São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresário quer reforma e menor carga tributária

Embora reconheça momento favorável da economia, setor produtivo defende que ainda há muito a melhorar no país

Reformas da Previdência, tributária e trabalhista estão entre as demandas; política fiscal e câmbio também são criticados

DO COLUNISTA DA FOLHA

Os empresários estão divididos ao avaliar se o Brasil vive ou não o melhor momento econômico da história. Todos admitem que os indicadores são altamente positivos, mas são cautelosos ao comparar a época atual a outras da história, como a do milagre econômico sob o regime militar. A tese é que há ainda muito a se fazer, e o Brasil não pode cruzar os braços.
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, diz que é indiscutível o fato de o Brasil estar vivendo hoje um bom momento, e com muito mais solidez do que na época do milagre econômico. "O milagre teve muita propaganda. Depois do milagre, vivemos o buraco", diz ele. "Só espero que possamos continuar nessa marcha."
Ermírio de Moraes, que comanda um dos grupos que mais investem no país, diz que o otimismo no Brasil com o atual momento é geral, mas espera aumento nas taxas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). "Temos de sair dessa posição de subdesenvolvido."
O banqueiro Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, concorda com Ermírio de Moraes. "Não tenho dúvidas de que vivemos hoje o melhor momento pós-milagre econômico. O que diferencia é que o momento de agora é mais sustentável, principalmente porque está ocorrendo num ambiente democrático."
Desde que o Brasil voltou a viver sob regime democrático, Setubal diz que foram tentadas várias experiências na economia e isso fez com que o país tenha amadurecido.
Setubal vê o futuro com muita confiança. Ele diz que se o país chegou onde está agora não foi idéia de nenhuma pessoa nem de nenhum partido político, mas, sim, fruto de várias experiências que foram amadurecendo com o tempo.
Em relação aos próximos passos, Setubal diz que o país tem que continuar perseverando nessa mesma direção. Ele afirma que o Brasil tem que procurar fazer uma série de aprimoramentos na área fiscal, na área previdenciária, além de outras reformas, como a política e a do Judiciário.

Ceticismo
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho de administração do grupo Gerdau, concorda que o país está vivendo um momento excepcional, principalmente pelo fato de não conviver mais com artificialismos na economia. "O Brasil sempre conviveu com muito artificialismo", afirma Gerdau.
Ele faz algumas ponderações, no entanto, sobre o atual momento. Ele acha que o Brasil melhorou os índices de crescimento ao sair do nível histórico de 2% a 3% para uma faixa entre 4% e 5%, mas o ideal, a seu ver, é que o Brasil venha a buscar taxas de 6% para atender a suas necessidades sociais.
Para isso, o país deveria procurar encontrar fórmulas para aumentar os índices de poupança e de investimentos públicos. "Os índices de investimento e poupança são muito baixos", diz. Ele lembra que o Brasil já atingiu taxas de crescimento de até 10%, mas esse índice foi obtido quando o país possuía um percentual de poupança em relação ao PIB muito maior do que o de hoje.
Gerdau defende também que o governo dê mais liberdade de atuação ao mercado e critica a excessiva carga tributária do país. "O governo deveria deixar o mercado trabalhar mais." Ele acha, por exemplo, que o Banco Central deveria levar mais em consideração os juros fixados pelo mercado. Isso, a seu ver, faria com que os juros fossem mais baixos.
Em relação à sobrevalorização do câmbio, Gerdau acha que o governo deveria também dar mais liberdade para remeter recursos para fora e cobrar imposto do capital que ingressa no país para investir em renda fixa. O que vigora hoje é exatamente o contrário. "No Brasil há liberdade total para a entrada de dinheiro de fora e não há liberdade para a saída de dinheiro", diz ele.
O que mais deixa Gerdau indignado é a carga tributária do país e a destinação desses recursos. "O governo não pode arrecadar 40% do PIB e queimar com burocracia", diz.

Dualidade
Mais cético, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, diz que, dependendo do indicador, o Brasil vive ou não um bom momento.
"Se falarmos em inflação, o Brasil vive um bom momento, se falarmos em estabilidade econômica também, se falarmos em balança comercial, é verdade, mas, se falarmos em relação ao câmbio que temos hoje, já não é verdade, se falarmos em relação à redução de gastos públicos ou em desoneração, ou em reformas estruturais ou em desburocratização, também não é verdade", diz.
Skaf cita também a questão do desenvolvimento, que é outro ponto, a seu ver, em que o Brasil não vive um bom momento. Segundo ele, enquanto o Brasil cresce a um ritmo de 4% ao ano, os países emergentes estão se expandindo a taxas de 7% a 15%.
Para o presidente da Fiesp, outros pontos também deixam a desejar, como o que diz respeito à infra-estrutura e à segurança pública. "Há muitas coisas positivas, mas há também muitas negativas." O país deveria, a seu ver, aproveitar o atual momento para dar partida às reformas tributária, previdenciária e trabalhista.
(GUILHERME BARROS)


Texto Anterior: Yoshiaki Nakano - Apreciação cambial: até quanto?
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.