São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Índices apontam melhor momento do país

Segundo estudo controverso e contestado, país tem posição melhor agora do que no milagre econômico dos anos 70

Muitos empresários e analistas vêem a alta carga tributária e a necessidade de reformas como obstáculos à expansão sustentável

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil vive o melhor momento econômico de sua história, superior até à época do milagre econômico dos anos 70. A tese, controvertida e contestada, é defendida pela consultoria Tendências, baseada nos mais recentes indicadores macroeconômicos e de produção e consumo.
Entre os dados analisados estão a evolução dos juros, do risco Brasil e do dólar em queda. Bem como o aumento do crédito, as vendas no varejo e a produção industrial de várias áreas (veja quadro à B6). Segundo a Tendências, todos esses indicadores têm trajetória positiva.
Além disso, para a consultoria, o país hoje colhe os frutos de reformas feitas nos últimos 20 anos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, as reformas da Previdência de 1995 e 2003, a nova lei de falências e as privatizações, entre outras.
"É claro que não crescemos em termos absolutos o mesmo que na época do milagre econômico", afirma Ana Carla Abrão Costa, economista-chefe da Tendências. "Porém, nos anos 70, o crescimento era desordenado, sem regras claras, às custas do Estado e no meio de uma ditadura."
Evidentemente, muitos economistas e empresários discordam da tese. Apontam a alta carga tributária, a necessidade de reformas e carências estruturais como impedimentos para uma expansão sustentável.
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, por exemplo, acredita que o Brasil não atingiu sequer a estabilidade macroeconômica. "Estamos fracassando miseravelmente há 27 anos", afirma Bresser. "Estamos ficando para trás, para trás e para trás, e faço questão de dizer três vezes, para que não haja sombra de dúvidas."
Os empresários, por sua vez, que baseiam decisões de investimentos em previsões como a da Tendências, também não chegaram a consenso. Mas alguns mostram otimismo.
"A gente sente mais solidez agora do que na época do milagre e espero que possamos continuar nessa marcha. O milagre teve muita propaganda, e, depois dele, vivemos o buraco", diz o empresário Antônio Ermírio de Morais, presidente do conselho de administração do grupo Votorantim.
"Não tenho dúvidas de que é o melhor momento pós-milagre econômico. O que o diferencia é que o momento atual é mais sustentável, principalmente porque está sendo feito num ambiente democrático", diz Roberto Setubal, do Itaú.
"Se o pessoal da Tendências estiver errado é porque eles estão sendo conservadores", brinca Luiz Largman, diretor da construtora Cyrela.
Como Costa, Largman acredita que o Brasil vive uma conjunção de fatores positivos nunca vivida antes, como economia aberta, commodities em alta, ganho salarial e inflação estabilizada. "Temos as maiores reservas cambiais do Brasil desde Pedro Alvares Cabral."
No primeiro trimestre, a Cyrela aumentou os lançamentos em 90%, e as vendas, em não menos que 145%, em relação ao mesmo período de 2006.
A Fiat também vive seu melhor momento, com crescimento nas vendas de 27,2% entre janeiro e abril contra o mesmo período de 2006. Superou as concorrentes que cresceram, em média, 22,8% por um motivo simples: apostou no crescimento econômico antes, convocando o terceiro turno.
Com isso, os competidores ficaram sem carros nas lojas e a Fiat avançou. Mesmo assim, o presidente da empresa, Cledorvino Belini, não está tão confiante. "O momento favorável da economia mundial está nos ajudando", diz Belini. "Precisamos aproveitar para avançar nas reformas estruturais que vão assegurar o crescimento sustentado, independentemente de qualquer aterrissagem americana ou chinesa."
Para o ministro Guido Mantega, "o Brasil vive hoje um círculo virtuoso de crescimento".


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