São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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Visita de Lula à China traz poucos avanços ao Brasil

País não reverte cancelamento da compra de aviões nem remove barreiras a carnes

Brasil só comemorou a liberação das exportações de frango à China, aprovada em 2008, mas que ainda não acontece na prática


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Com exceção de um acordo entre Petrobras e China, já anunciado em fevereiro, e a possível liberação da entrada de carne de frango brasileira no país, aprovada no ano passado, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu avançar várias pendências da agenda.
O cancelamento da compra de 45 aviões modelo 190 da Embraer, anunciada em 2006 pelos chineses, mas cancelada em novembro passado, não foi revertida, apesar de Lula ter falado do assunto ao menos três vezes com os anfitriões.
As barreiras chinesas contra as carnes suína e bovina do Brasil não foram removidas -as negociações se arrastam desde 2005. O governo brasileiro queria fazer o lado chinês aprovar a liberação para tentar diversificar a pauta brasileira, hoje concentrada em soja e ferro.
Brasil e China anunciaram ontem a criação de um plano quinquenal de metas, aos moldes dos adotados pelo regime comunista chinês, para criar uma pauta comum em áreas como comércio, finanças, educação e ciência e tecnologia.
O plano será discutido e criado no segundo semestre, em reunião em Brasília, para funcionar entre 2010 e 2014. A responsabilidade pela criação será da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Coordenação (Cosban). Criada em 2004, ela só teve duas reuniões até agora, em 2006 e em abril passado.
Lula disse em discursos ontem que estava "empenhado em diversificar o comércio bilateral" e em aumentar as "possibilidades de investimentos".
Apesar dos desencontros comerciais, o discurso político foi afinado. Diante de elogios do presidente chinês, Hu Jintao, e do primeiro-ministro, Wen Jiabao, pela nova relevância internacional do Brasil, e menção à popularidade de Lula pelo vice-presidente chinês, Xi Jinping, provável sucessor de Hu, Lula destacou várias similaridades entre os dois países.
"Brasil e China estão dando respostas a uma crise que não criamos, apresentam-se como alternativas, [são] países que souberam manter reservas, cuidar da macroeconomia e que não temem a crise. Os dois países vão escrever uma nova história da humanidade neste século e nunca mais serão esquecidos nas rodas de conversas dos ricos." E acrescentou: "China e Brasil já são mais importantes hoje do que alguns podem pensar. Estamos aprendendo a gostar de ser ricos. Temos satisfação de saber que somos grandes e importantes."
Lula voltou a sugerir a "inadiável reforma da organização que zela pela segurança no mundo, que deixaria o Conselho de Segurança da ONU mais democrático e eficaz". Membro permanente, a China não apoia a ampliação do conselho.

Frango em alta
Um dos raros pontos da agenda que foram comemorados pelo lado brasileiro é a liberação das exportações de frango brasileiro à China, aprovada no ano passado, mas que ainda não acontece na prática.
Os produtores brasileiros vão começar a exportar frangos já na próxima semana, segundo Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos. "Desta vez não vai ter mais burocracia e é interesse dos chineses. A China é o segundo maior produtor mundial, com 12,5 milhões de toneladas por ano. Eles precisam consumir mais porque é fonte de proteína barata, devem importar 1 milhão de toneladas a mais por ano", disse Turra.
Estima-se que o consumo cresça 10% ao ano na China -os chineses comem 10 quilos de carne de frango por ano, contra 41 quilos dos brasileiros.

Consulado e satélite
Lula também anunciou que será aberto até o final do ano o Consulado brasileiro em Guangzhou (antiga Cantão), a terceira maior cidade da China. O consulado já tinha sido anunciado no ano passado.
Hoje, último dia da visita, Lula visitará a Agência Chinesa de Tecnologia Espacial para ver um satélite em construção pelos dois países. Deve ser anunciado que as imagens do satélite começarão a ser compartilhadas com países africanos.


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