São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
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POLÍTICA MONETÁRIA
Armínio Fraga pode decidir novo corte das taxas antes da próxima reunião do Copom, dia 23 de junho
Juro cai para 23,5%; viés de baixa continua

da Sucursal de Brasília

O Banco Central anunciou nova redução dos juros básicos da economia, que caem a partir de hoje de 27% para 23,5% anuais, e sinalizou que poderá voltar a baixar a taxa nas próximas semanas.
A tendência de queda dos juros foi indicada pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que se reuniu ontem. Além de baixar os juros básicos, manteve o viés de baixa para a taxa.
Esse mecanismo autoriza o presidente do BC, Armínio Fraga, a reduzir os juros quando considerar conveniente, a seu exclusivo critério, sem esperar pela próxima reunião do Copom, marcada para o dia 23 de junho.
O Copom é um conselho formado por diretores (com direito a voto) e chefes de departamento do BC que se reúne em intervalos de cinco ou seis semanas para definir a trajetória dos juros básicos.
A queda dos juros de ontem confirmou as expectativas do mercado financeiro, que de forma geral apostava na fixação da taxa Selic em um intervalo entre 23% e 25% ao ano.
A Selic é a média das taxas usadas pelos bancos em empréstimos por um dia vinculados a títulos federais. Os bancos tomam e concedem empréstimos de curtíssimo prazo para fechar o caixa no final do dia. O BC é o principal participante desse mercado e tem grande influência sobre a Selic.

Sétima redução
Foi a sétima redução da meta da Selic desde a desvalorização do real, em janeiro passado, quando o BC promoveu um choque de juros para conter pressões inflacionárias.
Os juros básicos, que antes da desvalorização oscilavam em torno de 29% anuais, foram elevados pelo BC em vários movimentos seguidos, até atingir 45% anuais.
Em 24 de março o BC começou a baixar os juros, pois, na sua avaliação, não se confirmaram os sinais que indicavam alta da inflação.
Segundo o BC, a baixa dos juros também é justificada pelo retomada dos fluxos de capitais estrangeiros para o Brasil e pelos resultados que considera positivos nas estatísticas do déficit público.
A Selic é conhecida como a taxa básica da economia porque as instituições financeiras a utilizam como referência para fixar os juros de suas operações com clientes.
Com a nova redução da Selic, devem cair os rendimentos das principais aplicações financeiras, como fundos de renda fixa, caderneta de poupança e CDBs.

Consumidor
Teoricamente, também deveriam cair os juros cobrados pelas instituições financeiras em cartões de créditos, cheques especiais e crédito ao consumidor.
Mas, na prática, essas taxas não vêm caindo proporcionalmente à redução da Selic. De forma geral, os bancos alegam altos custos e inadimplência em seus créditos.
O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse que a expectativa do governo é que os juros reais (descontada a inflação) fiquem em menos de 10% até o final do ano.
A queda dos juros é considerada fundamental para a retomada do crescimento econômico. Os juros têm forte influência sobre a atividade econômica e o emprego.
De forma geral, quando os juros ficam mais baixos, as empresas investem mais e criam empregos. Quando a taxa é alta, ocorre o inverso.

Viés do Fed
Anteontem, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, havia dito que o viés de alta indicado para os juros básicos dos Estados Unidos pelo Fed (o banco central dos EUA) não iria influenciar a decisão do Copom, como de fato aconteceu.
Um dos fatores que torna a política monetária do país mais independente é a flutuação do câmbio. Porém, se os juros norte-americanos subirem, certa influência deverá causar na próxima reunião do Copom.


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