que cresceram,
em média, 22,8% por um motivo simples: apostou no crescimento econômico antes, convocando o terceiro turno.
Com isso, os competidores ficaram sem carros nas lojas e a
Fiat avançou. Mesmo assim, o
presidente da empresa, Cledorvino Belini, não está tão confiante. "O momento favorável
da economia mundial está nos
ajudando", diz Belini. "Precisamos aproveitar para avançar
nas reformas estruturais que
vão assegurar o crescimento
sustentado, independentemente de qualquer aterrissagem americana ou chinesa."
Para o ministro Guido Mantega, "o Brasil vive hoje um círculo virtuoso de crescimento".
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