São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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YOSHIAKI NAKANO

Apreciação cambial: até quanto?


Temos a profecia que se auto-realiza: quanto mais se aposta na apreciação, maior será a apreciação cambial

NÃO HÁ modelos para prever o comportamento da taxa de câmbio, e a razão básica é simples. Com a grande expansão dos mercados financeiros e sua integração global, a taxa de câmbio é o preço de um ativo financeiro, a moeda de um país, pois mais de 99% das operações cambiais são financeiras.
As operações no mercado de câmbio atingem vários trilhões de dólares diariamente para a compra de ativos e de moeda estrangeiros. São operações contínuas, com pequenos ganhos, devido às oscilações da taxa de câmbio e ganhos de arbitragem em função do diferencial das taxas de juros.
Dessa forma, enquanto o Banco Central do Brasil teimar em manter a taxa de juros Selic (taxa básica da economia brasileira) em nível absurdo, fora dos parâmetros internacionais ou com as condições internas da economia brasileira, a taxa de câmbio continuará a se apreciar.
No quadro atual de fantástica liquidez internacional, já comentado nesta coluna, temos assistido a sucessivas "bolhas especulativas" com grandes ou inimagináveis elevações dos preços de ativos (exemplos mais recentes: imobiliária nos Estados Unidos e a ascensão das Bolsas de Valores dos países emergentes).
Com as absurdas taxas de juros Selic, de curtíssimo prazo e sem risco, nossa moeda passou a sofrer um ataque especulativo em que as intervenções do Banco Central não deverão ser capazes de conter sua apreciação.
É importante deixar claro que as intervenções do Banco Central não conterão a apreciação do real porque estamos em pleno ataque especulativo. O erro da política cambial está em ter permitido o surgimento desse ataque. No atual quadro de elevação dos preços das commodities, enorme liquidez global e queda significativa da taxa internacional de juros de longo prazo, o Banco Central declarar que nosso regime de câmbio é de livre flutuação, praticando as mais altas taxas de juros do mundo, é inominável e sinaliza claramente para os especuladores o espaço para ganhos bilionários.
Ao permitir criar expectativas de apreciação cambial e que a taxa de juros permaneceria muito acima das taxas internacionais, levou o mercado global a apostar que terá grandes ganhos e a uma queda-de-braço com o Banco Central, que passou a intervir tardiamente. Nesse quadro, temos a profecia que se auto-realiza: quanto mais se aposta na apreciação, maior será a apreciação cambial.
A questão de difícil resposta é: até quanto o real se apreciará? A resposta mais plausível é: até quando a taxa de câmbio atingir o nível que o mercado "convencionou" como piso.
Em situações de incerteza, em que não há elementos para prever o futuro, os operadores do mercado financeiro formam "convenções" que passam a servir de referência para tomada de decisões e recomendação para seus clientes.
Ouve-se falar no mercado que a taxa cambial poderá cair até R$ 1,80 e que, quando se aproximar desse nível, recomendar-se-á parar de comprar real, e eventualmente inverter as posições. Assim, é provável que esse seja o piso, que, por "convenção", também poderá mudar.


YOSHIAKI NAKANO , 61, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).


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