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YOSHIAKI NAKANO
Apreciação cambial: até quanto?
Temos a profecia que se
auto-realiza: quanto mais se aposta na apreciação, maior será a apreciação cambial
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NÃO HÁ modelos para prever o
comportamento da taxa de
câmbio, e a razão básica é
simples. Com a grande expansão dos
mercados financeiros e sua integração global, a taxa de câmbio é o preço
de um ativo financeiro, a moeda de
um país, pois mais de 99% das operações cambiais são financeiras.
As operações no mercado de câmbio atingem vários trilhões de dólares diariamente para a compra de
ativos e de moeda estrangeiros. São
operações contínuas, com pequenos
ganhos, devido às oscilações da taxa
de câmbio e ganhos de arbitragem
em função do diferencial das taxas
de juros.
Dessa forma, enquanto o Banco
Central do Brasil teimar em manter
a taxa de juros Selic (taxa básica da
economia brasileira) em nível absurdo, fora dos parâmetros internacionais ou com as condições internas da economia brasileira, a taxa de
câmbio continuará a se apreciar.
No quadro atual de fantástica liquidez internacional, já comentado
nesta coluna, temos assistido a sucessivas "bolhas especulativas" com
grandes ou inimagináveis elevações
dos preços de ativos (exemplos mais
recentes: imobiliária nos Estados
Unidos e a ascensão das Bolsas de
Valores dos países emergentes).
Com as absurdas taxas de juros
Selic, de curtíssimo prazo e sem risco, nossa moeda passou a sofrer um
ataque especulativo em que as intervenções do Banco Central não deverão ser capazes de conter sua apreciação.
É importante deixar claro que as
intervenções do Banco Central não
conterão a apreciação do real porque estamos em pleno ataque especulativo. O erro da política cambial
está em ter permitido o surgimento
desse ataque. No atual quadro de
elevação dos preços das commodities, enorme liquidez global e queda
significativa da taxa internacional
de juros de longo prazo, o Banco
Central declarar que nosso regime
de câmbio é de livre flutuação, praticando as mais altas taxas de juros do
mundo, é inominável e sinaliza claramente para os especuladores o espaço para ganhos bilionários.
Ao permitir criar expectativas de
apreciação cambial e que a taxa de
juros permaneceria muito acima
das taxas internacionais, levou o
mercado global a apostar que terá
grandes ganhos e a uma queda-de-braço com o Banco Central, que passou a intervir tardiamente. Nesse
quadro, temos a profecia que se auto-realiza: quanto mais se aposta na
apreciação, maior será a apreciação
cambial.
A questão de difícil resposta é: até
quanto o real se apreciará? A resposta mais plausível é: até quando a taxa
de câmbio atingir o nível que o mercado "convencionou" como piso.
Em situações de incerteza, em que
não há elementos para prever o futuro, os operadores do mercado financeiro formam "convenções" que
passam a servir de referência para
tomada de decisões e recomendação
para seus clientes.
Ouve-se falar no mercado que a
taxa cambial poderá cair até R$ 1,80
e que, quando se aproximar desse
nível, recomendar-se-á parar de
comprar real, e eventualmente inverter as posições. Assim, é provável
que esse seja o piso, que, por "convenção", também poderá mudar.
YOSHIAKI NAKANO , 61, diretor da Escola de Economia de
São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).
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