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EUA elevam restrições às operadoras de cartões de crédito
Para fazer caixa, empresas aumentam juros; cliente em dia pagará pelos inadimplentes, diz associação
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Em nova medida para tentar
enquadrar o setor financeiro
nos EUA, o Senado norte-americano aprovou ontem por larga maioria (90 a 5) novas restrições às operações das empresas
de cartões de crédito. O pacote
favorece a maior parte dos consumidores e foi incentivado pelo presidente Barack Obama.
As mudanças são praticamente iguais às aprovadas na
Câmara no final de abril (por
357 votos a 70). Agora, as duas
proposições devem ser ajustadas entre si e ir à sanção presidencial antes do final do mês.
Entre as medidas, as operadoras ficam proibidas de elevar
juros sobre dívidas existentes, a
não ser que o usuário tenha 60
dias ou mais de atraso; qualquer aumento de taxas deve ser
informado com 45 dias de antecedência, mas não haverá limite para os juros; e pessoas abaixo de 21 anos (ou seus responsáveis) terão de provar ter condições de assumir dívidas.
Assim como várias outras
áreas do setor financeiro, a indústria de cartões passa por
uma crise nos EUA. Por isso,
vem aumentando juros e tarifas cobradas de seus usuários
(mesmo os bons pagadores) para cobrir rombos e fazer caixa.
Ao mesmo tempo, houve um
corte na oferta de crédito. Em
março, o financiamento ao
consumo nos EUA sofreu contração de 5,2% sobre março de
2008, a maior queda anual desde 1990. Em termos absolutos,
US$ 11,1 bilhões em créditos foram retirados da economia.
O presidente do Comitê de
Bancos do Senado, o democrata
Christopher Dodd, qualificou
as recentes ações das empresas
"como um assalto que ganha
maiores proporções a cada hora". Os bancos terão nove meses para se adaptar às medidas.
O endividamento norte-americano via cartões de crédito cresceu 25% nesta década.
Hoje, apenas um terço dos
usuários (cerca de 50 milhões
de pessoas) está em dia com
seus pagamentos.
Por ano, os americanos pagam mais de US$ 15 bilhões em
multas por atrasos, o que equivale a cerca de 10% do faturamento do setor. Quatro instituições (JPMorgan Chase,
Bank of America, American Express e Discover) respondem
por 80% do negócio.
Inadimplência
Com a atual recessão e o aumento do desemprego, a inadimplência nos cartões explodiu. Em 2009, a expectativa é
que 9% das dívidas não sejam
pagas. As perdas estimadas pelo setor chegam a US$ 82 bilhões nos próximos dois anos.
A American Bankers Association (ABA, a Febraban do
país) estima que as medidas
aprovadas cortarão cerca de
US$ 12 bilhões de receitas das
empresas. E que podem provocar uma diminuição ou corte do
crédito para usuários com histórico de atrasos. E aumento de
juros para os bons pagadores.
"Aqueles que administram
seus cartões de crédito em dia
vão acabar, de uma forma ou de
outra, subsidiando os que não
fazem isso", disse Edward Yingling, presidente da ABA. Cerca
de 20% dos usuários de cartões
no país pagam juros superiores
a 20% ao ano -numa economia
de juro básico próximo de zero.
Ajuda estatal
O Fed (banco central dos
EUA) anunciou ontem que não
haverá nenhuma decisão, pelo
menos até 8 de junho, para que
os bancos comecem a devolver
parte da ajuda estatal que receberam desde o agravamento da
crise, em setembro de 2008.
Nos últimos dias, vários bancos vêm pressionando o governo para devolver os fundos. O
objetivo é se livrarem das restrições impostas contra eles,
como tetos para os salários de
seus executivos.
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