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Empresário quer reforma e menor carga tributária
Embora reconheça momento favorável da economia, setor produtivo defende que ainda há muito a melhorar no país
Reformas da Previdência, tributária e trabalhista estão entre as demandas; política fiscal e câmbio também são criticados
DO COLUNISTA DA FOLHA
Os empresários estão divididos ao avaliar se o Brasil vive ou
não o melhor momento econômico da história. Todos admitem que os indicadores são altamente positivos, mas são cautelosos ao comparar a época
atual a outras da história, como
a do milagre econômico sob o
regime militar. A tese é que há
ainda muito a se fazer, e o Brasil
não pode cruzar os braços.
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do
grupo Votorantim, diz que é indiscutível o fato de o Brasil estar vivendo hoje um bom momento, e com muito mais solidez do que na época do milagre
econômico. "O milagre teve
muita propaganda. Depois do
milagre, vivemos o buraco", diz
ele. "Só espero que possamos
continuar nessa marcha."
Ermírio de Moraes, que comanda um dos grupos que mais
investem no país, diz que o otimismo no Brasil com o atual
momento é geral, mas espera
aumento nas taxas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). "Temos de sair dessa
posição de subdesenvolvido."
O banqueiro Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú,
concorda com Ermírio de Moraes. "Não tenho dúvidas de
que vivemos hoje o melhor momento pós-milagre econômico.
O que diferencia é que o momento de agora é mais sustentável, principalmente porque
está ocorrendo num ambiente
democrático."
Desde que o Brasil voltou a
viver sob regime democrático,
Setubal diz que foram tentadas
várias experiências na economia e isso fez com que o país tenha amadurecido.
Setubal vê o futuro com muita confiança. Ele diz que se o
país chegou onde está agora
não foi idéia de nenhuma pessoa nem de nenhum partido
político, mas, sim, fruto de várias experiências que foram
amadurecendo com o tempo.
Em relação aos próximos
passos, Setubal diz que o país
tem que continuar perseverando nessa mesma direção. Ele
afirma que o Brasil tem que
procurar fazer uma série de
aprimoramentos na área fiscal,
na área previdenciária, além de
outras reformas, como a política e a do Judiciário.
Ceticismo
O empresário Jorge Gerdau
Johannpeter, presidente do
conselho de administração do
grupo Gerdau, concorda que o
país está vivendo um momento
excepcional, principalmente
pelo fato de não conviver mais
com artificialismos na economia. "O Brasil sempre conviveu
com muito artificialismo", afirma Gerdau.
Ele faz algumas ponderações,
no entanto, sobre o atual momento. Ele acha que o Brasil
melhorou os índices de crescimento ao sair do nível histórico
de 2% a 3% para uma faixa entre 4% e 5%, mas o ideal, a seu
ver, é que o Brasil venha a buscar taxas de 6% para atender a
suas necessidades sociais.
Para isso, o país deveria procurar encontrar fórmulas para
aumentar os índices de poupança e de investimentos públicos. "Os índices de investimento e poupança são muito
baixos", diz. Ele lembra que o
Brasil já atingiu taxas de crescimento de até 10%, mas esse índice foi obtido quando o país
possuía um percentual de poupança em relação ao PIB muito
maior do que o de hoje.
Gerdau defende também que
o governo dê mais liberdade de
atuação ao mercado e critica a
excessiva carga tributária do
país. "O governo deveria deixar
o mercado trabalhar mais." Ele
acha, por exemplo, que o Banco
Central deveria levar mais em
consideração os juros fixados
pelo mercado. Isso, a seu ver,
faria com que os juros fossem
mais baixos.
Em relação à sobrevalorização do câmbio, Gerdau acha
que o governo deveria também
dar mais liberdade para remeter recursos para fora e cobrar
imposto do capital que ingressa
no país para investir em renda
fixa. O que vigora hoje é exatamente o contrário. "No Brasil
há liberdade total para a entrada de dinheiro de fora e não há
liberdade para a saída de dinheiro", diz ele.
O que mais deixa Gerdau indignado é a carga tributária do
país e a destinação desses recursos. "O governo não pode
arrecadar 40% do PIB e queimar com burocracia", diz.
Dualidade
Mais cético, o presidente da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
Paulo Skaf, diz que, dependendo do indicador, o Brasil vive ou
não um bom momento.
"Se falarmos em inflação, o
Brasil vive um bom momento,
se falarmos em estabilidade
econômica também, se falarmos em balança comercial, é
verdade, mas, se falarmos em
relação ao câmbio que temos
hoje, já não é verdade, se falarmos em relação à redução de
gastos públicos ou em desoneração, ou em reformas estruturais ou em desburocratização,
também não é verdade", diz.
Skaf cita também a questão
do desenvolvimento, que é outro ponto, a seu ver, em que o
Brasil não vive um bom momento. Segundo ele, enquanto
o Brasil cresce a um ritmo de
4% ao ano, os países emergentes estão se expandindo a taxas
de 7% a 15%.
Para o presidente da Fiesp,
outros pontos também deixam
a desejar, como o que diz respeito à infra-estrutura e à segurança pública. "Há muitas coisas positivas, mas há também
muitas negativas." O país deveria, a seu ver, aproveitar o atual
momento para dar partida às
reformas tributária, previdenciária e trabalhista.
(GUILHERME BARROS)
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