São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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EUA elevam restrições às operadoras de cartões de crédito

Para fazer caixa, empresas aumentam juros; cliente em dia pagará pelos inadimplentes, diz associação

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Em nova medida para tentar enquadrar o setor financeiro nos EUA, o Senado norte-americano aprovou ontem por larga maioria (90 a 5) novas restrições às operações das empresas de cartões de crédito. O pacote favorece a maior parte dos consumidores e foi incentivado pelo presidente Barack Obama.
As mudanças são praticamente iguais às aprovadas na Câmara no final de abril (por 357 votos a 70). Agora, as duas proposições devem ser ajustadas entre si e ir à sanção presidencial antes do final do mês.
Entre as medidas, as operadoras ficam proibidas de elevar juros sobre dívidas existentes, a não ser que o usuário tenha 60 dias ou mais de atraso; qualquer aumento de taxas deve ser informado com 45 dias de antecedência, mas não haverá limite para os juros; e pessoas abaixo de 21 anos (ou seus responsáveis) terão de provar ter condições de assumir dívidas.
Assim como várias outras áreas do setor financeiro, a indústria de cartões passa por uma crise nos EUA. Por isso, vem aumentando juros e tarifas cobradas de seus usuários (mesmo os bons pagadores) para cobrir rombos e fazer caixa.
Ao mesmo tempo, houve um corte na oferta de crédito. Em março, o financiamento ao consumo nos EUA sofreu contração de 5,2% sobre março de 2008, a maior queda anual desde 1990. Em termos absolutos, US$ 11,1 bilhões em créditos foram retirados da economia.
O presidente do Comitê de Bancos do Senado, o democrata Christopher Dodd, qualificou as recentes ações das empresas "como um assalto que ganha maiores proporções a cada hora". Os bancos terão nove meses para se adaptar às medidas.
O endividamento norte-americano via cartões de crédito cresceu 25% nesta década. Hoje, apenas um terço dos usuários (cerca de 50 milhões de pessoas) está em dia com seus pagamentos.
Por ano, os americanos pagam mais de US$ 15 bilhões em multas por atrasos, o que equivale a cerca de 10% do faturamento do setor. Quatro instituições (JPMorgan Chase, Bank of America, American Express e Discover) respondem por 80% do negócio.

Inadimplência
Com a atual recessão e o aumento do desemprego, a inadimplência nos cartões explodiu. Em 2009, a expectativa é que 9% das dívidas não sejam pagas. As perdas estimadas pelo setor chegam a US$ 82 bilhões nos próximos dois anos.
A American Bankers Association (ABA, a Febraban do país) estima que as medidas aprovadas cortarão cerca de US$ 12 bilhões de receitas das empresas. E que podem provocar uma diminuição ou corte do crédito para usuários com histórico de atrasos. E aumento de juros para os bons pagadores.
"Aqueles que administram seus cartões de crédito em dia vão acabar, de uma forma ou de outra, subsidiando os que não fazem isso", disse Edward Yingling, presidente da ABA. Cerca de 20% dos usuários de cartões no país pagam juros superiores a 20% ao ano -numa economia de juro básico próximo de zero.

Ajuda estatal
O Fed (banco central dos EUA) anunciou ontem que não haverá nenhuma decisão, pelo menos até 8 de junho, para que os bancos comecem a devolver parte da ajuda estatal que receberam desde o agravamento da crise, em setembro de 2008.
Nos últimos dias, vários bancos vêm pressionando o governo para devolver os fundos. O objetivo é se livrarem das restrições impostas contra eles, como tetos para os salários de seus executivos.


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