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VINICIUS TORRES FREIRE
Uma troca de câmbio liberal
Economista sugere sistema parecido com o de Chile, China, Noruega e Rússia para conter danos da torrente de dólares
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NAS INFINITAS falações dessa
rede varejista de oráculos
que são os economistas de
banco e assemelhados, diz-se que
nada se pode fazer diante da torrente de dólares que entra pelos canos
da economia e de seus efeitos no
câmbio. Tomás Málaga, experimentado economista-chefe do Itaú,
acha, sim, que há alternativas. Málaga sugere que parte das reservas internacionais (ou melhor, parte do
dinheiro que poderia acabar nas reservas) seja destinada a um fundo de
investimentos em papéis de empresas privadas de fora do Brasil.
O Banco Central compra parte
dos dólares que entram no país; os
empilha nas "reservas internacionais". Isto é, as aplica em ativos seguros, na maior parte papéis da dívida pública americana, de risco teórico zero, mas que rendem pouco. A
idéia de Málaga é que o Tesouro
compre "reservas" (divisas em moedas fortes) e as aplique em grandes
empresas, com ótimo crédito (que
não devem dar calote). "Basta de financiar o governo dos EUA com taxas de retorno reduzidas", diz.
As empresas-alvo seriam aquelas
cujo desempenho não depende diretamente do setor de commodities
(produtos básicos, matérias-primas), como as de tecnologia ou serviços. Por quê? Como cerca de metade das exportações brasileiras é
commodity, ou algo assim, há enxurrada de dólares no Brasil quando
o preço das commodities sobe, como nos últimos três, quatro anos, e
seca quando elas despencam. Diz-se
que o preço das commodities vai
continuar alto devido a China e cia.,
mas o Brasil costuma viver dias tristes com o fim desses ciclos altistas.
Ao aplicar em papéis cujo preço
não está associado à variação do preço das commodities, o país como
que criaria um fundo de compensação da seca de moedas fortes decorrente da queda dos preços dos produtos básicos. É uma medida que
pode "livrar a economia e as finanças públicas da maldição da dependência dos recursos naturais", diz
Málaga. Seria como que um modo
de "hedgear" a conta corrente.
Países diferentes como Chile, China, Rússia e Noruega adotam medidas semelhantes. O Chile é muito
mais dependente de commodities
que o Brasil: do cobre, quase 50% de
suas exportações, mais de 20% da
receita do governo (a estatal do cobre é 25% do setor). Mantém fora do
país parte dos dólares das exportações de cobre, o que evita valorizações adicionais do peso, tarefa auxiliada por medidas prudentes como
juro e déficit público baixos. A China
criou uma instituição (fora do Banco
Central) para administrar um fundo
que diversificaria a aplicação de parte de suas reservas de US$ 1 trilhão.
O economista do Itaú sugere ainda que o país pare de fazer "captações" (empréstimos no exterior) e
liquide a dívida antiga e cara (o que
tende a baixar o risco país e atrair
mais dólares, mas ajuda a derrubar
os juros). Juros: "É preciso reduzi-los mais agressivamente", diz.
Claro, Málaga propõe abertura
comercial planejada. Prega que o
governo gerencie de modo "pró-ativo" a bonança financeira. Por
exemplo, acelerando concessões
de serviços públicos (sim, privatização de portos, ferrovias de trem-bala, o que seja) a fim de empregar
os dólares em importações úteis, e
não em comida de gato francesa.
vinit@uol.com.br
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