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Visita de Lula à China traz poucos avanços ao Brasil
País não reverte cancelamento da compra de aviões nem remove barreiras a carnes
Brasil só comemorou a liberação das exportações de frango à China, aprovada em 2008, mas que ainda
não acontece na prática
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Com exceção de um acordo
entre Petrobras e China, já
anunciado em fevereiro, e a
possível liberação da entrada
de carne de frango brasileira no
país, aprovada no ano passado,
a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu
avançar várias pendências da
agenda.
O cancelamento da compra
de 45 aviões modelo 190 da
Embraer, anunciada em 2006
pelos chineses, mas cancelada
em novembro passado, não foi
revertida, apesar de Lula ter falado do assunto ao menos três
vezes com os anfitriões.
As barreiras chinesas contra
as carnes suína e bovina do Brasil não foram removidas -as
negociações se arrastam desde
2005. O governo brasileiro
queria fazer o lado chinês aprovar a liberação para tentar diversificar a pauta brasileira, hoje concentrada em soja e ferro.
Brasil e China anunciaram
ontem a criação de um plano
quinquenal de metas, aos moldes dos adotados pelo regime
comunista chinês, para criar
uma pauta comum em áreas
como comércio, finanças, educação e ciência e tecnologia.
O plano será discutido e criado no segundo semestre, em
reunião em Brasília, para funcionar entre 2010 e 2014. A responsabilidade pela criação será
da Comissão Sino-Brasileira de
Alto Nível de Concertação e
Coordenação (Cosban). Criada
em 2004, ela só teve duas reuniões até agora, em 2006 e em
abril passado.
Lula disse em discursos ontem que estava "empenhado
em diversificar o comércio bilateral" e em aumentar as "possibilidades de investimentos".
Apesar dos desencontros comerciais, o discurso político foi
afinado. Diante de elogios do
presidente chinês, Hu Jintao, e
do primeiro-ministro, Wen
Jiabao, pela nova relevância internacional do Brasil, e menção
à popularidade de Lula pelo vice-presidente chinês, Xi Jinping, provável sucessor de Hu,
Lula destacou várias similaridades entre os dois países.
"Brasil e China estão dando
respostas a uma crise que não
criamos, apresentam-se como
alternativas, [são] países que
souberam manter reservas,
cuidar da macroeconomia e
que não temem a crise. Os dois
países vão escrever uma nova
história da humanidade neste
século e nunca mais serão esquecidos nas rodas de conversas dos ricos." E acrescentou:
"China e Brasil já são mais importantes hoje do que alguns
podem pensar. Estamos aprendendo a gostar de ser ricos. Temos satisfação de saber que somos grandes e importantes."
Lula voltou a sugerir a "inadiável reforma da organização
que zela pela segurança no
mundo, que deixaria o Conselho de Segurança da ONU mais
democrático e eficaz". Membro
permanente, a China não apoia
a ampliação do conselho.
Frango em alta
Um dos raros pontos da
agenda que foram comemorados pelo lado brasileiro é a liberação das exportações de frango brasileiro à China, aprovada
no ano passado, mas que ainda
não acontece na prática.
Os produtores brasileiros
vão começar a exportar frangos
já na próxima semana, segundo
Francisco Turra, presidente da
Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de
Frangos. "Desta vez não vai ter
mais burocracia e é interesse
dos chineses. A China é o segundo maior produtor mundial, com 12,5 milhões de toneladas por ano. Eles precisam
consumir mais porque é fonte
de proteína barata, devem importar 1 milhão de toneladas a
mais por ano", disse Turra.
Estima-se que o consumo
cresça 10% ao ano na China
-os chineses comem 10 quilos
de carne de frango por ano,
contra 41 quilos dos brasileiros.
Consulado e satélite
Lula também anunciou que
será aberto até o final do ano o
Consulado brasileiro em
Guangzhou (antiga Cantão), a
terceira maior cidade da China.
O consulado já tinha sido anunciado no ano passado.
Hoje, último dia da visita, Lula visitará a Agência Chinesa de
Tecnologia Espacial para ver
um satélite em construção pelos dois países. Deve ser anunciado que as imagens do satélite começarão a ser compartilhadas com países africanos.
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